segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A VEZ DO GOYTACAZ

A projeção alcançada pelo Americano, com a sua inclusão no Campeonato Brasileiro de 1975, não apenas desgostou a gente alvi-anil, que jamais admitiu o eterno rival em plano superior, como pôs a cúpula do Goytacaz em estado de alerta, já que uma guerra de repercussão nacional havia sido iniciada, com o adversário levando vantagem. Era preciso, portanto, fazer alguma coisa, justamente num ano em que o Americano, movido por um desejo de cada vez mais dominar o noticiário, se popularizar e ganhar foros de único clube de fato do lugar, pouco deixando para o seu adversário. Mesmo assim, numa demonstração de força fora do comum, de muito amor, Conselho e Diretoria arregaçaram as mangas e partiram para uma luta sem tréguas, aproveitando todas as suas reservas e a paixão incontida de uma torcida que só esperava por uma chance para mostrar até onde poderia chegar o Goytacaz.
- O Americano entrou no Brasileiro deste ano por causa da fusão. Ano que vem a vez será do Goytacaz e aí eles vão ver a diferença - comentou Zé Gordo, estudante de Filosofia que, em 1976, viria a se tornar o primeiro grande líder da torcida alvi-anil quando da inclusão desse clube no então Campeonato Carioca.
Desse desejo de atingir horizontes maiores ninguém escapou na Rua do Gás, conforme anunciava o Domingo Esportivo, edição de 10 de agosto 1975, ao publicar matéria na qual se lia que "em reunião realizada ontem à tarde, na sede social do clube, o Conselho Deliberativo do Goytacaz atendeu pedido formulado pelo Presidente Roberto Krunfly, autorizando a emissão de mil títulos de sócios-proprietários com valor individual a ser conhecido dia 25 deste mês, ocasião em que também a comissão nomeada ontem completará a primeira parte do seu trabalho, que é o de arranjar meios para que o alvi-anil parta para a ampliação de suas arquibancadas, construção de outros dois vestiários, banheiros populares e até lojas comerciais em torno do Estádio Ari de Oliveira e Souza.
Ficou decidido entre outras coisas que os associados passarão a pagar (os que puderem) 20 cruzeiros por mês e que uma comissão constituída dos Srs. Roberto Krunfly, José Carlos Maciel, Hervê Salgado Rodrigues, Fued Koury, Nílson Cardoso de Souza, José Gabriel, Ramiro Alves Pessanha Filho e Augusto Tinoco Faria se reunirá nesta terça-feira. Também a Diretoria do alvi-anil, a partir de agora, estará reunida nas noites de segundas e quintas-feiras".
No dia 14 de setembro de 1975, o Momento Esportivo publicava que "o Goytacaz está com um pé no Campeonato Estadual do ano que vem, juntamente com o Americano, segundo deixou entender ontem o Presidente Otávio Pinto Guimarães, da Federação Carioca de Futebol. Ele chegou, foi ao gabinete do Prefeito José Carlos Vieira Barbosa, diplomou os novos juízes da LCD e foi homenageado com um banquete no Automóvel Clube Fluminense. Foi lá que falou a Jacinto Simões, José Gabriel, Benedito Chagas e Augusto Machado Viana Faria, todos do alvi-anil, que esse clube e o Americano entrarão no Estadual de 76. Hoje, Otávio Pinto Guimarães, que se fez acompanhar de Murilo Portugal e Eduardo Augusto Viana da Silva, visita os campos do Goytacaz, Rio Branco e Campos, vai a São João da Barra, almoça na usina Sapucaia, assiste ao jogo Americano x Santa Cruz e depois será recebido pelo empresário Antônio Carlos Chebabe.
No meio da semana, os Srs. Augusto Tinoco Faria, Jacinto Simões e Benedito Chagas, acompanhados dos Srs. Alair Ferreira e Danilo Knifis, estiveram no oitavo andar da CBD. Lá conversaram com o Presidente Heleno Nunes e com o Comandante Jovino Pavan.
De volta a Campos, os três dirigentes disseram que tiveram uma boa impressão e que sentiam que o Goytacaz poderia esperar algum benefício da CBD, pois o próprio Presidente Heleno Nunes passou uma borracha nos mal-entendidos.
Os três dirigentes também ouviram o Comandante Jovino Pavan, que falou que a CBD tem o maior interesse em atender as necessidades dos seus filiados, bastando, para serem atendidos, que todos trabalhem e peçam".
Dia 5 de outubro de 1975, o mesmo semanário escrevia que "a Diretoria e a comissão criada pelo Conselho do Goytacaz vão se reunir hoje, a partir das 9 horas, na sede social do clube, no Estádio Ari de Oliveira e Souza, para traçarem os novos rumos do alvi-anil em relação ao seu crescimento patrimonial.
