segunda-feira, 15 de setembro de 2008

CAPA DO LIVRO

BIOGRAFIA DO AUTOR

SUMÁRIO

Prefácio - Eduardo Augusto Viana da Silva
01 - Americano no Nacional
02 - A Guerra dos Cem Anos
03 - A vez do Goytacaz
04 - A bola rola em Campos
05 - Registro Histórico
06 - Goytacaz, o Azul da cidade
07 - O Campos já foi de Bola
08 - Rio Branco agora é de Guarús
09 - Americano, o Glorioso do Parque
10 - Paraíso, o Clube de Tócos
11 - Cambaíba fez sua Festa
12 - Sapucaia também foi Campeão
13 - A Liga tem sua História
14 - Os 61 Certames Campistas de Futebol
15 - Campista é bom de Bola
16 - Intercâmbio não é de hoje
17 - O Grande Confronto
18 - Os "Cartolas" de Campos

Esta obra devo à minha mulher Joerli, aos meus filhos Paulinho e Johnny, que sempre me incentivaram, e ao Dr. Eduardo Augusto Viana da Silva, presidente da FERJ, responsável direto pela realização do meu sonho: este livro.
O Autor

PREFÁCIO - EDUARDO AUGUSTO VIANA DA SILVA

A "HISTÓRIA DO FUTEBOL CAMPISTA" de PAULO OURIVES, constitui-se de um minucioso trabalho que ocupou o autor por mais de quinze anos, em pesquisas profundas e detalhadas, debruçado dias e dias sobre farta documentação dos arquivos da Liga Campista de Desportos e da extinta Federação Fluminense de Desportos, além do levantamento de jornais de Campos, de Niterói e do Rio de Janeiro, editados desde 1912 até os nossos dias. Foi além o laborioso jornalista, hoje historiador de nosso futebol, tendo, ainda, colhido o depoimento de personalidades influentes no futebol campista, fluminense e brasileiro, o que em muito valorizou sua obra.
Não se trata de um romance, muito menos de obra de ficção. Pode ser entendido como um documentário, mas esta consideração é muito restritiva, pois o valor histórico vai muito além, podendo-se, pela transcrição de trechos de jornais da época (inclusive com a grafia de então), ser classificado como um trabalho de profundo conteúdo histórico, matizado com ensaios de historiografia.
São, aproximadamente, duas centenas de páginas, num texto leve e gostoso, espicaçando os leitores (principalmente os campistas) com um saudosismo sadio, que nos faz lembrar das conversas, "fuxicos" e "fofocas" do "Boullevard" Francisco de Paula Carneiro, da porta do "Trianon", do Café Clube, da Camisaria Cordeiro, da "Rua do Gás" e do Chacrinha da Rua de São Bento, enfim, dos lugares onde sempre se falou e comentou as ocorrências do glorioso futebol campista, sempre retratando a cultura e o bairrismo "papa-goiaba", que lhe dá a marca própria e inconfundível.
Até nos parece que o autor nasceu em Campos, jogou "baleba" na "Beira Valão", fez footing no "Beira Rio" nos dias de Regatas e foi "garoto" de um dos "infantis" de Coubert (Americano), Irênio (Rio Branco) ou Zé Policarpo (Goytacaz). De fato, nasceu no Rio Grande do Sul, mas adotou Campos como "pátria" e, pela "Intrépida Amazônia", para plagiar Azevedo Cruz, foi recebido como um dos mais caros filhos.
A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, que se propôs a recuperar a memória de nossa modalidade esportiva especializada, após a publicação da "História dos Campeonatos Cariocas" e da "Implantação do Futebol Profissional no Estado do Rio de Janeiro", vê, agora, quase que totalmente atingido o seu objetivo, representando o presente livro, sem dúvida, um dos segmentos mais importantes da história do esporte "bretão", em nosso Estado.
EDUARDO AUGUSTO VIANA DA SILVA

AMERICANO NO NACIONAL

Naquele 4 de março de 1975, o campista, ao acordar, foi sacudido por uma notícia tão importante quanto aquela de 22 de novembro de 1974, que deu conta da descoberta do petróleo nas águas fronteiras à praia do Farol de São Tomé: "Americano de Campos convidado para o Brasileiro", foi a manchete, por exemplo, de O Globo, cuja edição se esgotou logo.
- E nem poderia ser de outra maneira - declarou, na oportunidade, o jornaleiro Manoel, com banca de jornais muito concorrida junto ao prédio dos Correios.
O Bulevar Francisco de Paula Carneiro, onde se acotovelam industriais, fazendeiros, comerciantes, políticos, agiotas e toda uma imensidão de homens com tempo para discutir os mais diferentes assuntos, entrou em ebulição. É que na confluência da 7 de Setembro com Santos Dumont e o próprio Bulevar, também fazem ponto dirigentes de todos os clubes da cidade e até torcedores dos clubes do Rio. Ali, no prédio da antiga Confeitaria Império, o Americano possuía a sua sede-administrativa e, naquela manhã o secretário do clube, Válter Carneiro, de terno e gravata, riso largo em rosto magro, apareceu antes das 8 horas e hasteou a bandeira do Americano. Azulmar Rodrigues, então cobrador, soltou foguetes, enquanto que, na porta da Camisaria Cordeiro, que hoje não existe mais, Francisco das Chagas Siqueira, José Paes, Rômulo Barros, José Nolasco Filho, Ciro Braga, abnegados dirigentes alvinegros, conversavam em voz alta, abraçavam-se e cumprimentavam, sorridentes, os amigos que chegavam, entre os quais Benedito Chagas e José Gabriel, estes ligados ao Goytacaz.
Contar todos os detalhes dos acontecimentos que se verificaram naquela parte da cidade, inclusive na firma de Antônio Carlos Chebabe e Hamilton Paes, ou no Sindicato da Indústria e da Refinação do Açúcar, onde o maior número de funcionários torcia pelo Americano, é humanamente impossível. Até o Né, roupeiro com 40 anos de clube, deixou o Estádio Godofredo Cruz, em Parque Tamandaré, para correr ao centro e saber direitinho das novidades.
De mão em mão, os exemplares de O Globo eram lidos várias vezes pelos mesmos leitores, alguns ainda duvidando do que liam. Também pudera, o texto que se seguia à manchete dizia, entre outras coisas, que "o Americano de Campos será convidado para participar do Campeonato Brasileiro de Clubes deste ano, em homenagem à fusão entre os Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. É a primeira vez que um clube fluminense participará da competição, que deverá contar com 42 times, em vez de 40 como no ano passado".
Um pouco antes, a 26 de janeiro de 1975, José Cândido de Carvalho, campista e membro da Academia Brasileira de Letras, foi entrevistado pelo Jornal do Brasil, este, interessado em mostrar a todos os brasileiros um pouco de Campos, após a descoberta do petróleo em seu litoral. O romancista, ainda preso ao bucolismo, à tranqüilidade da terra, demonstrou, na tal entrevista, o receio que o dominava, ao dizer que a descoberta do petróleo e a corrida industrial que o mesmo provocaria, poderiam ameaçar uma obra muito valiosa, muito especial de Deus, num dia de inspiração, que se estende dos campos de açúcar até às águas do Paraíba. Esse seu apego à terra campista havia sido demonstrado, anteriormente, quando paraninfou a turma de formandos da Faculdade de Filosofia de Campos.
Aí reside, muito mais do que o bairrismo, o amor do campista à sua terra. Bairrismo e amor que têm suas origens orgulhosas na imensidão do lugar, quatro vezes maior do que o Rio de Janeiro, na riqueza dos canaviais, que se deitam na planície que nem lençóis sem tamanho na cor verde, na cultura de alguns dos seus ilustres filhos, no petróleo que jorra a 80 quilômetros no seu litoral, ou simplesmente na poética mansidão do lendário Paraíba, que, depois de muito andar, chega à foz em Atafona para se entregar, soberbamente, ao oceano Atlântico.
Mas esse orgulho se reflete também em outras atividades, entre as quais o futebol, que, desde a fase embrionária já contava com uma representação de grandes valores, a ponto de encantarem a platéia exigente do Rio de Janeiro, ou ainda do predomínio político, que teve o seu ponto mais importante em Nilo Peçanha, Benta Pereira, o símbolo do estoicismo feminino, e José do Patrocínio.
Em tudo o que é visto pelos olhos apaixonados de José Cândido de Carvalho, em relação a Campos, se percebe aquele sentido de preservação das tradições, muito típico da cultura da cana-de-açúcar, os velhos e belos casarões, alguns contando, ainda, com placas indicativas do que foram no passado, o respeito à religião, a viagem à Europa, o verão nas praias e a mulher, desde os tempos das melindrosas, participando dos grandes eventos esportivos, principalmente depois que o Americano ampliou sua praça de esportes para participar do Campeonato Brasileiro.
Na edição de 5 de março de 1975, O Globo lembrava, em matéria de duas colunas: "Campos vibra com o convite ao Americano", como título e, no texto, se lia: "A notícia publicada ontem por O Globo, anunciando a inclusão do Americano de Campos no Campeonato Brasileiro de Clubes deste ano, foi uma surpresa para a própria Diretoria do clube. O Presidente Oswalnir Barcelos disse que, para os torcedores, é o fato mais importante dos últimos anos.
- Até para a cidade a notícia é importante porque vai projetar o nome de Campos em todo o Brasil. Nós, do Americano, vamos fazer o impossível para defender com dignidade o futebol fluminense".
O Globo, na edição do dia 5, lembrava, ainda, que "A notícia causou grande movimentação na cidade: as emissoras de rádio interromperam seguidamente a programação de ontem para transmitir informações e entrevistas sobre o assunto". Mais adiante se lia que "no Rio, a assessoria de imprensa da CBD informou que o Comandante Jovino Pavan, futuro superintendente geral de esportes no governo da fusão, transmitira ao Almirante Heleno Nunes um pedido especial do Almirante Faria Lima para a inclusão do Americano de Campos no Campeonato Brasileiro de Clubes". O que poucos sabem é que, anteriormente e sem qualquer promoção pessoal, foi feito um trabalho de sondagem junto a Heleno Nunes pelo seu amigo Danilo Knifis que, mais tarde, acabou sendo eleito presidente da Liga Campista de Desportos, por iniciativa dos clubes locais.
No dia 23 de abril de 1975, o Monitor Campista abria manchete em sua página de esportes: "CBD aprova o Godofredo Cruz para o Nacional". E, numa matéria distribuída em três colunas e ilustrada com uma foto na qual apareciam Danilo Kniffis, Heleno Nunes, Roberto d'Affonseca Monteiro, Rockfeler de Lima e José Carlos Barbosa, descrevia um novo capítulo histórico do futebol campista:
"O Estádio Godofredo Cruz, do Americano, foi aprovado para o Campeonato Nacional, pelos assessores técnicos da CBD, Almir de Almeida e Cláudio Coutinho, que acompanharam o Almirante Heleno Nunes, Presidente da CBD, a Campos, no dia de ontem. A princípio fizeram algumas restrições, embora pequenas, mas salientaram que se tratavam de orientações para que o clube fizesse correções até o Nacional. Os dados por ele colhidos serão entregues agora a Armando Marques, que não acompanhou a comitiva.
