"S'imbora, Americano", foi o título, na época, da matéria de Péris Ribeiro que a revista Placar publicava, dando conta, para os torcedores do resto do Brasil, da existência do Americano, cuja origem é discutida até mesmo por alguns de seus mais devotados adeptos. Sabe-se, a respeito, que a idéia do seu nome teria surgido num bar, cujos proprietários torciam pelo América, do Rio de Janeiro, e onde um grupo de rapazes privilegiados se reunia após o que chamavam de jogos, no início de 1914.
Carlos Barroso, primeiro presidente do Americano, com retrato grande pregado numa das paredes da sede do clube, comentava alguns anos atrás que não se lembrava tanto daqueles primeiros dias, mas insistia em dizer que o alvinegro não era de 1º de junho de 1914 e sim de 3 de maio, "na época, feriado nacional".
O Monitor Campista, edição de 2 de maio de 1914, escrevia o seguinte:
"Comunica-nos o Sr. Heitor Silva, 2º Secretário do Americano Futebol Clube, recentemente fundado nesta cidade, a eleição de sua Diretoria, que ficou assim organizada: Presidente, Carlos Barroso; Vice-Presidente, Nataniel Galvão; 1º e 2º Tesoureiros, João Henriques e Artur Pinheiro; Comissão de Finanças, Heitor Manhães, Augusto Santos e Inácio Nogueira; Comissão de Sindicância, Abílio Alves, José Olímpio e José Sabino; Diretor Esportivo, Fernando Cretela; Captain, Alfredo Rosas; Procurador, Raul Chagas".
O mesmo jornal, edição de 14 de maio, escrevia que "na Coroa, no campo do Luso-Brasileiro, jogou pela primeira vez o Americano Futebol Clube, que teve como adversário o Rio Branco. A estréia desse clube foi esplêndida, pois começou marcando duas vitórias. O seu primeiro time ganhou do seu contendor pelo escore de 4 a 1, e o segundo venceu o seu antagonista pelo escore de 3 a 0".
A Folha do Comércio de 2 de maio de 1914 publicava nota dando conta da fundação do Americano, ocorrida a 23 de abril, e anunciando a diretoria citada no Monitor Campista do mesmo dia. A diferença é que para a Folha do Comércio, o novo clube chamava-se América, o que dever ter sido erro do seu cronista, ainda preocupado com a visita a Campos do time do América, do Rio de Janeiro.
Sobre o assunto, o almanaque de Nilo Terra Arêas dizia, ainda, que "corria o ano de 1914. No mês de abril estava programada a vinda a Campos do América Futebol Clube, do Rio de Janeiro, para disputar uma peleja contra um combinado campista. Na ocasião do jogo, porém, surgiu sério impasse, pois o professor Múcio da Paixão, presidente da Liga Campista de Futebol, exigiu que o combinado de nossa terra tivesse em seu seio dois jogadores de cada time. Com isso não concordaram os entendidos, uma vez que o critério melhor a ser adotado seria o da escolha dos melhores jogadores de cada time. Se um clube possuísse mais de dois jogadores em condições técnicas para integrar o selecionado deveria ter garantida a inclusão dos mesmos no escrete. Na hipótese, porém, de uma agremiação futebolística não ter nenhum dos seus craques deveria ser convocado para a peleja. Figuravam entre os que defendiam a tese da convocação dos melhores, sem se ater a detalhe inócuo e inconseqüente da escolha de dois jogadores de cada time, três grandes craques do futebol campista do passado. Eram eles, Luiz Pamplona, do Rio Branco, Nélson Póvoa, do Aliança e Sinhô Campos, do Luso-Brasileiro, que se reuniram no Caldo do Zeca Póvoa, na Santos Dumont, onde decidiram levar ao presidente da Liga a escalação do time ideal. Múcio da Paixão não só não aceitou a proposta como também ameaçou suspender os clubes que fornecessem jogadores para formar o escrete durante o espaço de um ano. Com isso, os clubes retiraram o apoio aos jogadores que se batiam para a formação de um bom escrete. Esses, contudo, resolveram organizar um bom time e jogar de qualquer maneira com o América, o que ocorreu na data programada, apesar dos protestos de Múcio da Paixão. Curioso é que além de disputar a partida com o verdadeiro escrete de Campos, o América, um dia antes, goleava de 6 a 0 o quadro formado pela teimosia de Múcio da Paixão. O verdadeiro escrete campista também perdeu, mas de 3 a 1 para o campeão carioca que aqui se apresentou com Casimiro; Belfort Duarte e Bertoni I; Bertoni II, Jonatas e Badu; Waite, Juquinha, Ojeda, Wesmann e Parras. A formação local contou com José; Cretela e Santos; Plínio, Nélson Póvoa e Rossine; Heitor, Pamplona I, Sinhô Campos, Pamplona II e Begnardi. A intransigência de Múcio da Paixão teve, na verdade, um grande mérito do qual ninguém suspeitava: o aparecimento de mais um clube de futebol em Campos".