O encontro deverá ser dos mais concorridos, dele podendo fazer parte todos os conselheiros, conforme anunciou ontem o Presidente Roberto Krunfly. É possível que amanhã mesmo sejam iniciadas as obras na praça de esportes do Goytacaz, na Rua do Gás".
No meio da semana, membros da comissão criada pelo Conselho estiveram com o Prefeito José Carlos Vieira Barbosa, ocasião em que essa autoridade conheceu o plano de obras elaborado pelo pessoal técnico da Fundenor para o Estádio Ari de Oliveira e Souza.
Durante o encontro, que foi dos mais proveitosos para o clube da Rua do Gás, o Chefe do Executivo se prontificou a colaborar com máquinas e homens para as obras pretendidas pelo clube e ainda declarou que as obras deveriam começar o quanto antes.
Da mesma matéria faziam parte outros parágrafos, nos quais se liam que, "paralelamente, figuras respeitáveis do Goytacaz começaram a tratar dos detalhes sobre a realização das obras, para as quais o clube necessitará da ajuda de todos em Campos. Uma campanha popular será feita, possivelmente a partir do meio da semana.
O importante é que a cúpula do Goytacaz, sabedora de que o clube participará do Estadual do ano que vem, juntamente com o Americano e um clube de Volta Redonda, além dos 12 do Rio de Janeiro, não está querendo perder tempo e disso está dando provas.
A ampliação das acomodações no Estádio Ari de Oliveira e Souza é uma necessidade, como deixaram entender os Srs. Heleno Nunes, Presidente da CBD, e Otávio Pinto Guimarães, Presidente da FCF. E essa ampliação terá que estar concluída em março de 76.
Pelo comissão criada pelo Conselho estarão presentes à reunião os Srs. Hélson de Souza, Nílson Cardoso de Souza, Hervê Salgado Rodrigues, José Carlos Maciel, Benedito Chagas e Ramiro Alves Pessanha Filho".
No dia 12 de outubro de 1975, o Domingo Esportivo relatava outro episódio alvi-anil com esta matéria:
"O Sr. Roberto Krunfly, Presidente do Goytacaz, disse ontem que as obras para ampliação do Estádio Ari de Oliveira e Souza não se encontram em compasso de espera e sim sendo trabalhadas por fora para que, uma vez iniciadas, possam de fato ir adiante, como é desejo de toda a enorme torcida da Rua do Gás.
Falou também que o Goytacaz não vai ficar apenas nas obras que pretende realizar, mas também aumentar o poderio técnico do time, contratando os jogadores que de fato possuem qualidades. Um deles e que poderá ter a sua situação definida é o zagueiro Marcolino, que está se desligando do Rio Branco, da Avenida 7.
O Sr. Roberto Krunfly anunciou que os Srs. Jacinto Simões e José Gabriel são os coordenadores de uma campanha financeira popular que já está sendo movimentada através dos conselheiros do clube e que deverá render o suficiente para que o alvi-anil inicie as obras pretendidas.
Com relação à aquisição de bois para o leilão durante a Semana do Cavalo, disse que esta parte está mais com o conselheiro Floriano Pessanha, que já declarou para quem quisesse ouvir que a receita será para melhorar o sistema de iluminação elétrica do estádio".
É bom lembrar - e desse fato a imprensa campista não se deu conta que no dia 15 de setembro de 1975, por iniciativa do Almirante Heleno Nunes, realizou-se uma reunião no gabinete do presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Plínio Catanhede, da qual participaram, além do presidente mencionado, os Prefeitos de Campos e Volta Redonda (José Carlos Vieira Barbosa e Nélson Santos Gonçalves), Hildo Nejar, Almir de Almeida, Murilo Portugal, Otávio Pinto Guimarães, Eduardo Augusto Viana da Silva, Agathirno da Silva Gomes, Hélio Maurício, Wilson Carvalhal, André Richer e Guanair de Souza, para resolver sobre a participação, por convite, do Americano e de um clube de Volta Redonda, no Campeonato Carioca de 1976. No meio das discussões foi aventada a possibilidade da participação do Sapucaia, na época campeão estadual. Nesse momento, fazendo-se valer de todo um conhecimento de causa. Eduardo Augusto Viana da Silva levantou a hipótese da participação do Goytacaz, alegando ser um clube tão tradicional quanto o Americano, com o mesmo peso social e desportivo, que "não poderia ficar de fora de um campeonato do qual estivesse, por exemplo, São Cristóvão, Madureira, etc., de muito menos expressão que o próprio Goytacaz". Heleno Nunes fitou demoradamente Eduardo Augusto Viana da Silva e, em meio ao silêncio que se verificou no gabinete de Plínio Catanhede, acabou aceitando a idéia. Depois, sorridente, virou-se para o grupo e declarou, textualmente: "A melhor idéia é a do Eduardo Viana".