Oficialmente, eles não prestaram esclarecimentos quanto à aprovação do Estádio. Mas isso foi comprovado quando da entrevista coletiva na LCD, pelas palavras do Almirante Heleno Nunes, que confirmou a presença do Americano no Nacional, representando o antigo Estado do Rio e em homenagem à fusão, por solicitação do Governador Faria Lima, que dará total apoio à iniciativa".
Na mesma matéria, o Monitor Campista informava que o Sr. Heleno Nunes chegara a Campos pouco antes das 13 horas, vindo em seguida seus assessores Almir de Almeida e Cláudio Coutinho. "Eles foram recepcionados no Hotel Planície, juntamente com o Comandante Jovino Pavan, que representava o Governador e, a seguir, participaram de um churrasco no Haras Dom Rodrigo, de propriedade de Amaro Gimenes. A comitiva carioca foi acompanhada por Murilo Portugal e Eduardo Augusto Viana da Silva, Presidente e Vice da FFD, pelo Prefeito José Carlos Vieira Barbosa e pela Diretoria do Americano. Por volta das 15 horas, o Presidente da CBD foi recebido pelo Prefeito no Palácio de Mármore, ocasião em que o Sr. José Carlos Vieira Barbosa se limitou a falar do município. Depois, em carro oficial, os dois, mais o Superintendente de Esportes do Estado, visitaram o Estádio Godofredo Cruz, onde já se encontravam Almir de Almeida e Cláudio Coutinho. Após percorrerem o gramado, que consideraram excelente, embora precisando de mais alguns metros no comprimento e dois, no mínimo, de largura, reuniram-se a portas fechadas no próprio Estádio, com o Prefeito e a Diretoria do Americano".
O Monitor Campista lembrava, também, que "na entrevista coletiva que concedeu na LCD, às 18 horas, um repórter perguntou se o Americano estava mesmo no Nacional. O Presidente da CBD respondeu com uma pergunta: Vocês ainda duvidam? Heleno Nunes disse da satisfação de visitar Campos - "Sou amigo de Campos" - e confirmou a presença do Americano no Nacional, independentemente de problemas que existam no Estádio, isso porque tem garantias de que a capacidade do Godofredo Cruz será de 20 mil espectadores até agosto e que a Prefeitura colaborará no restante das obras. O Prefeito fez questão de salientar que não existem problemas para o Americano participar do Nacional e que até mesmo o Aeroporto Bartolomeu Lizandro estará em condições, segundo garantias que já tem do Governo Federal".
Na tal matéria, o mesmo jornal citava que "as arquibancadas populares terão capacidade para 10 mil pessoas e que o Governo do Estado forneceria arquibancadas metálicas, enquanto à Prefeitura caberia a tarefa de melhorar as vias de acesso ao Estádio, que seria interditado e só reaberto, por proposição do Presidente Heleno Nunes, em agosto, quando a Seleção de Amadores viria a Campos jogar com o Americano, antes de viajar para o Pan-Americano".
O jornal A Notícia, no mesmo dia, apresentava outras novidades para o torcedor, como a contratação, por indicação do Presidente da CBD, do Tenente Geraldo Cunha para supervisor e de Roberto Pinto para treinar o elenco principal do Americano. Na oportunidade o Almirante Heleno Nunes dava outra idéia: "O Americano deve valer-se dos jogadores do lugar, que são muito bons, não fosse Campos um celeiro inesgotável". Informava, também, que a cota mínima de um grande clube, quando jogasse em Campos, seria de 36 mil cruzeiros, o que não abalou a Diretoria do Americano, que, a partir daquele momento, tratou de solucionar todos os problemas existentes, criando várias comissões e dando autonomia ao setor de obras para que o mesmo, com base num plano carinhosamente estudado, pudesse levar adiante a tarefa que lhe cabia. O Americano, a bem da verdade, e os jornais do lugar são testemunhas, não parou mais.
"Depois de permanecer fechado por 927 dias - cerca de 31 meses -, finalmente o Estádio Godofredo Cruz será reaberto ao grande público hoje à tarde, e com um jogo de expressão, reunindo o Americano - já com sua equipe que participará do Campeonato Nacional - e a Seleção Brasileira de Amadores - que intervirá no Pan-Americano, com idade limite até 18 anos".
A transcrição é do jornal A Notícia, de 13 de julho de 1975, cuja matéria se completava assim:
"Tudo está pronto no estádio alvi-negro para o festão de reabertura. Do vestiário dos visitantes às arquibancadas e bilheterias. E tudo isso motivará, certamente, muito mais a torcida, que deverá comparecer em massa ao Godofredo Cruz.
A programação do Americano, no entanto, não está restrita ao jogo contra a Seleção Amadora. Muito pelo contrário. Tanto é que vai começar às 10 horas, com um coquetel na beira da piscina do Saldanha à delegação brasileira, ao Presidente da CBD, Heleno Nunes, ao supervisor Almir de Almeida e ao chefe da delegação, Capitão Cláudio Coutinho - que por sinal fez uma bela palestra aos treinadores campistas, ontem à noite, no Salão Nobre da Receita Federal.
Às 12 horas, ainda no Saldanha, haverá o banquete aos visitantes e vários desportistas especialmente convidados, sendo que dali todos sairão para o Parque, onde o festão atingirá os seus maiores momentos.
Às 13h30min, o time B alvi-negro - formado por jogadores que até bem pouco tempo eram titulares - jogará contra um combinado de São João da Barra. Em seguida, haverá a entrega de faixas aos octacampeões e aos campeões da categoria dente-de-leite, começando então, às 15h30min, o aguardado Americano - com o que é considerado atualmente time A x Seleção Amadora Brasileira".
Num espaço mais abaixo, o mesmo jornal contava, sob o título "Um Estádio Com Uma Longa História", o seguinte: "Inaugurado em 1953, numa tarde de sol alegre e com muita festa, e com dois jogos de grande vulto: Bangu 4 x Goytacaz 1, Vasco 3 x Americano 2, o Estádio Godofredo Cruz atinge, em 1975, 22 anos de vida. 22 anos em que muita alegria e muita tristeza foram vividas pela torcida, que hoje, depois de quase 31 meses, retornará ao totalmente reformado estádio alvi-negro".
Dois dias depois, isto é, a 15 de julho de 1975, o jornal A Notícia publicava duas fotos do empate de 1 x 1 entre o Americano e Seleção Amadora e escrevia: "Se igualando tanto no primeiro como no segundo tempo, Americano e Seleção Brasileira de Amadores acabaram empatando anteontem, à tarde, no amistoso realizado para marcar a reabertura do Godofredo Cruz.
O gol da Seleção aconteceu logo aos 14 minutos. Brida recebeu excelente lançamento de Toninho Vanusa, fez ótima jogada sobre Luís Alberto e Paulo César e tocou para a rede, ante a saída de Paulão. O empate veio quatro minutos depois, através de Paulo Roberto. Luís Carlos cruzou da direita e o ponteiro, após uma confusão na área, bateu com categoria de perna esquerda, no canto direito de Carlos.
Paulo Antunes Filho, com boa atuação, foi o juiz da partida, bem auxiliado nas bandeiras por Manoel Agnelo e Iaraí Silva.
Cr$ 38.610,00 foi a arrecadação do encontro, sendo que as duas equipes formaram assim: Americano - Paulão (Bodoque); Nei Dias, Paulo César, Luís Alberto e Capetinha; Jairo, Didinho (Mundinho) e João Francisco; Luís Carlos, Chico e Paulo Roberto (Wallace); Seleção Amadora - Carlos; Carlos Alberto, Dick, Xará e Betinho; Celso, Aguillar (Éder) e Toninho Vanusa; Brida, Tião Marçal (Jarbas) e Da Silva.
Na preliminar, a outra formação do Americano empatou, também de 1 x 1, com o combinado de São João da Barra, dentro de uma programação festiva que contou com a presença do Almirante Heleno Nunes, instantes antes homenageado com um banquete no Saldanha.
"Roberto Pinto caiu. E a transa agora é em torno de Tim", foi a manchete da página esportiva de A Notícia, a 5 de agosto de 1975, uma terça-feira. Dois dias antes o Americano havia perdido de 1 x 0 para o Cambaíba, no Estádio Ari de Oliveira e Souza, em jogo pelo Campeonato Campista. Da matéria, em duas colunas, constava, entre outras coisas, este parágrafo: "Dizendo não sentir um clima propício para desenvolver o seu trabalho, o que poderia redundar numa campanha negativa do time no Campeonato Nacional, Roberto Pinto colocou, ontem, o seu cargo à disposição da Diretoria do Americano, que resolveu, afinal, chegar a um acordo com o técnico para a sua saída, passando logo em seguida a pensar no nome do novo treinador, que, em princípio, deve ser Tim".
Na seqüência dos acontecimentos que envolveram o Americano à véspera da sua estréia no Campeonato Brasileiro, de 1975, o Jornal dos Sports, no dia 7 de agosto, dizia que Paulo Henrique podia ser a solução para o clube alvi-negro, que se mostrava disposto a quebrar todas as lanças para armar um grande elenco e provar o seu poderio técnico, de octacampeão campista de futebol, título que orgulhava sua grande torcida.
Um dia antes, o time do Campos, treinado pelo ex-lateral do Flamengo, derrotou o Americano por 4 x 2, num amistoso realizado com portões abertos e como parte dos festejos em louvor ao padroeiro da cidade. Nessa mesma tarde, ainda em Godofredo Cruz, a cúpula do Americano conversou com Paulo Henrique, acertando as bases para um contrato entre as duas partes. Ao Campos, clube onde o treinador havia iniciado a nova carreira, saberia liberar Paulo Henrique, o que aconteceu no dia 8. Na véspera, o Americano dispensou os jogadores Paulão e Cacá.
O Jornal dos Sports do dia 8 de agosto escrevia que, ao assumir, ontem, a direção técnica do Americano, Paulo Henrique disse que não pediria reforço algum até que tomasse conhecimento da situação do elenco. Correu A notícia, no entanto, que o substituto de Roberto Pinto, no final da semana, conversaria com o atacante Dionísio, vinculado ao Flamengo, e que, no Americano, seria o homem-gol.
Quando da apresentação do novo técnico, muitos foram os dirigentes que estiveram em Godofredo Cruz. Nas arquibancadas de cimento e metálicas, se colocaram pelo menos duas centenas de torcedores e associados do clube, fato que, até então, não se verificara. O Presidente Oswalnir Barcelos, ouvido pelos jornalistas, declarava que as coisas iriam melhorar e a torcida disso logo tomaria conhecimento. Um dia antes, na parte da tarde, antecedendo a reunião na qual Paulo Henrique assinaria contrato com o Americano, o treinador percorreu todas as dependências do Estádio Godofredo Cruz. A todo instante era obrigado a dar atenção a associados, que faziam questão de cumprimentá-lo e até de lhe perguntar se também jogaria. Paulo Henrique, sorridente, respondia que no Americano seria apenas o técnico. "Aos dirigentes José Paes, Antônio Carlos Chebabe, Francisco das Chagas Siqueira e Ciro Braga, Paulo Henrique fez um pedido: que os mesmos conseguissem a liberação, para treinos, dos jogadores Adalberto e Messias, nos estabelecimentos bancários em que trabalhavam".
