segunda-feira, 15 de setembro de 2008

OS "CARTOLAS" DE CAMPOS

Desde a chegada da primeira bola e conseqüente fundação dos clubes e da Liga Campista de Desportos, que o futebol campista, como o de outro centros, passou a contar com um sem-número de outros abnegados, muitos dos quais não chegaram a calçar chuteiras ou vestir um calção e até mesmo a camisa do clube de coração. Suas participações em favor do novo esporte que surgia na planície na década de 10 foram, no entanto, importantes para o desenvolvimento futebolístico do lugar, tanto na elaboração dos estatutos de cada agremiação como na formação dos times e até mesmo no desenrolar dos campeonatos regionais, o primeiro dos quais em 1914.
Inicialmente, na fase romântica do futebol que foi a amadorista, eles se dividiam entre o trabalho e o lazer. Depois, com o advento do profissionalismo e as responsabilidades maiores de cada clube diante de suas apaixonadas torcidas, eles passaram a viver mais intensamente a vida de suas agremiações ou até mesmo da entidade local. No fundo, no entanto, nunca negaram o apoio moral e até mesmo a ajuda financeira, quase sempre às escondidas para evitar problemas familiares.
Claro que nem todos tiveram alcançados os objetivos maiores, que seria a permanente conquista de títulos pelos clubes de sua simpatia. Outros não conseguiram se mostrar tão atuantes e vitoriosos como os demais, mas todos eles fizeram por merecer pelo menos o respeito de uma sociedade que pugnava pela moralidade acima de tudo. Este foi o início de uma nova atividade esportiva que se desenvolveu graças, também, a participação dos dirigentes.
Daquela fase embrionária do futebol campista são guardados alguns nomes com o maior carinho. Um Múcio da Paixão, um Júlio Nogueira e muitos outros abriram caminho para as participações diretivas de um Santafé, um Ferraiuoli, um Ari de Oliveira e Souza que, a seu modo, contribuíram para o engrandecimento de seus clubes, da Liga Campista de Desportos e até mesmo do futebol.
Augusto Machado Viana Faria, José Gabriel, Jacinto Simões, Nílson Cardoso, Laerte Campos, Antônio Abdo Neme, Jérsey Maia Lacerda, Márcio Campos, Martílio Ribeiro Moço, Haroldo Pacheco, Walter Carneiro, Rubens Moll e uma centena de outros dirigentes escreveram seus nomes na história do futebol de Campos pelo muito que fizeram por ele. O médico Osvaldo Póvoa, três vezes presidente do Americano e dezenas de anos presidente do conselho, do qual é patrono, merece também a distinção do destaque.
Mais recentemente, Alseu Teixeira de Oliveira se credenciou como presidente do Glorioso de Parque Tamandaré, clube que contou durante muitos anos com a colaboração de Osvalnir Barcelos. Este começou como treinador, foi diretor e vice de futebol e depois presidente durante a conquista do enea-campeonato alvi-negro. No Rio Branco dois nomes merecem citação: Chaquib Bechara e Clóvis Arenari, e no Campos, Petrônio Freitas Leite.
Os mais novos desconhecem a participação do professor Osvaldo Cunha no futebol. Professor, intelectual, ele dividiu suas atividades na Academia de Comércio de Campos com os expedientes da Liga Campista de Desportos, da qual foi presidente. Mais do que isso, chegou à presidência da Federação Fluminense de Desportos onde grangeou a simpatia de dirigentes de outras cidades fluminenses e, até mesmo o respeito dos governos do antigo Estado do Rio.
Edmundo Vaz de Araújo foi presidente da LCD durante muitos anos e Adilson Macabu, este poucos anos atrás, conseguiu, como representante do Goytacaz, mostrar a cultura e a experiência do interior nas grandes assembléias e arbitrais da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. Jorge Fernandes de Souza, Antônio Eraldo Lopes Riscado e Amaro Gimenes deram e ainda dão o que podem pelo alvi-anil.
Respeitosamente, e mesmo correndo o risco da omissão de outros nomes, o de Jocelyn Gabriel deve ser citado à parte. Foi um dos mais "vivos" dirigentes que o Brasil já teve. Sua cultura jurídica se transformou numa escola. Inicialmente, dedicou-se de corpo e alma ao Goytacaz, participando até mesmo da campanha pela construção do pavilhão social em prejuízo do seu escritório de advogado que acabou fechando por não encontrar tempo para se dedicar a ele.