No dia 16 de setembro de 1975, portanto, um dia após a tal reunião no gabinete de Plínio Catanhede, a coluna Câmera, do Jornal dos Sports, publicava esta nota:
"Dirigentes do Goytacaz revelaram ontem ter recebido promessa do presidente Otávio Pinto Guimarães, de que o clube será incluído no próximo Campeonato do Estado do Rio de Janeiro, em 1976. Diante disso, marcaram uma reunião do Conselho Deliberativo para a noite de quinta-feira, quando será discutido o plano de obras, visando a dar ao Estádio Ari de Oliveira e Souza a capacidade mínima de 25 mil espectadores. Em princípio a obra está orçada em 4 milhões de cruzeiros. Segundo o presidente Roberto Krunfly, o plano para ampliação do estádio foi elaborado pelo corpo técnico da Fundenor e prevê a a construção de um pavilhão social com o comprimento do campo, de frente para a Rua do Gás, onde serão construídas 12 lojas para serem alugadas. As arquibancadas crescerão por trás das duas metas, sendo que a do lado da Rua Formosa terá também em sua face externa lojas para serem alugadas. A remodelação do sistema de iluminação e outros melhoramentos fazem parte do plano que deverá ser colocado em execução o mais rapidamente possível. Alguns conselheiros defendem, no entanto, a compra de uma outra área, onde seria erguido um novo estádio, em local mais distante do centro da cidade. Ao mesmo tempo, o Prefeito José Carlos Vieira Barbosa afirmou que a Prefeitura auxiliará o Goytacaz em tudo que for possível, para que o clube possa entrar no campeonato do Estado, juntamente com o Americano".
No dia 10 de outubro de 1975, o Jornal dos Sports citava que "o Goytacaz, por causa do pedido feito pelo Presidente Heleno Nunes, da CBD, e Otávio Pinto Guimarães, da FCF, para que amplie as acomodações do Estádio Ari de Oliveira e Souza, vive momentos de intensa agitação. Todos, conselheiros, diretores, associados e torcedores, trabalham em várias campanhas, objetivando conseguir recursos para que as obras possam ser iniciadas o quanto antes".
Toda essa atividade da gente alvi-anil, foi acompanhada de perto pelo Jornal dos Sports que, na edição de 19 de novembro de 1975, anunciava a chegada de técnicos de uma firma em construção metálica para esse dia. Segundo a matéria, os tais técnicos fariam o levantamento da área disponível para construir as arquibancadas do Estádio Ari de Oliveira e Souza. Roberto Krunfly dizia, então, que a firma completaria sua tarefa em 60 dias. Os tais técnicos acabaram não aparecendo, o tempo foi ficando curto e o Goytacaz, dono de ambições que não tinham mais tamanho, mas sem condições de realizar aquilo que mais desejava, passou a cuidar da política interna. E o mesmo Jornal dos Sports de 12 de dezembro de 1975 publicava o seguinte:
"O Sr. Jorge Fernandes de Sousa declarou ontem que não retira sua candidatura à presidência do Goytacaz, embora saiba que alguns conselheiros estejam procurando outro nome para concorrer com ele no pleito da próxima segunda-feira, dia 15.
A eleição presidencial no Goytacaz é assunto tão importante para o setor esportivo da cidade que até em estabelecimentos bancários ou casas comerciais, ela vem sendo ventilada a todo o instante. Para Jorge Fernandes de Sousa, que concorre pela segunda vez, isto é sinal de grandeza do seu clube.
Jornais locais de 15 dias para cá vêm dedicando boa parte de suas páginas esportivas ao pleito. Fonte oficial do Conselho dizia ontem, no Bulevar Francisco de Paula Carneiro, que a eleição do Sr. Jorge Fernandes de Sousa é praticamente certa, mesmo porque os demais nomes cogitados por aquele órgão não aceitaram.
- Minha candidatura é para valer e não a retirarei. Que apareçam outros candidatos, mas que concorram comigo. Eu, só em ser candidato, sinto-me honrado, porque a presidência do Goytacaz não é cargo para qualquer um. Agora, que façam o jogo aberto e franco e não o que fizeram ano passado - disse Jorge Fernandes de Sousa".