Nilo Terra Arêas, em seu almanaque, dizia também que Belfort Duarte, jogador do América, fez, na oportunidade, uma conferência no salão do Hotel Internacional, ocasião em que soube da idéia do surgimento de mais uma agremiação no lugar. Pediu, então, que o novo clube se chamasse América Futebol Clube, com o que concordaram os presentes. Quis, porém, o destino, que isso não ocorresse. É que os irmãos Bertoni, uruguaios que integravam o time carioca, convidados pelos irmãos Pamplona para passarem uma semana em Campos, sugeriram que o novo clube se chamasse Americano Futebol Clube, "pois já haviam jogado em São Paulo num clube com esse nome e que morrera sem o desgosto de uma única derrota. Assim, posta em votação a proposta dos irmãos Bertoni, no dia 28 de abril de 1914 foi aprovado o nome de Americano Futebol Clube, bem como escolhidas as cores preta e branca em homenagem ao Clube de Regatas Saldanha da Gama, do qual a maioria dos fundadores do novo clube eram sócios também".
A ata foi lavrada pelo guarda-livros Amaro Castro, adepto do Goytacaz, na residência de Sinhô Campos, e dela constava a data de 3 de maio, feriado nacional na época.
O jornal A Cidade, no dia 18 de fevereiro de 1974, editava suplemento, tamanho tablóide, em homenagem ao Americano, na oportunidade festejando o heptacampeonato. E, nesse suplemento, foi transcrita carta de Antônio Campos Júnior, o Sinhô Campos, fundador do mesmo clube, com o seguinte teor:
"Agradeço sensibilizado a amável carta que me enviaram, bem como as lembranças do meu querido clube. Quero parabenizá-los pelo título inédito de heptacampeão campista da divisão extra de profissionais. Realmente uma parcela de colaboração, esforço, me cabe na fundação do nosso clube, pois o mesmo foi fundado em minha casa, à Rua Quinze de Novembro, 38, no dia 1º de junho de 1914, dia do meu aniversário. Estou ausente da minha terra, Campos, já há muito tempo, porém acompanho com interesse e sou grande entusiasta e torcedor do nosso clube, que me lembra a minha juventude e a nossa querida cidade. Faço-os portadores do meu grande abraço e da minha admiração para essa equipe espetacular, com votos de que continuem a elevar bem alto o nome do Americano Futebol Clube. Agradecendo a lembrança, envio os meus votos de grande estima e admiração a toda a Diretoria e seus associados, juntamente com as minhas saudações esportivas".
O Monitor Campista, edição de 3 de junho de 1915, escrevia: "Americano FC - Este estimado clube, comemorou, anteontem, o primeiro aniversário de sua fundação, oferecendo aos seus associados, à Liga Campista e à imprensa, uma lauta ceia, ao ar livre, no seu campo, à Rua Rocha Leão. Às 9,30 da noite teve começo a festa, que correu no meio da mais franca alegria e cordialidade. Houve diversos brindes, sendo todos muito aplaudidos. A digna Diretoria do Americano foi de extrema gentileza para com todos que tomaram parte na agradável festa".
O que ninguém discute, no entanto, é que são muitas as glórias esportivas do Americano, e que nenhuma delas se iguala à conquista do eneacampeonato, título que orgulha a imensa família alvi-negra. Dono do octa e a caminho do ênea, o Americano foi incluído, como parte da fusão entre dois Estados brasileiros, no Campeonato Nacional de 1975, tornando-se, com isso, o primeiro clube do lugar e até mesmo do interior do novo Estado do Rio de Janeiro, a participar de tal certame.