No dia 11 de agosto o Jornal dos Sports anunciava a vitória do Americano sobre o Rio Branco, por 2 x 1, na estréia de Paulo Henrique. Foi na abertura do quadrangular do qual participaram, também, Campos e Madureira, este do Rio de Janeiro. A decisão do torneio ocorreu no dia 14 e o Americano perdeu para o Campos por 2 x 1.
O mesmo jornal, edição de 18 de agosto, escrevia que, "embora realizasse uma apresentação melhor do que de outras vezes, o Americano foi derrotado pela seleção campista por 1 x 0, gol de Paulo César, aos 43 minutos do primeiro tempo. Carlos Costa foi o juiz, auxiliado por Silvestre Campos Filho e Aldemir Muniz Barreto". Esse amistoso foi disputado na tarde anterior, no Godofredo Cruz, e a renda somou Cr$ 12.043,00 (1.843 pagantes). Nesse jogo, incluído no teste 248 da Loteria Esportiva, o Americano jogou com Bodoque; Paulo César II, Mundinho, Luís Alberto e Capetinha; Wilson Pereira (Russo) e Ico; Luís Carlos, Messias, Rangel (Armando) e Paulo Roberto, e a seleção com Gato Félix; Guinho, Edalmo, Zé Rios e Paulinho; Aílson (Careca) e Índio; Lauro, Dódi (Tita), Paulo César e Zezé.
Na mesma edição, o Jornal dos Sports escrevia: "Depois do jogo, a Diretoria do Americano esteve reunida para tratar da aquisição de reforços para o time que disputará o Campeonato Brasileiro. Fontes geralmente bem informadas deixaram filtrar que o representante campista deva contratar Wilton Pereira e Russo, ambos do Rio Branco, de Vitória; Rangel, do América mineiro, e Armando, do São Paulo, pois todos agradaram no teste a que se submeteram no jogo de ontem".
O que é certo, e faz parte do dia-a-dia da história alvi-negra, é que, enquanto a parte patrimonial cuidava das obras de ampliação do Godofredo Cruz, já com pinta de futuro estádio de verdade, e a Diretoria arregimentava forças e constituía comissões às quais se agregavam grandes figuras do clube, o Departamento de Futebol não se descuidava. Tanto isso é verdade que, no Jornal dos Sports do dia 19 de agosto de 1975, se lia: "O Americano conseguiu, ontem, por empréstimo, os jogadores Gato Félix e Lauro, do Campos, e Índio, do Cambaíba. Hoje mesmo o clube de Parque Tamandaré dará entrada na LCD da documentação dos três."
Em prosseguimento aos preparativos do time para a estréia no Campeonato Brasileiro, Paulo Henrique dirigia dois treinos por dia. De manhã, tático para a defesa e, à tarde, coletivo. Desses movimentos o Jornal dos Sports sempre dava conta, como no dia 21 de agosto, ao anunciar a presença do goleiro Dorival, cedido, por empréstimo, pelo Madureira, do Rio de Janeiro. Gato Félix e Lauro, na véspera, assinaram contratos com o Americano.
Mais um dia e o Sr. José Paes, Vice-Presidente de Futebol, contratou o gaúcho Russo, que havia jogado ao lado de Bráulio, no Internacional. Na época, o médio morava em Vitória, onde concluía o curso de Educação Física e jogava pelo Rio Branco. Nas horas que se seguiram, Índio e Zé Rios, também emprestados pelo Cambaíba, assinaram contrato com o Americano, que só aguardava a chegada de Rangel, do América mineiro, para encerrar, segundo José Paes, o ciclo de contratações.
É bom recordar o que o Jornal dos Sports escrevia em suas várias edições até a estréia do Americano no Campeonato Brasileiro.
No dia 22, por exemplo, se lia: "No Parque Tamandaré, o ambiente é de trabalho, até mesmo fora das quatro linhas. É que estão sendo concluídas as novas cabines para as emissoras de rádio, e dados os retoques nas bilheterias e entradas para o público. Também o sistema de iluminação, que é muito bom para o interior, está sendo reparado. Na rua, por conta da Prefeitura Municipal, continua a ser colocado o asfalto na Cardoso de Melo e na Dom Bosco.
Na sede, dirigentes do Americano tratavam da venda de cinco mil carnês, cada um ao preço de Cr$ 105,00. Os carnês trazem sete ingressos, número de jogos do clube em Campos, pelo Campeonato Brasileiro. O comprador, ao chegar ao Estádio Godofredo Cruz, nos dias de jogos, terá um guichê e um portão para troca do ingresso e seu acesso. Com isso, o Americano espera conseguir a renda média de Cr$ 50.000,00.
Quanto ao time para a estréia, ele só será conhecido amanhã à tarde, após o treino recreativo dirigido por Paulo Henrique, que se mostra muito esperançoso de uma boa presença do Americano na competição da CBD. Ele não diz nada sobre a responsabilidade que lhe pesa sobre os ombros, mas alguns associados que acompanharam o trabalho de Roberto Pinto e que assistem agora ao de Paulo Henrique, são de opinião que o clube perdeu muito tempo até adotar uma posição definitiva sobre o técnico".
No dia 23 de agosto de 1975 o Jornal dos Sports escrevia que Albéris, que pertencia ao Goytacaz, havia comprado seu passe por Cr$ 10.000,00 e negociado com o Americano. O técnico Paulo Henrique, comentando essa aquisição, declarava que havia pedido Dionísio. Paralelamente, o Secretário de Vigilância Municipal, Gil Ferreira Azevedo, assinava portaria, liberando todas as linhas de ônibus para que transferissem seus terminais para as proximidades do Estádio Godofredo Cruz no dia do jogo com o Santos, o primeiro do Americano no Campeonato Brasileiro.
"Americano dá partida. Santos que se cuide", foi o título da matéria sobre o jogo, do Jornal dos Sports, no dia 24 de agosto de 1975. Nessa matéria se lia, entre outras coisas: "De uma forma geral, ninguém fala outra coisa a não ser no jogo de hoje, o primeiro de uma série de sete do Americano a ser realizado em Campos. O interesse é tão grande que a Liga Campista de Desportos fez horário extra para atender as crianças, menores de 12 anos, que compareceram à sua sede para conseguir carteirinhas que permitirão suas entradas no estádio, sem despesa alguma. Quanto aos ingressos, serão colocados à venda às 10 horas de hoje, em todas as bilheterias do estádio".
O Domingo Esportivo, semanário criado pela Editora Alvorada, do jornalista Vivaldo Belido de Almeida, dedicava grande parte da edição de 24 de agosto de 1975 ao Americano. Numa das muitas matérias, dava a relação dos jogadores inscritos pelo Americano no Campeonato Brasileiro, e que foi esta:
Adalberto Silva Laurindo, Albéris Batista, Alexandre José do Rosário,
Antônio Carlos Miranda Lírio, Carlos Alberto de Souza Padilha, Dorival Jonas dos Santos, Enísio Augusto Matta Vieira, Francisco Carlos Ribeiro Gomes, Francisco da Conceição, Guaraci de Oliveira Albuquerque, Jairo Pinto de Mendonça, João Francisco dos Santos Carvalho, Jorge Carlos de Souza, Jorge Luís Nascimento da Silva, Jorge Sebastião, José Edilson de Souza, José Henrique Bernardes, José Marcelo Balbi de Faria, José Maria Delfino, José Messias Porto, José Rios de Matos Franco, Lauro Pinto de Jesus, Luís Alberto Alves Severino, Luís Carlos do Amparo, Luís Fernandes de Oliveira, Marco Antônio de Souza Oliveira, Maurício dos Santos Sardinha, Nei Severino Dias, Orioval da Conceição Ribeiro, Paulo César Lourenço Porto, Paulo César Portela Nascimento, Paulo Roberto Borges da Silva, Raimundo do Amaral Dias Filho, Rangel Campi de Lamarque, Sebastião Campos de Moraes Filho, Sílvio Monteiro da Silva, Wallace Alexandre Blanc e Dionísio, o consagrado jogador que durante tantos anos defendeu o Flamengo, Fluminense e outros clubes de centros mais adiantados, só passou a integrar o elenco do Americano mais tarde, estreando justamente contra o rubro-negro carioca, no dia 3 de setembro, no Maracanã.
Tornar-se-ia cansativa, embora histórica, a transcrição de todos os jornais de 24, dia do jogo, e 25 de agosto de 1975, falando da vitória do Americano sobre o Santos. O entusiasmo entre os radialistas e jornalistas do lugar, na divulgação das notícias que antecederam e sucederam o jogo de estréia, contagiou por completo a população campista, tão apegada às glórias esportivas que outros centros, os mais adiantados, teimavam em não aceitar, e tão certa ainda da reputação de sua gente culta e rica, da sua garra ao trabalho e tão enamorada das belezas naturais, adoçadas pela leva quase continental de plantação da cana-de-açúcar, bem como da sua certeza de pólo, entre 14 municípios, no Norte do Estado. O campista se orgulha, também, de haver sido a sua terra a primeira a ganhar luz elétrica na América Latina, e de ouvir de Getúlio Vargas, quando Presidente da República, esta frase: "Campos, espelho do Brasil".
O Jornal dos Sports de 25 de agosto de 1975 estampava este título: "Campos vibra com Americano: 2 x 1 no Santos". Da matéria faziam parte algumas apreciações como as que se seguem: "O time mostrou que está no Campeonato pra valer. Jogou com entusiasmo, venceu e provou que nem só dos cariocas vive o futebol do novo Estado".
A ficha técnica desse jogo, o da estréia no Campeonato Brasileiro, está aqui: Americano - Dorival; Nei Dias, Mundinho (Luisinho), Luís Alberto e Capetinha; Ico e Didinho; Luís Carlos, Rangel, Messias e Paulo Roberto. Santos - Joel; Tuca, Oberdan, Bianchi e Zé Carlos; Clodoaldo e Didi (Alceu); Mazinho, Cláudio Adão, Toinzinho e Edu. Arbitragem de Luís Carlos Félix, auxiliado por Paulo Antunes e Célio Couto. Renda de Cr$ 191.000,00 (14.307 pagantes). 1º tempo - Empate de 1 x 1 (Paulo Roberto aos 10' e Mazinho aos 43'). Final - Americano 2 x 1 (Rangel aos 42').
É bom recordar, também, que quando Rangel fez o gol da vitória, a cidade se tomou de tal emoção pelo seu futebol, que foi improvisado um carnaval sem precedentes na vida do lugar. Os ricos, em seus carros, levaram suas famílias às ruas centrais onde já se encontravam centenas de torcedores comuns agitando bandeiras e batendo tambores. Os mais apaixonados, soltando foguetes, fizeram questão de passar pela Rua do Gás, onde se situa o Estádio Ari de Oliveira e Souza, do Goytacaz. E diante do próprio do eterno rival, se abraçaram, riram e choraram de alegria pela vitória sobre o Santos e, mais do que isso, pelo desespero do alvi-anil, preterido na escolha governamental em favor do Americano.