Jorge Fernandes de Sousa foi eleito o novo presidente do Goytacaz e, segundo os jornais locais e até o Jornal dos Sports do dia 18 de dezembro de 1975, ele assumiria o cargo, que estava sendo ocupado por Roberto Krunfly, no dia 29, ocasião em que o Conselho Deliberativo se reuniria solenemente. A chapa perdedora tinha Amaro Escovedo como candidato, que acabou ficando vice na vencedora.
"Ontem à noite - Jornal dos Sports de 7 de janeiro de 1976 -, na presença de dezenas de figuras ligadas ao esporte local e associados e conselheiros do clube, o Sr. Jorge Fernandes de Sousa foi empossado na presidência do Goytacaz. Da programação constaram a sessão solene do Conselho, durante a qual tomou posse toda a nova Diretoria, e um coquetel dos mais concorridos. O novo presidente declarou que o clube conseguirá nas próximas horas empréstimo bancário para iniciar as obras do Estádio Ari de Oliveira e Souza, enquanto os diretores que saíram homenagearam o ex-Presidente Roberto Krunfly, inaugurando um pôster na galeria dos presidentes, além de presenteá-lo com uma placa de prata".
No dia 14 de janeiro de 1976, o Jornal dos Sports publicava matéria que é, de novo, aqui transcrita, porque, mais uma vez, faz parte da história do futebol do lugar:
"Surpreendentemente, o Goytacaz, através do Presidente Jorge Fernandes de Sousa e do Diretor de Futebol Ronaldo Simões, contratou, ontem, durante um almoço, o treinador Paulo Henrique, que havia pedido licença de 20 dias ao Campos, clube com o qual possuía contrato verbal.
Desde a véspera, à noite, quando da reunião normal da Diretoria, a contratação do novo treinador estava prevista. O assunto chegou a gerar alguma discussão, com determinados diretores achando que não era a hora de mudar a direção técnica do elenco, em poder de Ualdo Pessanha".
No dia 20 de janeiro de 1976, o Jornal dos Sports publicava o seguinte texto:
"Depois de uma reunião de quase cinco horas, na qual a grande dificuldade foi vencer a resistência do Presidente Francisco Horta, firme na disposição de vetar a presença dos clubes do interior, os clubes cariocas aceitaram, finalmente, a fórmula de disputa do Campeonato Carioca de 1976. O convite ao Americano e Goytacaz, de Campos, e ao Volta Redonda, foi ratificado, estabelecendo-se, apenas, duas exigências (formuladas pelo presidente do Fluminense) para a sua participação. O campeonato será disputado em três turnos: o primeiro com 15 clubes e os outros dois com 8. O turno decisivo terá os três campeões dos turnos anteriores, além do vencedor do turno de reclassificação".
No dia 22 de janeiro de 1976, a coluna Câmera, do mesmo Jornal dos Sports, publicava que "o Americano e Goytacaz, de Campos, além do Volta Redonda, da cidade do mesmo nome, serão oficialmente convidados para disputar o Campeonato Carioca. O encontro entre o presidente da Federação Carioca de Futebol e os dirigentes daqueles clubes será na próxima quarta-feira, na sede da entidade. Na oportunidade, serão também inteirados das exigências que os seus clubes terão de cumprir para que possam participar do certame. Nos primeiros dias de fevereiro, Americano, Goytacaz e Volta Redonda receberão a visita dos presidentes dos clubes cariocas. Será, antes de tudo, uma autêntica vistoria, em que os dirigentes verificarão as condições dos novos filiados em termos de estádio e organização. Pelo que se sabe, o Americano possui um estádio razoável, que permitiu que disputasse o Campeonato Brasileiro. Sobre o Goytacaz, não existe nenhuma informação concreta. Já o Volta Redonda, que disputará o campeonato no estádio da Siderúrgica, está ampliando a sua capacidade graças ao apoio do prefeito da cidade".
Só no dia 13 de fevereiro de 1976 foi que o campista, particularmente o torcedor alvi-anil, teve certeza da inclusão do Goytacaz no Campeonato Carioca. É que, nesse dia, o Jornal dos Sports, em sua última página, publicava, a tabela aprovada na véspera e na qual se via, como novos integrantes da competição, Goytacaz, Americano e Volta Redonda, que se juntaram aos 12 clubes do Rio de Janeiro.