O Americano, que surgiu de dissidências havida no Rio Branco, Luso-Brasileiro e Aliança, o da fábrica de tecidos, teve como fundadores Antônio Campos, Antônio Campos Júnior, Fernando Cretela, Daniel Sanz, Diógenes Campos, Luís Pamplona, Zizinho Suppa, Ernesto Pamplona, Heitor Manhães, Begnardi, Jaime Vieira, Alfredo Rosas, Chiquito Almeida, Nélson Póvoa, Renê Almeida e Osvaldo Santos. Seus presidentes, além de Carlos Barroso, que foi o primeiro, foram Nataniel Galvão Batista, Luís Cavalcanti, Godofredo Cruz, Osvaldo Póvoa, Jorge Pereira Pinto, Celso Moreira, Paulo Alves, Ilídio Rocha, Antônio Faria, José Carlos Martins, Paulo de Oliveira Lima, Lenício Viana da Cruz, Lourival Martins Beda, Rubens Sardinha Moll, Antoninho Manhães, Amílcar Monteiro, Valdir Alves Vieira, Antônio Sebastião Póvoa, José Sartro Costa, Giliart Moreira, Jaime Martins Faria, Antônio Henrique Filho, Antônio Carlos Chebabe, Antônio Abdu Neme, Édson Carvalho Rangel, Édson Coelho dos Santos, Osvalnir Barcelso, Francisco Jacob Gayoso y Almendra, Alseu Teixeira de Oliveira, D'Janir Azevedo, Ivony Dias Moura e Maurício Martins.
Pelo Americano passaram grandes jogadores do lugar, muitos dos quais conhecidos fora dos limites campistas, por suas participações em equipes de centros mais adiantados. Entre eles destacam-se Mário Seixas, Soda, Poli, Pinheiro, Valdir Lima, Cri-Cri, Maneco, Vermelho, Mílton Barreto, Vaguinho, Nagib, Hélio Batista, Fubá, Chico Leão, China, Evaldo, Sérgio Lima, Vicente, Cleveland, Nahime, Lula, Zurlinden, Antoninho, Luís Pamplona, Dodge, Ari Bueno, Frajola, Marola, Reginaldo, Marzullo, Degas, Amaro Galego, Jota Alves, Fidelinho, e um sem-número de outros valores que, em suas épocas, foram verdadeiros ídolos do lugar.
Na campanha de 1967/75, período em que o Americano somou os nove títulos seguidos, vestiram sua camisa os seguintes jogadores:
Adalberto Silva Laurindo, Aires Dias, Alci Fernandes de Deus, Alexandre José do Rosário, Altamir Cardoso, Amaro Carlos Gomes, Amaro das Graças de Sousa Nunes, Antônio Carlos Lírio, Antônio Ivo Maciel de Paula, Antônio Vieira Araújo, Benedito Almeida, Carlos Alberto Peixoto Gomes, Carlos Batista Gomes, Carlos Dionísio de Brito, Carlos Francisco Cordeiro, Carlos Roberto dos Santos Sardinha, César Carvalho de Miranda, Cidiomar Alves Custódio, Dorival Jonas dos Santos, Édson Carvalho Rangel, Eduardo Silva, Élio Trigo de Almeida, Enísio Augusto Mata Vieira, Expedito Hermógenes, Fernando Bastos, Fernando Lopes, Fidélis Sérgio Bento, Francisco Barbosa, Francisco Calomeni Neto, Francisco da Conceição de Sousa, Gelson Bento Sardinha, Geraldo Meireles Brás, Gessi Cordeiro de Sousa, Gilberto Gomes Araújo, Guaraci Oliveira de Albuquerque, Haroldo de Jesus Wannisangk, Iran de Araújo, Jarbas Gonçalves Bastos, João Francisco Santos Carvalho, Joaquim Henriques Rangel Sousa, Joel Gomes Machado, Jorge Almeida Lacerda, Jorge Carlos de Sousa, Jorge Luís Nascimento da Silva, Jorge Melo Novas, Jorge Sebastião, José Alcino Filho, José Amaro Mota Rios, José Carlos Rocha, José Geraldo Calil, José Henriques Bernardo, José Maria Delfino, José Messias Porto, Juares Peixoto, Luís Alberto Alves Severino, Luís Carlos Amaral Gomes, Luís Carlos Curi dos Santos, Luís Fernando de Oliveira, Luís Gonzaga Moço Pimentel França, Manoel Manhães Francelino, Marlindo Ferreira Cardoso, Matozinho Pereira Felício, Maurício dos Santos Sardinha, Nei Severino Dias, Nestor Ferreira Campbell Filho, Nivaldo Gomes de Sousa, Odílio Pessanha Pinto, Odir Pessanha Soares, Orival da Conceição Ribeiro Gomes, Osmar Roque Lima, Paulo César Lourenço Porto, Paulo César Stróglio de Oliveira, Paulo Roberto Borges da Silva, Paulo Roberto Vidal, Raimundo Amaral Dias Filho, Rangel Campi de Lamarque, Romeu da Silva Carvalho, Salvador Barcelos Chagas, Salvador Carvalho, Sebastião Campos de Moraes Filho, Sérgio da Silva Lima, Sílvio Monteiro da Silva, Valdelino Viana, Válter Jones dos Santos Martins, Valtirdes Pereira Carneiro e Wallace Alexandre Blanc.