A GUERRA DOS CEM ANOS

Poucos, muito poucos mesmo, fora de Campos, são capazes de imaginar até onde possa chegar o grau de rivalidade existente entre o Americano e o Goytacaz. Ela vem de longe e há quem diga que surgiu antes mesmo do primeiro jogo entre os dois clubes, em 1914. O Goytacaz, na época, com dois anos, e o Americano vivendo seus primeiros dias, já se apresentavam aos olhos dos campistas como as duas forças irresistíveis do futebol local, embora o Internacional, o Campos e o Rio Branco fizessem por merecer as atenções gerais numa fase em que o futebol não contava com o grande número de adeptos de agora. Muitos anos depois, em 1975, com a inclusão do Americano no Campeonato Brasileiro, a gente alvi-anil se comprometeu, como um juramento que é feito à beira do túmulo, a não ver um jogo sequer dos sete que o rival faria no ampliado Estádio Godofredo Cruz, pelo certame promovido pela Confederação Brasileira de Desportos. Estranhamente, no entanto, o médico Nílson Cardoso de Souza, com raízes profundas de amor ao Goytacaz, veio da praia de Grussaí e entrou no Estádio Godofredo Cruz com uma placa: "Rivais em Campos, unidos no Nacional".
- Isto não quer dizer que mudei. Significa, apenas, que torço pela minha cidade. Agora, jamais beberei da glória que o Americano possa alcançar - comentou, na oportunidade, o conhecido médico.
Alguns anos antes, na Praça Nilo Peçanha, em Barra do Piraí, onde o Goytacaz teria que jogar contra o Central pelo Campeonato Fluminense, Salvador Araújo Nunes, ao saber da rivalidade existente entre o mesmo Central e o Roial, clubes daquela cidade, deu uma explicação que considerou lógica para provar o seu desamor ao Americano:
- No Rio, deixei de ser Botafogo só porque a sua camisa é igual à do Americano.
José Gabriel ainda tomava cafezinho, no Galeria, com Francisco das Chagas Siqueira, José Paes, Rômulo Barros e muitas outras figuras ligadas ao Americano. "Mas é - como dizia - para saber o que eles estão armando contra o Goytacaz". O médico Jacinto Simões, um dos grandes presidentes do Goytacaz e ex-jogador do São Cristóvão e do Vasco da Gama, no tempo em que estudava no Rio de Janeiro, não só não foi a qualquer jogo do Americano, no Campeonato Brasileiro de 1975, como também não parava na rua para "não perder tempo com esses merdas".
O certo é que Goytacaz e Americano nunca se deram bem e, quando partiu de Nílson Cardoso de Souza a idéia de levar aquela placa para o Estádio Godofredo Cruz, muita gente na Rua do Gás criticou o filho de Ari de Oliveira e Souza: "O Nílson parece que tem porcaria na cabeça!".
A guerra entre os dois grandes clubes foi, sempre, franca e aberta, muitas vezes atingindo as raias de brigas homéricas entre jogadores e torcedores dos dois clubes.
A Folha do Comércio, em fevereiro de 1923, publicava na primeira página matéria sobre o fracasso do jogo Americano x Goytacaz, que é transcrita, inclusive com a grafia da época:
"Conforme noticiamos hontem em primeira mão, o Goytacaz não aceitou o convite que lhe dirigira o Americano para a realização de uma partida de foot-ball no próximo dia 18.
Como não podia deixar de ser, a nova causou pasmo em nosso meio sportivo, notadamente nas rodas do Americano, onde se tinha como fora de duvida a acceitação do Goytacaz.
A notícia causou mais surpresa à vista dos precedentes, pois era notoria que a turma goytacaz não escondia a vontade de fazer a equipe do Americano conhecer o peso da homogenea esquadra alvi-anil.
Ademais, os paredros da valente sociedade sportiva da Rua do Gaz, quando abordados, sempre deram a entender que era cousa fóra de duvida a acceitação do convite.
Poucos dias ha que um prestigioso director do Goytacaz aventou a um influente alvi-negro, mais ou menos o seguinte: Fulano. Você que tem influencia no Americano, vê se arranja o seu club convidar o Goytacaz para um jogo, proximamente. O meu gremio não faz o convite para não parecer covardia, pois o nosso quadro está muito forte e o de voces um pouco desfalcado, e depois julgar-se-ha por ahi que quizemos aproveitar a ocasião.
O sportman alvi-negro discordou da superioridade do alvi-celeste e disse que o seu club - o Americano -, desconhecia toda essa força da esquadra alvi-anil, que não fazia medo e que iria ajeitar as cousas para a promoção do jogo.
Dias depois, o alvi-negro, em sessão de sua directoria, resolvia convidar o Goytacaz para um encontro de foot-ball; e, depois de algumas delongas. este club resolve rejeitar o convite do Americano.
Não nos é dado commentar as causas determinantes da rejeição do Goytacaz, e nos limitamos, somente, a exarar aqui o que colhemos de fonte que julgamos fidedigna".
Ainda na Folha do Comércio, era transcrito o ofício do Goytacaz ao Americano, nos seguintes termos:
"Respondendo ao vosso officio de 1º do corrente, cabe-me informar a vv.ss. que, em sessão de hontem, resolveu a nossa directoria, por unanimidade, não aceitar o honroso convite para o jogo amistoso que se realizaria no dia 18, de accordo com os desejos manifestados entre as esquadras deste club e as do clube de vv.ss.
A nossa recusa é motivada, apenas, pela vontade que temos de evitar a reprodução de certos factos lamentaveis que se tem observado no decorrer desses encontros, occurrencias estas que tem repercutido tristemente no nosso meio sportivo.
Devido a esses acontecimentos, temos chegado á conclusão de que os jogos entre os dois clubs deverão ser, tão somente, os que obedecerem aos campeonatos officiaes ou á disputa de trophéos instituídos.
Não escondemos a magua que essa deliberação obrigada nos causa, justamente agora, quando se acredita que a nossa principal equipe está em optimas condições de fórma, e ainda porque sempre demonstramos a maior satisfação em enfrentar as pujantes esquadras do club de vv.ss.
Não terminamos este sem pedir a vv.ss. licença para um leve reparo nos dizeres de vosso offício. É que, a nosso ver, a decadencia allegada por vv.ss. e por que atravessa o foot-ball campista, não tem como causa factora e preponderante a falta de jogos entre esses dois clubs, cujos jogos, de forma alguma resolverão esse caso de visível desanimo.
Entendemos que essa real decadencia é originada das consequencias más e desastrosas de factos recentes, cuja responsabilidade cabe á nossa política geral sportiva, contra a qual precisamos, todos nós, offerecer serio combate.
Esses encontros terminam após a luta. O enthusiasmo desses momentos, passa. Mas a decadencia caracterizada ficará, continuará insoluvel, se de nossa ação conjuncta não surgirem melhores desejos para a moralização do sport, competíveis com uma política de equidade, justiça, e de respeito ás leis que regem as cousas sportivas locaes.
Eis como encaramos a causa desse phenomeno gravíssimo que é a decadencia por que atravessa o foot-ball campista.
Com os protestos de nossa consideração, apresento-lhes os nossos cumprimentos.
O secretario, (a) Sílio Oliveira Reis.
Campos, 8 de fevereiro de 1.923".
Não foram poucas as vezes em que os dois grandes clubes deixaram de se entender. E disso dava prova, novamente, a Folha do Comércio do dia 2 de junho de 1927, ao anunciar que o Americano abandonara a Associação Campista de Esportes Atléticos porque essa concedeu inscrição ao center-half Malvino, pelo Goytacaz. Para o mesmo dia a ACEA programou o jogo América x Atlético no lugar de Americano x Atlético, enquanto que, no dia 7 de junho, o mesmo jornal divulgava que o Goytacaz resolvera manter a inscrição de Malvino, mas, para evitar perturbações no futebol, deixava de incluir o jogador nas partidas do campeonato.
Esse Goytacaz, que se sentiu relegado a um plano secundário quando a CBD convidou apenas o Americano para participar do Campeonato Brasileiro de 1975, nesse mesmo ano esteve a pique de perder toda a sua diretoria por culpa, segundo a edição de 3 de agosto do Domingo Esportivo, de uma jogada do alvi-negro.
"Foi o presidente Roberto Krunfly anunciar que se afastaria do cargo para o Conselho Deliberativo do Goytacaz se reunir extraordinariamente e, no final do encontro, expedir nota oficial na qual se lê: O Conselho Deliberativo do Goytacaz Futebol Clube vem de público hipotecar irrestrita solidariedade à Diretoria do Clube, não aceitando o pedido de demissão coletiva que lhe foi apresentado, em virtude das assacadilhas contra a moral de nossa agremiação, resolvendo ainda manter-se em reuniões permanentes, deixando para posterior divulgação as decisões que tomar em razão dos acontecimentos".
Tudo isso, segundo o Goytacaz, foi provocado pela atitude que considerou deselegante do co-irmão Americano, ao solicitar exame anti-doping para o jogo da última quinta-feira, entre os dois clubes. Lá mesmo no Estádio Ari de Oliveira e Souza o presidente Roberto Krunfly fez a declaração de que se afastaria. Na mesma hora, o Vice-Presidente da Liga Campista de Desportos, Sr. Amílcar Vieira Maciel, largou o cargo, deixou o local do jogo e não apareceu mais na entidade, da qual era também o diretor de futebol. Enquanto isso, o Vice-Presidente da Federação Fluminense de Desportos, Dr. Eduardo Augusto Viana da Silva, encaminhava o Dr. Fernando Samico para proceder o exame anti-doping.
Durante a reunião do Conselho Deliberativo do Goytacaz, os dirigentes Roberto Krunfly e Jacinto Simões fizeram questão de dizer que são favoráveis ao exame anti-doping, mas não da maneira como ele foi realizado. E a maneira foi esta: só para o último jogo e justamente porque o Goytacaz poderia ser campeão do primeiro turno, graças ao bom time que possuía. Acharam que tudo não passou de uma manobra da cúpula do Americano sob a tutela da presidência da Liga Campista de Desportos que, dizendo que protestava contra a medida, aceitava-a também.
Vários conselheiros alvi-anis fizeram uso da palavra durante a reunião e o que se verificou foi uma revolta muito grande de todos, não pelo fato de o exame ter sido feito, mas porque o pedido do alvi-negro à LCD e negado pelo Vice Amílcar Vieira Maciel deu entrada à mesma hora em que um outro chegava ao CND e no qual, como que adivinhando o que aconteceria em Campos, o clube de Parque Tamandaré alegava que a entidade campista havia negado autorização para o exame. A imprensa diária de Campos só divulgou isso no dia 30, portanto, em cima do jogo que, de fato, prendeu as atenções dos torcedores, a ponto de a renda ter sido seis vezes maior do que a maioria das demais rodadas duplas do campeonato desse ano. Mantendo-se em sessão permanente, o Conselho Deliberativo do Goytacaz aguardava o pronunciamento do médico Fernando Samico, que levara para o Rio a urina de Paulo Marcos e Naldo, do Goytacaz, e Luisinho e Chico, do Americano, para tomar outras decisões que considera importantes para manter elevada a moral do clube".