Dias antes, mas no mês de fevereiro e depois de tantas tentativas da Diretoria anterior, Jorge Fernandes de Sousa deu uma prova de coragem e de intensa paixão pelo Goytacaz. Com apenas Cr$ 8.000,00 em caixa, partiu para a mais arrojada iniciativa do clube nos últimos anos: ampliar o Estádio Ari de Oliveira e Souza. Isso aconteceu num momento em que, naquela praça de esportes e ao cair da tarde, só se encontravam três dirigentes: Jorge Fernandes de Sousa, presidente; Fernando Freitas, tesoureiro, e Jacinto Simões, uma espécie de cardeal a caminho de uma sagração maior. Os três, sabedores de que o Goytacaz entraria no próximo campeonato da Federação Carioca de Futebol, e por dentro do trabalho que o Americano desenvolvia no Estádio Godofredo Cruz, não perderam mais tempo e partiram para a grande obra. Para iniciar um mundo de melhoramentos de que se orgulha a própria cidade, fecharam o estádio, derrubaram árvores que se erguiam frondosas atrás dos dois gols e transformaram toda a área num enorme e movimentado canteiro de obras.
Também em fevereiro de 1976, o Goytacaz, atacando em outra frente, contratou os jogadores Kiko, Batista, Tita, Joaquinzinho e Marcos e, ao mesmo tempo, divulgou uma lista de dispensa de 10 jogadores, entre os quais três considerados, até então, titulares: o goleiro Juvenal, o zagueiro Nad e o meio-campo Naldo. Os demais liberados foram: Gustavo, Jamil Abud, Alexandre, Beraldi, Capenga, Julinho e Claudemiro.
O noticiário do clube divulgado pelo Jornal dos Sports, edição do dia 25 de fevereiro de 1976, lembrava o seguinte:
"Segundo o Diretor Ronaldo Simões, o Goytacaz também contratará uma cozinheira e aproveitará os ex-juvenis Jorge Luís, Serginho, Nilo, Viê, Paulo Cabral e Carnaval, que se integraram ontem mesmo ao time titular e treinarão sob o comando de Paulo Henrique.
Na reunião ordinária da Diretoria, segunda-feira, o dirigente Ronaldo Simões adiantou que a folha de pagamento do time oscilará entre 30 e 35 mil cruzeiros. Explicou que o salário-teto será de 2 mil e 500 cruzeiros e que os jogadores que trabalhavam já deixaram os empregos para se dedicarem exclusivamente aos treinos.
Para que haja dinheiro suficiente a ser empregado nas obras de ampliação do Estádio Ari de Oliveira e Souza, o clube incentivará a venda de títulos de sócios-proprietários. Sabe-se que a receita só poderá ser revertida em favor do patrimônio, o que levou a direção do clube à idéia de formar uma assessoria especial, a fim de ajudar o Departamento de Futebol".
No dia 27 de fevereiro de 1976, o Jornal dos Sports publicava que "o Presidente Jorge Fernandes de Sousa, empolgado com o andamento das obras que permitirão um lance de arquibancadas de 60 metros com 17 degraus, está querendo começar um outro atrás do outro gol. Com isso, o alvi-anil ganharia acomodações para mais 6.120 torcedores, que se juntariam às arquibancadas populares de mais de 100 metros, e o pavilhão social. Sabe-se que, para isso, existe um plano de ampliação no comprimento do campo".
Com o Estádio Ari de Oliveira e Souza em obras e com a proximidade de estréia do clube no Campeonato Carioca, o Goytacaz passou a enfrentar outro terrível drama: o de ter que se servir do Estádio Godofredo Cruz, do Americano, para a realização dos seus jogos. E o Jornal dos Sports do dia 6 de março de 1976 registrava desta maneira: "Ocorre que, no ano anterior, Diretoria e Conselho alvi-anis divulgaram nota oficial criticando a Diretoria alvi-negra. Os dois clubes não se aceitam. Francisco das Chagas Siqueira, benemérito, lembra que o Goytacaz, em várias oportunidades, quando o Americano estava com obras no seu estádio, negou a sua praça de esportes. Uma vez o Americano teve que decidir um título com o Rio Branco, no Ângelo de Carvalho. E uma terceira, com o Sapucaia, no Mílton Barbosa. Também negou o estádio para a festa do octacampeonato. Francisco das Chagas Siqueira disse que o Americano não atenderá o Goytacaz, mesmo que Heleno Nunes e Otávio Pinto Guimarães peçam. A tal nota do Goytacaz foi aquela de agosto de 1975, quando houve o rompimento entre os dois clubes".
As edições seguintes do Jornal dos Sports registravam, com riqueza de detalhes, todos os lances de uma jogada que a imprensa campista da época também historiava em terrível estado de beligerância, por culpa, é claro, da simpatia dos jornalistas do lugar por um e outro clube. E o chanceler da paz, como chegou a ser chamado pelo radialista Eraldo Bento Siqueira, da Rádio Campos Difusora, foi o Vice-Presidente da Federação Fluminense de Desportos, Eduardo Augusto Viana da Silva.