O jogo decisivo do Campeonato Campista de 1975 e que consagrou o Americano nove vezes seguidas campeão, foi disputado na noite de 17 de fevereiro de 1976. O Jornal dos Sports do dia seguinte publicava: "Com um gol de Paulo Roberto, de pênalti, aos 40 minutos da fase final, o Americano sagrou-se eneacampeão campista de futebol ao derrotar o Goytacaz, ontem à noite, no Estádio Godofredo Cruz, na terceira partida da série melhor de quatro pontos, que indicou o campeão de 1975. A renda foi de Cr$ 115.055,00, com 8.125 pagantes, e o juiz, com boa atuação, o carioca José Roberto Wright. Os dois times formaram assim: Americano - Dorival; Nei Dias, Luisinho, Luís Alberto e Capetinha; Ico, Russo e Rangel; Luís Carlos, Dionísio e Paulo Roberto; Goytacaz - Miguel; Totonho, Paulo Marcos, Nad e Júlio César; Ricardo Batata, Wílson Bispo e Naldo (Pontixeli); Piscina, Tuquinha e Chico".
O Americano conquistou 14 títulos na fase amadorista, nos anos de 1915, 19, 21, 22, 23, 25, 30, 34, 35, 39, 44, 46, 47 e 50, e, no período profissionalista, foi campeão em 1954, 64, 65, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75 e 77, este junto com o Goytacaz, com o qual chegou empatado e a LCD, por falta de datas, resolveu proclamar campeões os dois tradicionais rivais do futebol campista.
Tantas vezes campeão do lugar, fato que orgulha a torcida alvi-negra, o Americano também viajou ao exterior nos anos de 1981 e 1984, jogando no Oriente Médio e na Ásia, onde obteve os seguintes resultados:
1981 - No dia 13 de março empatou de 0x0 com a Seleção do Katar; no dia 14 derrotou a Seleção dos Emirados Árabes por 4x2; no dia 20 venceu o Al Ali por 2x0; a 21, portanto no dia seguinte, empatou de 1x1 com o Etifad; dia 23 perdeu de 1x0 para a Seleção do Kuwait; dia 28 foi derrotado por 2x1 pelo Aleluia; dia 1º de abril empatou de 2x2 com a Seleção da Coréia; dia 5 perdeu de 1x0 para a mesma Seleção; dia 10 perdeu de 3x2 pra a Seleção da Tailândia; dia 14 empatou de 2x2 com a Seleção da Malásia; dia 18 goleou por 5x1 a Seleção da Indonésia-B; dia 20 venceu espetacularmente o Pandang por 8x1 e, no dia 22 de abril, encerrou seu primeiro giro ao exterior, empatando de 0x0 com a Seleção da Indonésia. Nessa excursão o Americano se exibiu em Jedah, Daman, Kwuait, Seul, Bangkok e Kuala Lumpur.
1984 - Na volta ao exterior, o Americano venceu por 1x0, a 17 de janeiro, a Seleção de Oman, a mesma que foi goleada por 4x1 dois dias depois. Dia 24 o Americano perdeu de 1x0 para a Seleção de Tóqui, dia 27 goleou a Seleção da Malásia por 4x0, dia 29 perdeu de 2x0 para o time inglês Sensea, dia 30 perdeu de 2x1 para a Seleção de Tóquio, dia 5 de fevereiro o Americano derrotou a Seleção de Dubai por 1x0, dia 7 perdeu de 2x1 para a Seleção dos Emirados Árabe, dia 9 derrotou o Al Nasser por 1x0 e, no dia 13, encerrando o novo giro, derrotou a Seleção da Arábia Saudita por 1x0.
Carlos Barroso, primeiro presidente do Americano, com retrato grande pregado numa das paredes da sede do clube, comentava alguns anos atrás que não se lembrava tanto daqueles primeiros dias, mas insistia em dizer que o alvinegro não era de 1º de junho de 1914 e sim de 3 de maio, "na época, feriado nacional".