Ainda sobre o tal exame anti-doping solicitado pelo Americano, o Domingo Esportivo de 18 de agosto de 1975 publicava, na íntegra, a seguinte nota oficial emitida pelo Conselho Deliberativo e Diretoria do Goytacaz:
"O Goytacaz FC, por sua Diretoria e Conselho Deliberativo, vê-se, a contragosto, forçado a vir a público para definir posições e responsabilidades, a fim de cumprir elementar dever não apenas para com seus associados e adeptos, não apenas aos desportistas de Campos e a seus co-irmãos, mas a toda opinião pública em face do episódio verificado no dia 31-07-75. Silenciar seria admitir injúrias que a tradição e o nome do clube não podem deixar passar sem um desagravo.
De início, o Goytacaz FC quer deixar bem claro que lamenta a falta de ética e o uso de processos desprimorosos e em desacordo com os mais sadios princípios de relacionamento esportivo praticados pela Diretoria de um clube de tantas tradições como o seu co-irmão Americano FC e não quer envolver o mesmo clube em episódios tão deploráveis, preferindo fixar a responsabilidade do mesmo a sua atual Diretoria, que demonstra, pelos processos empregados, não estar em condições de manter a lisura e a boa ética que trouxeram o Americano, através dos anos, até o nível onde merecidamente se encontra.
O Goytacaz FC foi colhido de surpresa, pois jamais poderia admitir que o desvario de uma Diretoria conduzisse à prática de atos como aquele, visando a confundir e colocar o Goytacaz FC no pelourinho da opinião pública, através de um voto de suspeição injurioso e desrespeitador.
Durante a série de campeonatos levantados pelo seu glorioso rival, os dirigentes do Goytacaz FC jamais cogitaram, por um momento sequer, de tomar providências acauteladoras, fugindo de dar guarida a boatos e maledicências que envolviam tanto o uso de café estimulante, como a conduta e os atos esquivos de um seu representante no aliciamento de árbitros da Federação Fluminense de Desportos. No tal campeonato, jamais o Americano FC lembrou-se de exigir o exame anti-doping, motivo por que a apelação na última hora visou tão-somente a um golpe que tinha a finalidade de desprestigiar este clube. O Goytacaz FC jamais se colocaria contra a adoção da medida saneadora, não fosse o golpe baixo aplicado em cima da hora e ao arrepio do bom senso e dos regulamentos. E não se colocaria por não ter jamais apelado para recursos criminosos e sequer foi disso acusado, nem pela maledicência anônima e covarde.
Lamentamos a conduta da atual Diretoria do Americano FC, a qual se deixou levar por impulsos menos lisos, na preocupação de justificar, por antecipação, um possível resultado adverso, o que afinal não ocorreu. Lamentamos a conduta acomodatícia da Liga Campista de Desportos na pessoa do seu presidente, que foi alcançada na sua autoridade e não soube defender as tradições de altivez e independência dos esportes campistas, valores morais que foram resguardados pela atitude altiva e viril do Sr. Amílcar Vieira Maciel.
E por fim lamentamos profundamente que a atual Diretoria do Americano FC tenha praticado, no longo prazo de mais de 60 anos de rivalidade sadia, o ato mais desprezível que se poderia admitir no relacionamento entre nossos clubes. O Goytacaz FC não é um ajuntamento de irresponsáveis, mas uma das mais caras tradições de Campos. E esta posição inarredável não poderia mesmo ser atingida pela leviandade e conduta irresponsável de uma Diretoria que não pode responder pelas tradições gloriosas do Americano FC, a quem rendemos as nossas homenagens respeitosas".
A nota oficial do Goytacaz foi assinada pelos Srs. Salvador Araújo Nunes, Presidente do Conselho, e Roberto Krunfly, Presidente-Administrativo.
Muito antes, no dia 1º de fevereiro de 1968, Hervê Salgado Rodrigues, diretor do jornal A Notícia, escrevia:
"A falta de firmeza e de isenção de dirigentes e julgadores mais que a incompetência de árbitros de campo é que vai comprometendo o futebol brasileiro em toda parte. E ainda agora uma crise séria ameaça o nosso humilde futebol. O Goytacaz FC na quinta-feira, dia em que seriam julgados processos pelo órgão judicante da Liga, teve conhecimento de que um juiz estava sofrendo pressões para pedir vista do processo, a fim de beneficiar o seu adversário no dia seguinte. Seus dirigentes comunicaram a quem de direito a manobra e, certos de que o golpe seria de fato praticado, prepararam, por antecipação, ofícios à entidades e uma declaração para ser publicada nos jornais. Consumado o gesto deselegante e faccioso, o ofício e a declaração, que já estavam prontos, foram encaminhados a seus destinos, informando ao público que a sua equipe não disputaria a partida.
A posição assumida pelo veterano clube pode ser discutida. Nunca, entretanto, em termos desrespeitosos e, na base, insistente e maliciosa, de que o clube desrespeitou o público. Desrespeitar o público seria deixar que fossem vendidos ingressos e em cima da hora a equipe não disputar a partida.
A grande massa de torcedores, sócios e dirigentes do clube mais popular da cidade se queixa do tratamento que lhe é dado por alguns. Se houve outras manobras e golpes no passado, beneficiando o Goytacaz - coisa que não discutimos - o fato é que o clube foi, então, impiedosamente malhado. Agora, quando passou à condição de vítima, continuar sendo malhado é de amargar. Irrita, enerva e revolta.
Pedir vistas do processo é medida que tem amparo na lei jurídica. Só não tem, em determinadas circunstâncias, amparo na lei moral. Principalmente quando envolve aspectos de golpe conspirado e conhecido pela vítima por antecipação.
Mas em tudo isto o lamentável é o desgaste da autoridade de dirigentes. Qualquer que seja a solução do delicado problema surgido, o certo é que teria sido muito melhor que ele não tivesse ocorrido. Pois a verdade é que quando existe o estrito cumprimento dos deveres, tanto jurídicos como morais, não há necessidade de acordos ao arrepio das leis."
Desta rivalidade conta ainda um outro capítulo, lembrado pelo Domingo Esportivo em sua edição de 21 de setembro de 1975. Esse jornal publicava matéria sobre a criação da Força Jovem, primeira facção da grande torcida do Americano. Uma singularidade: moças da sociedade local faziam parte do grupo ricamente uniformizado. A foto, em cinco colunas, que ilustrou a matéria, mostrava moças e rapazes esticando enorme faixa em pano, na qual se liam, em letras enormes, Força Jovem, e em números menores os anos de 64, 65, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, nos quais o Americano havia conquistado os últimos campeonatos.
O ano de 66 foi substituído, na tal faixa em pano, por um cifrão ($), simbolizando uma transa desonesta de alguém do Goytacaz com os três goleiros do Americano, naquele ano.
Os jornais, tanto campistas quanto alguns do Rio de Janeiro, principalmente depois que Americano e Goytacaz passaram a disputar os certames estaduais e nacionais promovidos pelas entidades sediadas na Cidade Maravilhosa, nunca perderam tempo e sempre contaram, com riqueza de detalhes, episódios vividos pelos dois clubes, nos quais ficava evidenciada a rivalidade entre alvi-negros e alvi-anis. Em 1978, por exemplo, o Jornal dos Sports publicava matéria sob este título: "Americano x Goytacaz: Quem ganhou no campo não quer perder no Tapetão".
Essa matéria, publicada no dia 26 de abril, dizia que "Goytacaz e Americano, adversários históricos e dois dos clubes mais poderosos do Norte do Estado, continuam, no Tapetão, uma partida em que vibram golpes poderosos, em que se defrontam advogados famosos, especialistas em legislação esportiva, em que se medem também influência, prestígio e, porque não dizer, ambição e orgulho".
A matéria em cinco colunas, de alto abaixo da página seis, e muito bem apresentada graficamente, reatualiza rumoroso caso (também muito importante por sua própria natureza), pois constava da pauta do Tribunal Especial da CBD e seria apreciado três dias depois. Do texto de abertura, um tipo de vitrine para instigar o leitor a ler a parte mais ampla da matéria, faziam parte outras considerações, como esta: "Você pode analisar o pensamento e avaliar os argumentos do advogado do Goytacaz e, também, alcançar uma compreensão mais clara dos motivos alegados pelo Americano, na tentativa de ganhar pontos perdidos no campo".
Com um título menor - "A Expedição do Goytacaz à Bahia" - a matéria do Jornal dos Sports historiava tudo desta maneira:
"Edecir Oliveira, presidente, Jorge Fernandes de Sousa, vice, e Mituca, ex-jogador do Bangu e Canto do Rio e, na oportunidade, empresário, transaram os dois amistosos do Goytacaz na Bahia. Um em Itabuna, outro em Ilhéus, mais 70 mil cruzeiros, transporte em ônibus-leito da Itapemirim, e estada. Dos 70, 10 mil seriam de Mituca. Acertadas as bases, o clube campista viajou. Jogou em Itabuna, empatou e recebeu 35 mil. Foi a Ilhéus e não jogou. Tudo, segundo as rádios de lá, porque a torcida entrou no estádio sem pagar, o que, afinal, era um problema do promotor. Este cancelou o jogo em Ilhéus. O clube campista lembrou quedo contrato faziam parte dois amistosos, os 70 mil, a estada e o pagamento do transporte. Ficou então acertado que o Goytacaz enfrentaria de novo o Itabuna, na tarde seguinte, em Itabuna e não mais em Ilhéus. Na hora não havia juiz, quanto mais súmula para os jogadores assinarem, e tampouco relatório e delegado. Se foram vendidos ingressos, o Goytacaz desconhece. Sabe apenas que, conforme o combinado, recebeu os outros 35 mil cruzeiros, dos quais deu 5 mil de novo a Mituca. Terminado o primeiro tempo dessa segunda apresentação, Paulo Marcos, entrevistado por uma emissora baiana, declarou: Para o Goytacaz isto é um treino. Para o Itabuna, um jogo. Nós estamos querendo tocar a bola e eles estão entrando nela que nem famintos num prato de feijão. E esse juiz é uma graça. Uma pena que o Goytacaz, hoje um clube conhecido em todo o país, ainda necessite participar de coisas como esta. Reiniciado o jogo o juiz, ex-jogador do Itabuna, expulsou Wilson e Marcus Vinícius. Mesmo assim o Goytacaz fez o seu gol, perdendo de dois a um e vendo o troféu, ao que consta, oferecido pela Prefeitura Municipal de Itabuna, ser entregue ao clube local. Retornando a Campos, o Goytacaz iniciou os preparativos para estrear na Copa Brasil. Seu adversário, o Americano, rival desde 1914. Também começou a tratar da renovação de Wilson, hoje o maior estilista do futebol campista. Enquanto treinava e procurava resolver o problema que tinha pela frente, recebeu duas cartas do Americano. Uma, com o alvi-negro oferecendo 350 mil pelo passe de Wilson. Outra, informando que entraria com denúncia se Wilson enfrentasse o Americano e este perdesse o jogo. As duas cartas tiveram respostas. Veio o jogo. O Goytacaz escalou Wilson e ganhou de um a zero, gol de Coca. Aí o Americano, na pessoa do advogado Eduardo Augusto Viana da Silva, seu conselheiro, falou: Perdemos no campo mas ganharemos no Tapetão. E é na CBD que o novo jogo se arrasta, com jogadas iguais às de outras brigas entre os dois tradicionais clubes de Campos. E é o Tribunal Especial que, nesta terça-feira, dará a palavra final: ou valida o jogo, deixando com o Goytacaz os dois pontos que ganhou no Godofredo Cruz, ou impugna a vitória alvi-anil, dando ao Americano os dois pontos que tanto deseja "e, para o que é capaz de tudo", segundo Jorge Fernandes de Sousa".