No dia 9 de março de 1976 o Jornal dos Sports lembrava que "de sábado para domingo várias foram as reuniões realizadas em separado entre dirigentes do Goytacaz e do Americano, e até uma em conjunto, na qual ficou resolvido que o segundo clube atenderá o primeiro na cessão do Estádio Godofredo Cruz, para os seus jogos no Campeonato Carioca. Ontem, pela manhã, o Americano já tinha pronto o ofício para ser entregue ao Goytacaz, e que só dependia do Presidente Oswalnir Barcelos para assiná-lo".
Na edição do dia 10 de março, o mesmo Jornal dos Sports dizia que, "depois que os dirigentes do Americano e Goytacaz assinaram um pacto de amizade, as coisas melhoraram e o primeiro deles já enviou ao segundo, ofício através do qual cede, em caráter de aluguel, o Estádio Godofredo Cruz para os jogos pelo Campeonato Carioca. O primeiro documento foi redigido em termos elevados pelo Sr. Eduardo Augusto Viana da Silva, Vice-Presidente da FFD e representante dos dois clubes na Federação Carioca de Futebol. Pelo documento, os dois clubes se desculpam pelos excessos cometidos um contra o outro e se propõem a trabalhar de comum acordo em favor do futebol campista".
Resolvido o problema, o Goytacaz voltava a ser notícia na edição de 14 de março de 1976, no Jornal dos Sports:
"Para disputar o Campeonato Carioca, o Goytacaz passou a contar com Marcos, Batista, Kiko, Zé Rios, Tita, Idelvan, Lauro, Zé Neto, Samuel, que se juntaram a Miguel, Augusto, Totonho, Paulo Marcos, Marcolino, Júlio César, Ricardo Batata, Wílson, Jocimar, Piscina, Tuquinha, Chico, Paulo Cabral, Carnaval e Serginho. O clube adquiriu novas camisas, calções, meias, chuteiras, sungas, ataduras, roupões, luvas para os goleiros, toalhas e bolas".
A estréia do Goytacaz no Campeonato Carioca foi na tarde de 14 de março de 1976, um domingo, quando o Estádio Godofredo Cruz recebeu 19.834 pagantes e, pelas suas bilheterias passaram Cr$ 395.720,00, até então a maior renda registrada no lugar. O Flamengo venceu o jogo por 3x0, gols de Caio (2) e Luisinho, jogando com Cantarele; Toninho, Rondineli (Dequinha), Jaime e Júnior; Merica, Osvaldo e Tadeu; Caio, Luisinho e Zico, e o Goytacaz com Miguel; Totonho, Paulo Marcos, Marcolino e Batista; Ricardo Batata, Wílson e Kiko; Piscina (Lauro), Tuquinha (Chico) e Zé Neto. O juiz foi Aírton Vieira de Moraes.
Vencida mais uma batalha, que foi a inclusão no Campeonato Carioca, a gente alvi-anil não sossegou enquanto o Goytacaz não foi relacionado pela CBD entre os participantes do Campeonato Brasileiro, o que não aconteceu em 1976, para desespero e até revolta de grande parte da cidade, com reflexos no Rio de Janeiro, onde o jornalista Miro Teixeira, na edição do O Dia de 26 de julho desse ano escrevia:
"Apesar das promessas do Almirante Heleno Nunes, Presidente da Confederação Brasileira de Desportos, o Goytacaz, um dos mais queridos clubes de Campos, estará mesmo ausente do Campeonato Nacional que este ano terá 54 concorrentes. Interrogados sobre as causas da não inclusão do valente time campista, os donos da CBD usaram como argumento o fato de não possuir ele um bom campo de futebol. A desculpa é esfarrapada, porque tais razões não valeram para, pelo menos, uma dezena de times estaduais que vão participar do maior torneio do mundo. Para não ir mais longe, vale lembrar que aqui mesmo, no Rio, o Botafogo não possui um campo e nem por isso foi afastado. E ninguém, em sã consciência, poderia admitir um campeonato de âmbito nacional sem a participação do alvinegro carioca.
É grande a revolta entre os esportistas e toda a população campista contra a discriminação da CBD, injusta e injustificável. Mesmo porque, além de ter feito uma excelente figura no atual Campeonato Fluminense, enfrentando de igual para igual os grandes clubes, o Goytacaz já tinha conseguido a promessa de seu grande rival, o Americano, para usar o seu campo sempre que necessário. Na hora de defender o prestígio do futebol campista, os dois grandes clubes se irmanaram, dando um grande exemplo de solidariedade esportiva.
A Confederação Brasileira de Desportos está na obrigação de justificar a sua atitude. Se é que ela tem justificativa".