O Monitor Campista, edição de 2 de maio de 1914, escrevia o seguinte:
"Comunica-nos o Sr. Heitor Silva, 2º Secretário do Americano Futebol Clube, recentemente fundado nesta cidade, a eleição de sua Diretoria, que ficou assim organizada: Presidente, Carlos Barroso; Vice-Presidente, Nataniel Galvão; 1º e 2º Tesoureiros, João Henriques e Artur Pinheiro; Comissão de Finanças, Heitor Manhães, Augusto Santos e Inácio Nogueira; Comissão de Sindicância, Abílio Alves, José Olímpio e José Sabino; Diretor Esportivo, Fernando Cretela; Captain, Alfredo Rosas; Procurador, Raul Chagas".
O mesmo jornal, edição de 14 de maio, escrevia que "na Coroa, no campo do Luso-Brasileiro, jogou pela primeira vez o Americano Futebol Clube, que teve como adversário o Rio Branco. A estréia desse clube foi esplêndida, pois começou marcando duas vitórias. O seu primeiro time ganhou do seu contendor pelo escore de 4 a 1, e o segundo venceu o seu antagonista pelo escore de 3 a 0".
A Folha do Comércio de 2 de maio de 1914 publicava nota dando conta da fundação do Americano, ocorrida a 23 de abril, e anunciando a diretoria citada no Monitor Campista do mesmo dia. A diferença é que para a Folha do Comércio, o novo clube chamava-se América, o que dever ter sido erro do seu cronista, ainda preocupado com a visita a Campos do time do América, do Rio de Janeiro.
Sobre o assunto, o almanaque de Nilo Terra Arêas dizia, ainda, que "corria o ano de 1914. No mês de abril estava programada a vinda a Campos do América Futebol Clube, do Rio de Janeiro, para disputar uma peleja contra um combinado campista. Na ocasião do jogo, porém, surgiu sério impasse, pois o professor Múcio da Paixão, presidente da Liga Campista de Futebol, exigiu que o combinado de nossa terra tivesse em seu seio dois jogadores de cada time. Com isso não concordaram os entendidos, uma vez que o critério melhor a ser adotado seria o da escolha dos melhores jogadores de cada time. Se um clube possuísse mais de dois jogadores em condições técnicas para integrar o selecionado deveria ter garantida a inclusão dos mesmos no escrete. Na hipótese, porém, de uma agremiação futebolística não ter nenhum dos seus craques deveria ser convocado para a peleja. Figuravam entre os que defendiam a tese da convocação dos melhores, sem se ater a detalhe inócuo e inconseqüente da escolha de dois jogadores de cada time, três grandes craques do futebol campista do passado. Eram eles, Luiz Pamplona, do Rio Branco, Nélson Póvoa, do Aliança e Sinhô Campos, do Luso-Brasileiro, que se reuniram no Caldo do Zeca Póvoa, na Santos Dumont, onde decidiram levar ao presidente da Liga a escalação do time ideal. Múcio da Paixão não só não aceitou a proposta como também ameaçou suspender os clubes que fornecessem jogadores para formar o escrete durante o espaço de um ano. Com isso, os clubes retiraram o apoio aos jogadores que se batiam para a formação de um bom escrete. Esses, contudo, resolveram organizar um bom time e jogar de qualquer maneira com o América, o que ocorreu na data programada, apesar dos protestos de Múcio da Paixão. Curioso é que além de disputar a partida com o verdadeiro escrete de Campos, o América, um dia antes, goleava de 6 a 0 o quadro formado pela teimosia de Múcio da Paixão. O verdadeiro escrete campista também perdeu, mas de 3 a 1 para o campeão carioca que aqui se apresentou com Casimiro; Belfort Duarte e Bertoni I; Bertoni II, Jonatas e Badu; Waite, Juquinha, Ojeda, Wesmann e Parras. A formação local contou com José; Cretela e Santos; Plínio, Nélson Póvoa e Rossine; Heitor, Pamplona I, Sinhô Campos, Pamplona II e Begnardi. A intransigência de Múcio da Paixão teve, na verdade, um grande mérito do qual ninguém suspeitava: o aparecimento de mais um clube de futebol em Campos".
Nilo Terra Arêas, em seu almanaque, dizia também que Belfort Duarte, jogador do América, fez, na oportunidade, uma conferência no salão do Hotel Internacional, ocasião em que soube da idéia do surgimento de mais uma agremiação no lugar. Pediu, então, que o novo clube se chamasse América Futebol Clube, com o que concordaram os presentes. Quis, porém, o destino, que isso não ocorresse. É que os irmãos Bertoni, uruguaios que integravam o time carioca, convidados pelos irmãos Pamplona para passarem uma semana em Campos, sugeriram que o novo clube se chamasse Americano Futebol Clube, "pois já haviam jogado em São Paulo num clube com esse nome e que morrera sem o desgosto de uma única derrota. Assim, posta em votação a proposta dos irmãos Bertoni, no dia 28 de abril de 1914 foi aprovado o nome de Americano Futebol Clube, bem como escolhidas as cores preta e branca em homenagem ao Clube de Regatas Saldanha da Gama, do qual a maioria dos fundadores do novo clube eram sócios também".