Da mesma matéria fazia parte a entrevista do advogado vascaíno José Leopoldo Félix de Sousa, defensor do Goytacaz. Nela, o conhecido profissional e desportista citava os absurdos do processo, calcado, segundo ele, em mil e uma irregularidades, pois dela não constavam súmula, relatório e borderô. A Federação Baiana, consultada pela CBD a pedido do Americano, informou, por escrito, que o jogo fugiu às normas legais e que não foi responsável pela promoção. José Leopoldo Félix de Sousa citava, ainda, que "é sabido que toda a documentação de um jogo tem que estar na federação, para homologação ou impugnação do seu resultado, num prazo máximo de 48 horas, e o Americano só agora, 20 dias depois, é que consegue anexar ao processo um relatório sem o aval de qualquer autoridade desportiva baiana". No Tribunal Especial, o Goytacaz venceu por três a um e, no Superior Tribunal de Justiça Desportiva a vitória alvi-anil foi de sete a dois, enquanto Eduardo Augusto Viana da Silva, à porta do elevador, declarava - sem levar adiante seu intento - que a luta passaria para a Justiça Comum e que o Goytacaz não disputaria os jogos programados pela CBD.
Sem provincianismo, esta rivalidade toda mais parece uma nova Guerra dos Cem Anos, anunciava um artigo publicado no dia 20 de maio de 1978 no Jornal dos Sports.
Eduardo Augusto Viana da Silva, com grandes serviços prestados ao Americano, jamais desmentiu seu grande amor ao clube de Parque Tamandaré. Também sempre anunciou que essa rivalidade é que fortalece o futebol campista, entregue ao fanatismo otimista e fantasioso, por exemplo, de um Rosa Branca ou Suez, guarda municipal e adepto do alvi-negro que, entrevistado certa feita pelo O Globo, declarava, textualmente: "Prefiro levar uma surra de mulher do que o Americano perder para o Goytacaz. Para o Flamengo, Vasco, a gente aceita por enquanto. Mas para o Goytacaz, nem no treino".

A VEZ DO GOYTACAZ

A projeção alcançada pelo Americano, com a sua inclusão no Campeonato Brasileiro de 1975, não apenas desgostou a gente alvi-anil, que jamais admitiu o eterno rival em plano superior, como pôs a cúpula do Goytacaz em estado de alerta, já que uma guerra de repercussão nacional havia sido iniciada, com o adversário levando vantagem. Era preciso, portanto, fazer alguma coisa, justamente num ano em que o Americano, movido por um desejo de cada vez mais dominar o noticiário, se popularizar e ganhar foros de único clube de fato do lugar, pouco deixando para o seu adversário. Mesmo assim, numa demonstração de força fora do comum, de muito amor, Conselho e Diretoria arregaçaram as mangas e partiram para uma luta sem tréguas, aproveitando todas as suas reservas e a paixão incontida de uma torcida que só esperava por uma chance para mostrar até onde poderia chegar o Goytacaz.
- O Americano entrou no Brasileiro deste ano por causa da fusão. Ano que vem a vez será do Goytacaz e aí eles vão ver a diferença - comentou Zé Gordo, estudante de Filosofia que, em 1976, viria a se tornar o primeiro grande líder da torcida alvi-anil quando da inclusão desse clube no então Campeonato Carioca.
Desse desejo de atingir horizontes maiores ninguém escapou na Rua do Gás, conforme anunciava o Domingo Esportivo, edição de 10 de agosto 1975, ao publicar matéria na qual se lia que "em reunião realizada ontem à tarde, na sede social do clube, o Conselho Deliberativo do Goytacaz atendeu pedido formulado pelo Presidente Roberto Krunfly, autorizando a emissão de mil títulos de sócios-proprietários com valor individual a ser conhecido dia 25 deste mês, ocasião em que também a comissão nomeada ontem completará a primeira parte do seu trabalho, que é o de arranjar meios para que o alvi-anil parta para a ampliação de suas arquibancadas, construção de outros dois vestiários, banheiros populares e até lojas comerciais em torno do Estádio Ari de Oliveira e Souza.
Ficou decidido entre outras coisas que os associados passarão a pagar (os que puderem) 20 cruzeiros por mês e que uma comissão constituída dos Srs. Roberto Krunfly, José Carlos Maciel, Hervê Salgado Rodrigues, Fued Koury, Nílson Cardoso de Souza, José Gabriel, Ramiro Alves Pessanha Filho e Augusto Tinoco Faria se reunirá nesta terça-feira. Também a Diretoria do alvi-anil, a partir de agora, estará reunida nas noites de segundas e quintas-feiras".
No dia 14 de setembro de 1975, o Momento Esportivo publicava que "o Goytacaz está com um pé no Campeonato Estadual do ano que vem, juntamente com o Americano, segundo deixou entender ontem o Presidente Otávio Pinto Guimarães, da Federação Carioca de Futebol. Ele chegou, foi ao gabinete do Prefeito José Carlos Vieira Barbosa, diplomou os novos juízes da LCD e foi homenageado com um banquete no Automóvel Clube Fluminense. Foi lá que falou a Jacinto Simões, José Gabriel, Benedito Chagas e Augusto Machado Viana Faria, todos do alvi-anil, que esse clube e o Americano entrarão no Estadual de 76. Hoje, Otávio Pinto Guimarães, que se fez acompanhar de Murilo Portugal e Eduardo Augusto Viana da Silva, visita os campos do Goytacaz, Rio Branco e Campos, vai a São João da Barra, almoça na usina Sapucaia, assiste ao jogo Americano x Santa Cruz e depois será recebido pelo empresário Antônio Carlos Chebabe.
No meio da semana, os Srs. Augusto Tinoco Faria, Jacinto Simões e Benedito Chagas, acompanhados dos Srs. Alair Ferreira e Danilo Knifis, estiveram no oitavo andar da CBD. Lá conversaram com o Presidente Heleno Nunes e com o Comandante Jovino Pavan.
De volta a Campos, os três dirigentes disseram que tiveram uma boa impressão e que sentiam que o Goytacaz poderia esperar algum benefício da CBD, pois o próprio Presidente Heleno Nunes passou uma borracha nos mal-entendidos.
Os três dirigentes também ouviram o Comandante Jovino Pavan, que falou que a CBD tem o maior interesse em atender as necessidades dos seus filiados, bastando, para serem atendidos, que todos trabalhem e peçam".
Dia 5 de outubro de 1975, o mesmo semanário escrevia que "a Diretoria e a comissão criada pelo Conselho do Goytacaz vão se reunir hoje, a partir das 9 horas, na sede social do clube, no Estádio Ari de Oliveira e Souza, para traçarem os novos rumos do alvi-anil em relação ao seu crescimento patrimonial.
O encontro deverá ser dos mais concorridos, dele podendo fazer parte todos os conselheiros, conforme anunciou ontem o Presidente Roberto Krunfly. É possível que amanhã mesmo sejam iniciadas as obras na praça de esportes do Goytacaz, na Rua do Gás".
No meio da semana, membros da comissão criada pelo Conselho estiveram com o Prefeito José Carlos Vieira Barbosa, ocasião em que essa autoridade conheceu o plano de obras elaborado pelo pessoal técnico da Fundenor para o Estádio Ari de Oliveira e Souza.
Durante o encontro, que foi dos mais proveitosos para o clube da Rua do Gás, o Chefe do Executivo se prontificou a colaborar com máquinas e homens para as obras pretendidas pelo clube e ainda declarou que as obras deveriam começar o quanto antes.
Da mesma matéria faziam parte outros parágrafos, nos quais se liam que, "paralelamente, figuras respeitáveis do Goytacaz começaram a tratar dos detalhes sobre a realização das obras, para as quais o clube necessitará da ajuda de todos em Campos. Uma campanha popular será feita, possivelmente a partir do meio da semana.
O importante é que a cúpula do Goytacaz, sabedora de que o clube participará do Estadual do ano que vem, juntamente com o Americano e um clube de Volta Redonda, além dos 12 do Rio de Janeiro, não está querendo perder tempo e disso está dando provas.
A ampliação das acomodações no Estádio Ari de Oliveira e Souza é uma necessidade, como deixaram entender os Srs. Heleno Nunes, Presidente da CBD, e Otávio Pinto Guimarães, Presidente da FCF. E essa ampliação terá que estar concluída em março de 76.
Pelo comissão criada pelo Conselho estarão presentes à reunião os Srs. Hélson de Souza, Nílson Cardoso de Souza, Hervê Salgado Rodrigues, José Carlos Maciel, Benedito Chagas e Ramiro Alves Pessanha Filho".
No dia 12 de outubro de 1975, o Domingo Esportivo relatava outro episódio alvi-anil com esta matéria:
"O Sr. Roberto Krunfly, Presidente do Goytacaz, disse ontem que as obras para ampliação do Estádio Ari de Oliveira e Souza não se encontram em compasso de espera e sim sendo trabalhadas por fora para que, uma vez iniciadas, possam de fato ir adiante, como é desejo de toda a enorme torcida da Rua do Gás.
Falou também que o Goytacaz não vai ficar apenas nas obras que pretende realizar, mas também aumentar o poderio técnico do time, contratando os jogadores que de fato possuem qualidades. Um deles e que poderá ter a sua situação definida é o zagueiro Marcolino, que está se desligando do Rio Branco, da Avenida 7.
O Sr. Roberto Krunfly anunciou que os Srs. Jacinto Simões e José Gabriel são os coordenadores de uma campanha financeira popular que já está sendo movimentada através dos conselheiros do clube e que deverá render o suficiente para que o alvi-anil inicie as obras pretendidas.
Com relação à aquisição de bois para o leilão durante a Semana do Cavalo, disse que esta parte está mais com o conselheiro Floriano Pessanha, que já declarou para quem quisesse ouvir que a receita será para melhorar o sistema de iluminação elétrica do estádio".