Uma outra data muito importante para o Goytacaz é a de 7 de agosto de 1977, quando da reabertura do Estádio Ari de Oliveira e Souza, fechado para obras em fevereiro do ano anterior. Antes dessas obras, em 1976, dois jogos foram realizados: um deles, a 29 de janeiro, com o Goytacaz empatando em 1x1 com o Americano; outro, a 4 de fevereiro, com o Americano vencendo o Cambaíba por 1x0. Também nesse longo período de ano e meio, o Goytacaz havia trocado de presidente, com Rafael Martins assumindo no lugar de Jorge Fernandes de Sousa e, claro, daquela data de fevereiro de 1976 a agosto de 1977, muito coisa bonita aconteceu e disso tomou conhecimento o público de quase 10 mil pessoas que assistiu ao jogo Goytacaz x Botafogo, na reabertura da praça de esportes alvi-anil. E o que essa gente viu não foi pouco, pois ali, como que num passe de mágica, agigantavam-se dois grandes lances de arquibancadas ao fundo dos gols, sobre os quais foram colocados dois bonitos placares. Nova saída foi dada ao túnel fronteiro às sociais e outros três foram construídos, um deles para os juizes, que ganharam um vestiário sob as populares. Nas sociais foram feitas mais quatro cabines para as emissoras de rádio e nelas ainda colocadas 697 cadeiras em fibra de vidro nas cores branco e azul. Novas bilheterias, roletas e até o sistema de iluminação, mais a casa de força com dois novos transformadores além das luminárias conseguidas junto ao Jóquei Clube de Campos passaram a fazer parte do patrimônio do clube, como o moderno sistema de drenagem com 19 valas com 40 centímetros cúbicos cada uma no comprimento das laterais do campo e outra em toda a sua volta se escondia sob o novo gramado plantado de pé em pé sob a orientação do pessoal técnico da Fundenor.
Naquela tarde de 7 de agosto de 1977 as rádios lembraram alguns nomes aos quais o Goytacaz deveria render homenagens. Entre eles, Jorge Fernandes de Sousa, Jacinto Simões e Fernando Freitas que, arriscando até mesmo o prestígio pessoal, deram início à empreitada, mais José Gabriel, Nílson Cardoso de Souza, o veterano Vavá que temeu o coração apaixonado e ficou em Grussaí na hora da festa de reabertura do estádio e o mestre-de-obras Acácio que, antes, havia ajudado o Americano a ampliar o Godofredo Cruz. Rafael Martins, nem sempre compreendido e até mesmo criticado por alguns, também teve parte importante na realização de tantas obras ali mostradas com a ajuda da enorme torcida alvi-anil.
Nesse dia 9.624 pagantes fizeram passar pelas bilheterias a importância de Cr$ 285.900,00, o Prefeito Raul Linhares hasteou a Bandeira Nacional e ao lado de Otávio Pinto Guimarães, Presidente da Federação Carioca de Futebol, assistiu ao Goytacaz perder de 1x0 para o Botafogo, gol de Nílson Dias, aos 5 minutos do segundo tempo. Giese do Couto foi o juiz e os dois times jogaram assim: Goytacaz - Acácio; Totonho, Paulo Marcos, Zé Rios e Tita; Wílson, Ricardo Batata e Jocimar; Vivinho (Santana), Albéris (Chico) e Piscina; Botafogo - Zé Carlos; China, Osmar, Renê e Jorge Luís; Ademir, Dé e Mário Sérgio; Gil, Nílson Dias e Tiquinho.
No início de setembro de 1977, Rafael Martins, então presidente do Goytacaz, combinou com Eduardo Augusto Viana da Silva, que se encontrava no exercício da presidência da FFD, uma estratégia para colocar o Goytacaz no Campeonato Nacional. O encontro dos dois ocorreu num barzinho da Praia de Grussaí, em meio a comes-e-bebes. Da tal estratégia fazia parte todo o tipo de pressão, inclusive emocional, sobre o Almirante Heleno Nunes que, aproximadamente num prazo de dez dias começou por promessa solene ao próprio Eduardo Viana, que se fazia acompanhar de Rafael Martins e José Carlos Maciel. Da mesma forma que o Olaria havia cedido lugar ao Americano, dessa vez coube ao Bangu, obviamente bastante contrariado, abrir mão da sua possível vaga em favor do Goytacaz que, a bem da verdade, só participou do Nacional de 1977 porque Eduardo Augusto Viana da Silva, mais uma vez, foi convincente na tese que defendeu junto ao então presidente da CBD.