A ata foi lavrada pelo guarda-livros Amaro Castro, adepto do Goytacaz, na residência de Sinhô Campos, e dela constava a data de 3 de maio, feriado nacional na época.
O jornal A Cidade, no dia 18 de fevereiro de 1974, editava suplemento, tamanho tablóide, em homenagem ao Americano, na oportunidade festejando o heptacampeonato. E, nesse suplemento, foi transcrita carta de Antônio Campos Júnior, o Sinhô Campos, fundador do mesmo clube, com o seguinte teor:
"Agradeço sensibilizado a amável carta que me enviaram, bem como as lembranças do meu querido clube. Quero parabenizá-los pelo título inédito de heptacampeão campista da divisão extra de profissionais. Realmente uma parcela de colaboração, esforço, me cabe na fundação do nosso clube, pois o mesmo foi fundado em minha casa, à Rua Quinze de Novembro, 38, no dia 1º de junho de 1914, dia do meu aniversário. Estou ausente da minha terra, Campos, já há muito tempo, porém acompanho com interesse e sou grande entusiasta e torcedor do nosso clube, que me lembra a minha juventude e a nossa querida cidade. Faço-os portadores do meu grande abraço e da minha admiração para essa equipe espetacular, com votos de que continuem a elevar bem alto o nome do Americano Futebol Clube. Agradecendo a lembrança, envio os meus votos de grande estima e admiração a toda a Diretoria e seus associados, juntamente com as minhas saudações esportivas".
O Monitor Campista, edição de 3 de junho de 1915, escrevia: "Americano FC - Este estimado clube, comemorou, anteontem, o primeiro aniversário de sua fundação, oferecendo aos seus associados, à Liga Campista e à imprensa, uma lauta ceia, ao ar livre, no seu campo, à Rua Rocha Leão. Às 9,30 da noite teve começo a festa, que correu no meio da mais franca alegria e cordialidade. Houve diversos brindes, sendo todos muito aplaudidos. A digna Diretoria do Americano foi de extrema gentileza para com todos que tomaram parte na agradável festa".
O que ninguém discute, no entanto, é que são muitas as glórias esportivas do Americano, e que nenhuma delas se iguala à conquista do eneacampeonato, título que orgulha a imensa família alvi-negra. Dono do octa e a caminho do ênea, o Americano foi incluído, como parte da fusão entre dois Estados brasileiros, no Campeonato Nacional de 1975, tornando-se, com isso, o primeiro clube do lugar e até mesmo do interior do novo Estado do Rio de Janeiro, a participar de tal certame.
O Americano, que surgiu de dissidências havida no Rio Branco, Luso-Brasileiro e Aliança, o da fábrica de tecidos, teve como fundadores Antônio Campos, Antônio Campos Júnior, Fernando Cretela, Daniel Sanz, Diógenes Campos, Luís Pamplona, Zizinho Suppa, Ernesto Pamplona, Heitor Manhães, Begnardi, Jaime Vieira, Alfredo Rosas, Chiquito Almeida, Nélson Póvoa, Renê Almeida e Osvaldo Santos. Seus presidentes, além de Carlos Barroso, que foi o primeiro, foram Nataniel Galvão Batista, Luís Cavalcanti, Godofredo Cruz, Osvaldo Póvoa, Jorge Pereira Pinto, Celso Moreira, Paulo Alves, Ilídio Rocha, Antônio Faria, José Carlos Martins, Paulo de Oliveira Lima, Lenício Viana da Cruz, Lourival Martins Beda, Rubens Sardinha Moll, Antoninho Manhães, Amílcar Monteiro, Valdir Alves Vieira, Antônio Sebastião Póvoa, José Sartro Costa, Giliart Moreira, Jaime Martins Faria, Antônio Henrique Filho, Antônio Carlos Chebabe, Antônio Abdu Neme, Édson Carvalho Rangel, Édson Coelho dos Santos, Osvalnir Barcelso, Francisco Jacob Gayoso y Almendra, Alseu Teixeira de Oliveira, D'Janir Azevedo, Ivony Dias Moura e Maurício Martins.