É bom lembrar - e desse fato a imprensa campista não se deu conta que no dia 15 de setembro de 1975, por iniciativa do Almirante Heleno Nunes, realizou-se uma reunião no gabinete do presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Plínio Catanhede, da qual participaram, além do presidente mencionado, os Prefeitos de Campos e Volta Redonda (José Carlos Vieira Barbosa e Nélson Santos Gonçalves), Hildo Nejar, Almir de Almeida, Murilo Portugal, Otávio Pinto Guimarães, Eduardo Augusto Viana da Silva, Agathirno da Silva Gomes, Hélio Maurício, Wilson Carvalhal, André Richer e Guanair de Souza, para resolver sobre a participação, por convite, do Americano e de um clube de Volta Redonda, no Campeonato Carioca de 1976. No meio das discussões foi aventada a possibilidade da participação do Sapucaia, na época campeão estadual. Nesse momento, fazendo-se valer de todo um conhecimento de causa. Eduardo Augusto Viana da Silva levantou a hipótese da participação do Goytacaz, alegando ser um clube tão tradicional quanto o Americano, com o mesmo peso social e desportivo, que "não poderia ficar de fora de um campeonato do qual estivesse, por exemplo, São Cristóvão, Madureira, etc., de muito menos expressão que o próprio Goytacaz". Heleno Nunes fitou demoradamente Eduardo Augusto Viana da Silva e, em meio ao silêncio que se verificou no gabinete de Plínio Catanhede, acabou aceitando a idéia. Depois, sorridente, virou-se para o grupo e declarou, textualmente: "A melhor idéia é a do Eduardo Viana".
No dia 16 de setembro de 1975, portanto, um dia após a tal reunião no gabinete de Plínio Catanhede, a coluna Câmera, do Jornal dos Sports, publicava esta nota:
"Dirigentes do Goytacaz revelaram ontem ter recebido promessa do presidente Otávio Pinto Guimarães, de que o clube será incluído no próximo Campeonato do Estado do Rio de Janeiro, em 1976. Diante disso, marcaram uma reunião do Conselho Deliberativo para a noite de quinta-feira, quando será discutido o plano de obras, visando a dar ao Estádio Ari de Oliveira e Souza a capacidade mínima de 25 mil espectadores. Em princípio a obra está orçada em 4 milhões de cruzeiros. Segundo o presidente Roberto Krunfly, o plano para ampliação do estádio foi elaborado pelo corpo técnico da Fundenor e prevê a a construção de um pavilhão social com o comprimento do campo, de frente para a Rua do Gás, onde serão construídas 12 lojas para serem alugadas. As arquibancadas crescerão por trás das duas metas, sendo que a do lado da Rua Formosa terá também em sua face externa lojas para serem alugadas. A remodelação do sistema de iluminação e outros melhoramentos fazem parte do plano que deverá ser colocado em execução o mais rapidamente possível. Alguns conselheiros defendem, no entanto, a compra de uma outra área, onde seria erguido um novo estádio, em local mais distante do centro da cidade. Ao mesmo tempo, o Prefeito José Carlos Vieira Barbosa afirmou que a Prefeitura auxiliará o Goytacaz em tudo que for possível, para que o clube possa entrar no campeonato do Estado, juntamente com o Americano".
No dia 10 de outubro de 1975, o Jornal dos Sports citava que "o Goytacaz, por causa do pedido feito pelo Presidente Heleno Nunes, da CBD, e Otávio Pinto Guimarães, da FCF, para que amplie as acomodações do Estádio Ari de Oliveira e Souza, vive momentos de intensa agitação. Todos, conselheiros, diretores, associados e torcedores, trabalham em várias campanhas, objetivando conseguir recursos para que as obras possam ser iniciadas o quanto antes".
Toda essa atividade da gente alvi-anil, foi acompanhada de perto pelo Jornal dos Sports que, na edição de 19 de novembro de 1975, anunciava a chegada de técnicos de uma firma em construção metálica para esse dia. Segundo a matéria, os tais técnicos fariam o levantamento da área disponível para construir as arquibancadas do Estádio Ari de Oliveira e Souza. Roberto Krunfly dizia, então, que a firma completaria sua tarefa em 60 dias. Os tais técnicos acabaram não aparecendo, o tempo foi ficando curto e o Goytacaz, dono de ambições que não tinham mais tamanho, mas sem condições de realizar aquilo que mais desejava, passou a cuidar da política interna. E o mesmo Jornal dos Sports de 12 de dezembro de 1975 publicava o seguinte:
"O Sr. Jorge Fernandes de Sousa declarou ontem que não retira sua candidatura à presidência do Goytacaz, embora saiba que alguns conselheiros estejam procurando outro nome para concorrer com ele no pleito da próxima segunda-feira, dia 15.
A eleição presidencial no Goytacaz é assunto tão importante para o setor esportivo da cidade que até em estabelecimentos bancários ou casas comerciais, ela vem sendo ventilada a todo o instante. Para Jorge Fernandes de Sousa, que concorre pela segunda vez, isto é sinal de grandeza do seu clube.
Jornais locais de 15 dias para cá vêm dedicando boa parte de suas páginas esportivas ao pleito. Fonte oficial do Conselho dizia ontem, no Bulevar Francisco de Paula Carneiro, que a eleição do Sr. Jorge Fernandes de Sousa é praticamente certa, mesmo porque os demais nomes cogitados por aquele órgão não aceitaram.
- Minha candidatura é para valer e não a retirarei. Que apareçam outros candidatos, mas que concorram comigo. Eu, só em ser candidato, sinto-me honrado, porque a presidência do Goytacaz não é cargo para qualquer um. Agora, que façam o jogo aberto e franco e não o que fizeram ano passado - disse Jorge Fernandes de Sousa".
Jorge Fernandes de Sousa foi eleito o novo presidente do Goytacaz e, segundo os jornais locais e até o Jornal dos Sports do dia 18 de dezembro de 1975, ele assumiria o cargo, que estava sendo ocupado por Roberto Krunfly, no dia 29, ocasião em que o Conselho Deliberativo se reuniria solenemente. A chapa perdedora tinha Amaro Escovedo como candidato, que acabou ficando vice na vencedora.
"Ontem à noite - Jornal dos Sports de 7 de janeiro de 1976 -, na presença de dezenas de figuras ligadas ao esporte local e associados e conselheiros do clube, o Sr. Jorge Fernandes de Sousa foi empossado na presidência do Goytacaz. Da programação constaram a sessão solene do Conselho, durante a qual tomou posse toda a nova Diretoria, e um coquetel dos mais concorridos. O novo presidente declarou que o clube conseguirá nas próximas horas empréstimo bancário para iniciar as obras do Estádio Ari de Oliveira e Souza, enquanto os diretores que saíram homenagearam o ex-Presidente Roberto Krunfly, inaugurando um pôster na galeria dos presidentes, além de presenteá-lo com uma placa de prata".
No dia 14 de janeiro de 1976, o Jornal dos Sports publicava matéria que é, de novo, aqui transcrita, porque, mais uma vez, faz parte da história do futebol do lugar:
"Surpreendentemente, o Goytacaz, através do Presidente Jorge Fernandes de Sousa e do Diretor de Futebol Ronaldo Simões, contratou, ontem, durante um almoço, o treinador Paulo Henrique, que havia pedido licença de 20 dias ao Campos, clube com o qual possuía contrato verbal.
Desde a véspera, à noite, quando da reunião normal da Diretoria, a contratação do novo treinador estava prevista. O assunto chegou a gerar alguma discussão, com determinados diretores achando que não era a hora de mudar a direção técnica do elenco, em poder de Ualdo Pessanha".
No dia 20 de janeiro de 1976, o Jornal dos Sports publicava o seguinte texto:
"Depois de uma reunião de quase cinco horas, na qual a grande dificuldade foi vencer a resistência do Presidente Francisco Horta, firme na disposição de vetar a presença dos clubes do interior, os clubes cariocas aceitaram, finalmente, a fórmula de disputa do Campeonato Carioca de 1976. O convite ao Americano e Goytacaz, de Campos, e ao Volta Redonda, foi ratificado, estabelecendo-se, apenas, duas exigências (formuladas pelo presidente do Fluminense) para a sua participação. O campeonato será disputado em três turnos: o primeiro com 15 clubes e os outros dois com 8. O turno decisivo terá os três campeões dos turnos anteriores, além do vencedor do turno de reclassificação".
No dia 22 de janeiro de 1976, a coluna Câmera, do mesmo Jornal dos Sports, publicava que "o Americano e Goytacaz, de Campos, além do Volta Redonda, da cidade do mesmo nome, serão oficialmente convidados para disputar o Campeonato Carioca. O encontro entre o presidente da Federação Carioca de Futebol e os dirigentes daqueles clubes será na próxima quarta-feira, na sede da entidade. Na oportunidade, serão também inteirados das exigências que os seus clubes terão de cumprir para que possam participar do certame. Nos primeiros dias de fevereiro, Americano, Goytacaz e Volta Redonda receberão a visita dos presidentes dos clubes cariocas. Será, antes de tudo, uma autêntica vistoria, em que os dirigentes verificarão as condições dos novos filiados em termos de estádio e organização. Pelo que se sabe, o Americano possui um estádio razoável, que permitiu que disputasse o Campeonato Brasileiro. Sobre o Goytacaz, não existe nenhuma informação concreta. Já o Volta Redonda, que disputará o campeonato no estádio da Siderúrgica, está ampliando a sua capacidade graças ao apoio do prefeito da cidade".
Só no dia 13 de fevereiro de 1976 foi que o campista, particularmente o torcedor alvi-anil, teve certeza da inclusão do Goytacaz no Campeonato Carioca. É que, nesse dia, o Jornal dos Sports, em sua última página, publicava, a tabela aprovada na véspera e na qual se via, como novos integrantes da competição, Goytacaz, Americano e Volta Redonda, que se juntaram aos 12 clubes do Rio de Janeiro.
Dias antes, mas no mês de fevereiro e depois de tantas tentativas da Diretoria anterior, Jorge Fernandes de Sousa deu uma prova de coragem e de intensa paixão pelo Goytacaz. Com apenas Cr$ 8.000,00 em caixa, partiu para a mais arrojada iniciativa do clube nos últimos anos: ampliar o Estádio Ari de Oliveira e Souza. Isso aconteceu num momento em que, naquela praça de esportes e ao cair da tarde, só se encontravam três dirigentes: Jorge Fernandes de Sousa, presidente; Fernando Freitas, tesoureiro, e Jacinto Simões, uma espécie de cardeal a caminho de uma sagração maior. Os três, sabedores de que o Goytacaz entraria no próximo campeonato da Federação Carioca de Futebol, e por dentro do trabalho que o Americano desenvolvia no Estádio Godofredo Cruz, não perderam mais tempo e partiram para a grande obra. Para iniciar um mundo de melhoramentos de que se orgulha a própria cidade, fecharam o estádio, derrubaram árvores que se erguiam frondosas atrás dos dois gols e transformaram toda a área num enorme e movimentado canteiro de obras.