No dia 27 de setembro de 1977 o Jornal dos Sports divulgava, em sua primeira página, a relação dos 62 participantes do Campeonato Brasileiro e o Goytacaz aparecia no Grupo D, juntamente com o Vasco da Gama, o Botafogo e mais Americano, Goiás, Vila Nova, Goiânia, Brasília, Atlético Paranaense e Londrina. Sua estréia nessa competição foi na noite de 20 de outubro, no Ari de Oliveira e Souza, quando empatou em 1x1 com o Goiás, gols de Coca, aos 18 minutos do primeiro tempo, e Pastoril, cobrando pênalti, aos 6 minutos do período final. O Goytacaz jogou com Augusto; Totonho, Folha (Serginho), Marcus Vinícius e Neneca; Ricardo Batata, Wílson e Coca (Jocimar); Joadir, Rogério Vescovis e Edu, e o Goiás com Marcos; Triel, Macalé, Alexandre e Donizetti; Alencar, Pastoril e Lucinho; Rubinho (Píter), Humberto (Maizena) e Reinaldo, e a renda foi de Cr$ 152.720,00 (5.301 pagantes).
Antes do jogo de estréia no Campeonato Brasileiro, o Conselho e a Diretoria do Goytacaz homenagearam o Presidente da FCF, Otávio Pinto Guimarães, com um banquete no Pálace Hotel. Dessa homenagem também participaram, entre outros, o Prefeito Raul Linhares, o ex-Prefeito Rockfeler de Lima e o Presidente da Liga Campista de Desportos, Danilo Knifis. Na ocasião, o dirigente carioca, de improviso, declarava:
- Reitero o meu agradecimento ao Goytacaz por essas gentilezas todas que seguidamente me cumula. De fato, o título de padrinho do Goytacaz é sumamente honroso para mim, embora o Goytacaz mereça muito mais do que aquilo que, dentro das minhas humildes forças eu possa realizar e fazer por ele. O Goytacaz tem méritos, porque um padrinho não pode ajudar um afilhado se esse afilhado não tiver méritos e as condições necessárias para que possa ser ajudado. Portanto, eu acho que devemos capitalizar todo esse êxito, todo esse sucesso e comemorar o ingresso do Goytacaz, nesta noite memorável de 20 de outubro de 1977, no Campeonato Nacional de Clubes. Devemos creditar tudo isso à força e à pujança do Goytacaz, ao idealismo e ao dinamismo de seus homens, seus dirigentes, aos quais homenageio simbolizando no nome da pessoa do ilustre Presidente Rafael Martins. E enfim, a essa maravilhosa torcida que faz do Goytacaz um clube extremamente querido não só em Campos mas também em todo o Rio de Janeiro e até em muitos rincões do Brasil. Portanto, é uma festa de todos nós. Eu me sinto honrado, me sinto realizado por estar aqui participando desta festa, da inauguração dos refletores do Estádio Ari de Oliveira e Souza, sobretudo do ingresso tão almejado e tão justo do Goytacaz no maior certame de futebol do mundo. Por tudo isso, muito agradecido ao Goytacaz e parabéns ao Goytacaz.
José Carlos Maciel, presidente do Conselho Deliberativo, dizia, em rápidas palavras, que "nesta data se guarda para sempre a lembrança de que se solidifica, neste momento, o esporte campista com a inclusão do Goytacaz no Campeonato Brasileiro. Destaque para uma cidade do interior, como poucas que até hoje têm mais de um clube participando deste certame de tanta envergadura. E que o nosso clube possa honrar a confiança que lhe foi depositada pelo Presidente da Confederação Brasileira de Desportos, Almirante Heleno Nunes; pelo nosso querido amigo Otávio Pinto Guimarães; pelo nosso amigo particular Eduardo Augusto Viana da Silva; pelo nosso irmão Danilo Assad Knifis; por todos aqueles que, enfim, notadamente a imprensa e o rádio campistas, muito batalharam para que o nosso clube também participasse desse campeonato. A todos aqueles que de qualquer forma colaboraram para que nós pudéssemos chegar a esta noite, os agradecimentos do Conselho e da Diretoria do Goytacaz".
Sob o título "Goytacaz, a vitória da teimosia", o jornal O Globo, edição de 27 de novembro de 1977, publicava matéria assinada por Celso Cordeiro Filho, na qual se lia: "Sem dinheiro, formado por ex-juvenis que ganham, em média, Cr$ 5 mil mensais, mas que acreditam no seu futuro, o Goytacaz foi a grande surpresa - com o Confiança - da primeira fase do Campeonato Brasileiro. Perdeu um jogo só, para o Brasília, no último minuto, e seus jogadores - cinco vieram do Atlético Mineiro e dois do futebol do Espírito Santo - são os heróis da cidade de Campos".

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