Pelo Americano passaram grandes jogadores do lugar, muitos dos quais conhecidos fora dos limites campistas, por suas participações em equipes de centros mais adiantados. Entre eles destacam-se Mário Seixas, Soda, Poli, Pinheiro, Valdir Lima, Cri-Cri, Maneco, Vermelho, Mílton Barreto, Vaguinho, Nagib, Hélio Batista, Fubá, Chico Leão, China, Evaldo, Sérgio Lima, Vicente, Cleveland, Nahime, Lula, Zurlinden, Antoninho, Luís Pamplona, Dodge, Ari Bueno, Frajola, Marola, Reginaldo, Marzullo, Degas, Amaro Galego, Jota Alves, Fidelinho, e um sem-número de outros valores que, em suas épocas, foram verdadeiros ídolos do lugar.
Na campanha de 1967/75, período em que o Americano somou os nove títulos seguidos, vestiram sua camisa os seguintes jogadores:
Adalberto Silva Laurindo, Aires Dias, Alci Fernandes de Deus, Alexandre José do Rosário, Altamir Cardoso, Amaro Carlos Gomes, Amaro das Graças de Sousa Nunes, Antônio Carlos Lírio, Antônio Ivo Maciel de Paula, Antônio Vieira Araújo, Benedito Almeida, Carlos Alberto Peixoto Gomes, Carlos Batista Gomes, Carlos Dionísio de Brito, Carlos Francisco Cordeiro, Carlos Roberto dos Santos Sardinha, César Carvalho de Miranda, Cidiomar Alves Custódio, Dorival Jonas dos Santos, Édson Carvalho Rangel, Eduardo Silva, Élio Trigo de Almeida, Enísio Augusto Mata Vieira, Expedito Hermógenes, Fernando Bastos, Fernando Lopes, Fidélis Sérgio Bento, Francisco Barbosa, Francisco Calomeni Neto, Francisco da Conceição de Sousa, Gelson Bento Sardinha, Geraldo Meireles Brás, Gessi Cordeiro de Sousa, Gilberto Gomes Araújo, Guaraci Oliveira de Albuquerque, Haroldo de Jesus Wannisangk, Iran de Araújo, Jarbas Gonçalves Bastos, João Francisco Santos Carvalho, Joaquim Henriques Rangel Sousa, Joel Gomes Machado, Jorge Almeida Lacerda, Jorge Carlos de Sousa, Jorge Luís Nascimento da Silva, Jorge Melo Novas, Jorge Sebastião, José Alcino Filho, José Amaro Mota Rios, José Carlos Rocha, José Geraldo Calil, José Henriques Bernardo, José Maria Delfino, José Messias Porto, Juares Peixoto, Luís Alberto Alves Severino, Luís Carlos Amaral Gomes, Luís Carlos Curi dos Santos, Luís Fernando de Oliveira, Luís Gonzaga Moço Pimentel França, Manoel Manhães Francelino, Marlindo Ferreira Cardoso, Matozinho Pereira Felício, Maurício dos Santos Sardinha, Nei Severino Dias, Nestor Ferreira Campbell Filho, Nivaldo Gomes de Sousa, Odílio Pessanha Pinto, Odir Pessanha Soares, Orival da Conceição Ribeiro Gomes, Osmar Roque Lima, Paulo César Lourenço Porto, Paulo César Stróglio de Oliveira, Paulo Roberto Borges da Silva, Paulo Roberto Vidal, Raimundo Amaral Dias Filho, Rangel Campi de Lamarque, Romeu da Silva Carvalho, Salvador Barcelos Chagas, Salvador Carvalho, Sebastião Campos de Moraes Filho, Sérgio da Silva Lima, Sílvio Monteiro da Silva, Valdelino Viana, Válter Jones dos Santos Martins, Valtirdes Pereira Carneiro e Wallace Alexandre Blanc.
O jogo decisivo do Campeonato Campista de 1975 e que consagrou o Americano nove vezes seguidas campeão, foi disputado na noite de 17 de fevereiro de 1976. O Jornal dos Sports do dia seguinte publicava: "Com um gol de Paulo Roberto, de pênalti, aos 40 minutos da fase final, o Americano sagrou-se eneacampeão campista de futebol ao derrotar o Goytacaz, ontem à noite, no Estádio Godofredo Cruz, na terceira partida da série melhor de quatro pontos, que indicou o campeão de 1975. A renda foi de Cr$ 115.055,00, com 8.125 pagantes, e o juiz, com boa atuação, o carioca José Roberto Wright. Os dois times formaram assim: Americano - Dorival; Nei Dias, Luisinho, Luís Alberto e Capetinha; Ico, Russo e Rangel; Luís Carlos, Dionísio e Paulo Roberto; Goytacaz - Miguel; Totonho, Paulo Marcos, Nad e Júlio César; Ricardo Batata, Wílson Bispo e Naldo (Pontixeli); Piscina, Tuquinha e Chico".