Na Junta Disciplinar Desportiva da LCD se cansou de defender os interesses do alvi-anil e gastou muita sola de sapato nas suas andanças pelas ruas de Campos para conseguir, junto ao comércio e a indústria, recursos para que seu clube pudesse ampliar o estádio e ainda formar bons times. Um dia, depois de muitas noites indormidas, foi injustiçado e se afastou do Goytacaz. Seu lugar, na Rua do Gás, jamais encontrou novo titular.
Fora do Goytacaz e a convite do empresário Antônio Carlos Chebabe, Jocelyn Gabriel passou para o Americano. No seu antigo clube, muitos companheiros de diretoria não aceitaram o fato. No novo clube, ele foi recebido em festa, pelo muito que passava a representar para o alvi-negro. Dele, muito mais poderia ser escrito, embora seja arredio à entrevistas e até mesmo a "papos" descontraídos em sua casa ou na rua. Quem dera que os mais novos seguissem a trilha desenvolvida por Jocelyn Gabriel.
Antônio Carlos Chebabe e Francisco Jacob Gayoso y Almendra foram dois outros destaques entre tantos dirigentes campistas. Ao primeiro o Americano deve, no mínimo, todo o sistema de iluminação do Estádio Godofredo Cruz. Ao segundo, a ascenção do clube em termos nacionais. Gayoso, num momento importante para o futebol campista, trocou o Sapucaia pelo Americano, ao qual se agregou com tamanha dedicação que mais parecia ter sido alvi-negro desde garotinho.
Amilcar Maciel, Danilo Kniffis, Denilson Salles, Roberto d'Affonseca Monteiro, Jaime Faria, Geraldo Coutinho, Heli Ribeiro Gomes, Bento da Paz, Valdir Vieira, Antônio Henriques e muitos outros, também contribuíram. De Valdir Vieira é sabido que, durante muitos anos, manteve o elenco de juvenis do Americano. Comprava o uniforme, a bola e ainda premiava os jogadores com as mais "gordas" gratificações da época.
Édson Carvalho Rangel, presidente do Americano mais uma vez, sempre se dedicou ao clube alvi-negro. Primeiro, como jogador titular da ponta-direita e depois como dirigente. Foi bom no manejo da bola e tem sido um inteligente administrador, a ponto de incrementar a vida social da agremiação sem esquecer a esportiva que não se limita ao futebol mas à piscina e ao ginásio, num bonito complexo patrimonial que é um cartão de visitas da cidade.
Outro dirigente campista que não pode ser esquecido é Eduardo Augusto Viana da Silva, hoje presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. Ex-jogador do Americano nos tempos de liceísta (e do Bangu quando cursava a faculdade), Eduardo Viana, com um curriculum-vitae invejável, do qual fazem parte os mais diferentes cursos, inclusive no exterior, tem contra ele e da parte dos cariocas, os defeitos de ser do interior e torcer pelo Americano.
Sua cultura, aliada a um reflexo impressionante e a uma atividade incessante, são marcas indesmentíveis de uma forte personalidade cultuada ao longo de uma vivência calcada no estudo e no trabalho. Queiram ou não os que não comungam com as decisões tomadas por ele na FERJ, Eduardo Viana, para honra e glória do desporto campista, é um dos mais atuantes e corajosos dirigentes do futebol brasileiro.
Antes de chegar a tanto, feito que não o envaidece mas dele tem exigido muito mais do que muitos possam imaginar, Eduardo Viana foi um fiel seguidor da cultura, da inteligência e da experiência de Jocelyn Gabriel. Do gol - ele foi goleiro - passou ao ataque, certo de que é nessa posição que pode melhor se defender e ajudar o futebol, especialmente o Americano. Mas já colaborou com o Goytacaz, contra quem só se coloca durante os jogos entre os dois clubes de Campos.
Serviu à Federação Fluminense de Desportos em vários cargos, principalmente no de vice-presidente na época do saudoso Murilo Portugal, outro de quem extraiu muitos conhecimentos. Dirigiu a FFD, a exemplo do também campista, professor Osvaldo Cunha, e chegou à Federação Carioca de Futebol como o rolo-compressor do interior, na gestão de Otávio Pinto Guimarães. Sua história enche um livro mas não estorva o raciocínio e nem afugenta a humildade, o respeito e o carinho que tem para com sua gente. Admitam ou não, é o maior "cartola" da história do futebol campista.

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