O Americano conquistou 14 títulos na fase amadorista, nos anos de 1915, 19, 21, 22, 23, 25, 30, 34, 35, 39, 44, 46, 47 e 50, e, no período profissionalista, foi campeão em 1954, 64, 65, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75 e 77, este junto com o Goytacaz, com o qual chegou empatado e a LCD, por falta de datas, resolveu proclamar campeões os dois tradicionais rivais do futebol campista.
Tantas vezes campeão do lugar, fato que orgulha a torcida alvi-negra, o Americano também viajou ao exterior nos anos de 1981 e 1984, jogando no Oriente Médio e na Ásia, onde obteve os seguintes resultados:
1981 - No dia 13 de março empatou de 0x0 com a Seleção do Katar; no dia 14 derrotou a Seleção dos Emirados Árabes por 4x2; no dia 20 venceu o Al Ali por 2x0; a 21, portanto no dia seguinte, empatou de 1x1 com o Etifad; dia 23 perdeu de 1x0 para a Seleção do Kuwait; dia 28 foi derrotado por 2x1 pelo Aleluia; dia 1º de abril empatou de 2x2 com a Seleção da Coréia; dia 5 perdeu de 1x0 para a mesma Seleção; dia 10 perdeu de 3x2 pra a Seleção da Tailândia; dia 14 empatou de 2x2 com a Seleção da Malásia; dia 18 goleou por 5x1 a Seleção da Indonésia-B; dia 20 venceu espetacularmente o Pandang por 8x1 e, no dia 22 de abril, encerrou seu primeiro giro ao exterior, empatando de 0x0 com a Seleção da Indonésia. Nessa excursão o Americano se exibiu em Jedah, Daman, Kwuait, Seul, Bangkok e Kuala Lumpur.
1984 - Na volta ao exterior, o Americano venceu por 1x0, a 17 de janeiro, a Seleção de Oman, a mesma que foi goleada por 4x1 dois dias depois. Dia 24 o Americano perdeu de 1x0 para a Seleção de Tóqui, dia 27 goleou a Seleção da Malásia por 4x0, dia 29 perdeu de 2x0 para o time inglês Sensea, dia 30 perdeu de 2x1 para a Seleção de Tóquio, dia 5 de fevereiro o Americano derrotou a Seleção de Dubai por 1x0, dia 7 perdeu de 2x1 para a Seleção dos Emirados Árabe, dia 9 derrotou o Al Nasser por 1x0 e, no dia 13, encerrando o novo giro, derrotou a Seleção da Arábia Saudita por 1x0.
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Olá, Paulo. Nos anos 60 só vinha dando Goytacaz até meu pai chegar a Campos e iniciar um período de vitórias para o Americano. Lembro-me de que o elenco se reunia em minha casa e meu pai ... os alimentava com soja, limão e outras vitaminas. Ganhou o campeonato (provavelmente o de 67). Ficou-me na memória o goleiro Barbosinha (Barbosa)e provavelmente o craque Paulo Roberto. Então veio o desentendimento entre meu pai (o técnico) e a diretoria. O jornal local o entrevistou e quis saber por que o Americano não ganhava campeonatos. Meu pai, João Lopes, respondeu: por que os jogadores nada recebem, não treinam adequadamente e ... nem comem direito. Meu pai os alimentou com super alimentação, os recebia em casa, motivou-os, leváva-os para treinar nas praias. Resultado: depois de quase dez anos sem vencer campeonatos, meu pai ergueu o Americano. Mas foi demitido por suas declarações e houve até mesmo ameaça de morte por parte da diretoria. O Goytacaz então o procurou mas meu pai já havia feito planos e nos mudamos para Cabo Frio, onde criou uma academia de Judô, Defesa Pessoal, Jiu-Jitsu e fisioterapia. Estou buscando notícias desse período do Americano mas não encontro nada detalhado. Se souber me dizer onde encontrar, por favor... Meu irmão tem fotos que meu pai fez e recortes de jornais desse período, inclusive do desentendimento com a diretoria e a vitória sobre o Goytacaz naquele ano. Um grande feito e uma página heróica do Americano, mas que anônima. Um abraço, Paulo. Parabéns pelo site.
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