Também em fevereiro de 1976, o Goytacaz, atacando em outra frente, contratou os jogadores Kiko, Batista, Tita, Joaquinzinho e Marcos e, ao mesmo tempo, divulgou uma lista de dispensa de 10 jogadores, entre os quais três considerados, até então, titulares: o goleiro Juvenal, o zagueiro Nad e o meio-campo Naldo. Os demais liberados foram: Gustavo, Jamil Abud, Alexandre, Beraldi, Capenga, Julinho e Claudemiro.
O noticiário do clube divulgado pelo Jornal dos Sports, edição do dia 25 de fevereiro de 1976, lembrava o seguinte:
"Segundo o Diretor Ronaldo Simões, o Goytacaz também contratará uma cozinheira e aproveitará os ex-juvenis Jorge Luís, Serginho, Nilo, Viê, Paulo Cabral e Carnaval, que se integraram ontem mesmo ao time titular e treinarão sob o comando de Paulo Henrique.
Na reunião ordinária da Diretoria, segunda-feira, o dirigente Ronaldo Simões adiantou que a folha de pagamento do time oscilará entre 30 e 35 mil cruzeiros. Explicou que o salário-teto será de 2 mil e 500 cruzeiros e que os jogadores que trabalhavam já deixaram os empregos para se dedicarem exclusivamente aos treinos.
Para que haja dinheiro suficiente a ser empregado nas obras de ampliação do Estádio Ari de Oliveira e Souza, o clube incentivará a venda de títulos de sócios-proprietários. Sabe-se que a receita só poderá ser revertida em favor do patrimônio, o que levou a direção do clube à idéia de formar uma assessoria especial, a fim de ajudar o Departamento de Futebol".
No dia 27 de fevereiro de 1976, o Jornal dos Sports publicava que "o Presidente Jorge Fernandes de Sousa, empolgado com o andamento das obras que permitirão um lance de arquibancadas de 60 metros com 17 degraus, está querendo começar um outro atrás do outro gol. Com isso, o alvi-anil ganharia acomodações para mais 6.120 torcedores, que se juntariam às arquibancadas populares de mais de 100 metros, e o pavilhão social. Sabe-se que, para isso, existe um plano de ampliação no comprimento do campo".
Com o Estádio Ari de Oliveira e Souza em obras e com a proximidade de estréia do clube no Campeonato Carioca, o Goytacaz passou a enfrentar outro terrível drama: o de ter que se servir do Estádio Godofredo Cruz, do Americano, para a realização dos seus jogos. E o Jornal dos Sports do dia 6 de março de 1976 registrava desta maneira: "Ocorre que, no ano anterior, Diretoria e Conselho alvi-anis divulgaram nota oficial criticando a Diretoria alvi-negra. Os dois clubes não se aceitam. Francisco das Chagas Siqueira, benemérito, lembra que o Goytacaz, em várias oportunidades, quando o Americano estava com obras no seu estádio, negou a sua praça de esportes. Uma vez o Americano teve que decidir um título com o Rio Branco, no Ângelo de Carvalho. E uma terceira, com o Sapucaia, no Mílton Barbosa. Também negou o estádio para a festa do octacampeonato. Francisco das Chagas Siqueira disse que o Americano não atenderá o Goytacaz, mesmo que Heleno Nunes e Otávio Pinto Guimarães peçam. A tal nota do Goytacaz foi aquela de agosto de 1975, quando houve o rompimento entre os dois clubes".
As edições seguintes do Jornal dos Sports registravam, com riqueza de detalhes, todos os lances de uma jogada que a imprensa campista da época também historiava em terrível estado de beligerância, por culpa, é claro, da simpatia dos jornalistas do lugar por um e outro clube. E o chanceler da paz, como chegou a ser chamado pelo radialista Eraldo Bento Siqueira, da Rádio Campos Difusora, foi o Vice-Presidente da Federação Fluminense de Desportos, Eduardo Augusto Viana da Silva.
No dia 9 de março de 1976 o Jornal dos Sports lembrava que "de sábado para domingo várias foram as reuniões realizadas em separado entre dirigentes do Goytacaz e do Americano, e até uma em conjunto, na qual ficou resolvido que o segundo clube atenderá o primeiro na cessão do Estádio Godofredo Cruz, para os seus jogos no Campeonato Carioca. Ontem, pela manhã, o Americano já tinha pronto o ofício para ser entregue ao Goytacaz, e que só dependia do Presidente Oswalnir Barcelos para assiná-lo".
Na edição do dia 10 de março, o mesmo Jornal dos Sports dizia que, "depois que os dirigentes do Americano e Goytacaz assinaram um pacto de amizade, as coisas melhoraram e o primeiro deles já enviou ao segundo, ofício através do qual cede, em caráter de aluguel, o Estádio Godofredo Cruz para os jogos pelo Campeonato Carioca. O primeiro documento foi redigido em termos elevados pelo Sr. Eduardo Augusto Viana da Silva, Vice-Presidente da FFD e representante dos dois clubes na Federação Carioca de Futebol. Pelo documento, os dois clubes se desculpam pelos excessos cometidos um contra o outro e se propõem a trabalhar de comum acordo em favor do futebol campista".
Resolvido o problema, o Goytacaz voltava a ser notícia na edição de 14 de março de 1976, no Jornal dos Sports:
"Para disputar o Campeonato Carioca, o Goytacaz passou a contar com Marcos, Batista, Kiko, Zé Rios, Tita, Idelvan, Lauro, Zé Neto, Samuel, que se juntaram a Miguel, Augusto, Totonho, Paulo Marcos, Marcolino, Júlio César, Ricardo Batata, Wílson, Jocimar, Piscina, Tuquinha, Chico, Paulo Cabral, Carnaval e Serginho. O clube adquiriu novas camisas, calções, meias, chuteiras, sungas, ataduras, roupões, luvas para os goleiros, toalhas e bolas".
A estréia do Goytacaz no Campeonato Carioca foi na tarde de 14 de março de 1976, um domingo, quando o Estádio Godofredo Cruz recebeu 19.834 pagantes e, pelas suas bilheterias passaram Cr$ 395.720,00, até então a maior renda registrada no lugar. O Flamengo venceu o jogo por 3x0, gols de Caio (2) e Luisinho, jogando com Cantarele; Toninho, Rondineli (Dequinha), Jaime e Júnior; Merica, Osvaldo e Tadeu; Caio, Luisinho e Zico, e o Goytacaz com Miguel; Totonho, Paulo Marcos, Marcolino e Batista; Ricardo Batata, Wílson e Kiko; Piscina (Lauro), Tuquinha (Chico) e Zé Neto. O juiz foi Aírton Vieira de Moraes.
Vencida mais uma batalha, que foi a inclusão no Campeonato Carioca, a gente alvi-anil não sossegou enquanto o Goytacaz não foi relacionado pela CBD entre os participantes do Campeonato Brasileiro, o que não aconteceu em 1976, para desespero e até revolta de grande parte da cidade, com reflexos no Rio de Janeiro, onde o jornalista Miro Teixeira, na edição do O Dia de 26 de julho desse ano escrevia:
"Apesar das promessas do Almirante Heleno Nunes, Presidente da Confederação Brasileira de Desportos, o Goytacaz, um dos mais queridos clubes de Campos, estará mesmo ausente do Campeonato Nacional que este ano terá 54 concorrentes. Interrogados sobre as causas da não inclusão do valente time campista, os donos da CBD usaram como argumento o fato de não possuir ele um bom campo de futebol. A desculpa é esfarrapada, porque tais razões não valeram para, pelo menos, uma dezena de times estaduais que vão participar do maior torneio do mundo. Para não ir mais longe, vale lembrar que aqui mesmo, no Rio, o Botafogo não possui um campo e nem por isso foi afastado. E ninguém, em sã consciência, poderia admitir um campeonato de âmbito nacional sem a participação do alvinegro carioca.
É grande a revolta entre os esportistas e toda a população campista contra a discriminação da CBD, injusta e injustificável. Mesmo porque, além de ter feito uma excelente figura no atual Campeonato Fluminense, enfrentando de igual para igual os grandes clubes, o Goytacaz já tinha conseguido a promessa de seu grande rival, o Americano, para usar o seu campo sempre que necessário. Na hora de defender o prestígio do futebol campista, os dois grandes clubes se irmanaram, dando um grande exemplo de solidariedade esportiva.
A Confederação Brasileira de Desportos está na obrigação de justificar a sua atitude. Se é que ela tem justificativa".
Uma outra data muito importante para o Goytacaz é a de 7 de agosto de 1977, quando da reabertura do Estádio Ari de Oliveira e Souza, fechado para obras em fevereiro do ano anterior. Antes dessas obras, em 1976, dois jogos foram realizados: um deles, a 29 de janeiro, com o Goytacaz empatando em 1x1 com o Americano; outro, a 4 de fevereiro, com o Americano vencendo o Cambaíba por 1x0. Também nesse longo período de ano e meio, o Goytacaz havia trocado de presidente, com Rafael Martins assumindo no lugar de Jorge Fernandes de Sousa e, claro, daquela data de fevereiro de 1976 a agosto de 1977, muito coisa bonita aconteceu e disso tomou conhecimento o público de quase 10 mil pessoas que assistiu ao jogo Goytacaz x Botafogo, na reabertura da praça de esportes alvi-anil. E o que essa gente viu não foi pouco, pois ali, como que num passe de mágica, agigantavam-se dois grandes lances de arquibancadas ao fundo dos gols, sobre os quais foram colocados dois bonitos placares. Nova saída foi dada ao túnel fronteiro às sociais e outros três foram construídos, um deles para os juizes, que ganharam um vestiário sob as populares. Nas sociais foram feitas mais quatro cabines para as emissoras de rádio e nelas ainda colocadas 697 cadeiras em fibra de vidro nas cores branco e azul. Novas bilheterias, roletas e até o sistema de iluminação, mais a casa de força com dois novos transformadores além das luminárias conseguidas junto ao Jóquei Clube de Campos passaram a fazer parte do patrimônio do clube, como o moderno sistema de drenagem com 19 valas com 40 centímetros cúbicos cada uma no comprimento das laterais do campo e outra em toda a sua volta se escondia sob o novo gramado plantado de pé em pé sob a orientação do pessoal técnico da Fundenor.
Naquela tarde de 7 de agosto de 1977 as rádios lembraram alguns nomes aos quais o Goytacaz deveria render homenagens. Entre eles, Jorge Fernandes de Sousa, Jacinto Simões e Fernando Freitas que, arriscando até mesmo o prestígio pessoal, deram início à empreitada, mais José Gabriel, Nílson Cardoso de Souza, o veterano Vavá que temeu o coração apaixonado e ficou em Grussaí na hora da festa de reabertura do estádio e o mestre-de-obras Acácio que, antes, havia ajudado o Americano a ampliar o Godofredo Cruz. Rafael Martins, nem sempre compreendido e até mesmo criticado por alguns, também teve parte importante na realização de tantas obras ali mostradas com a ajuda da enorme torcida alvi-anil.
Nesse dia 9.624 pagantes fizeram passar pelas bilheterias a importância de Cr$ 285.900,00, o Prefeito Raul Linhares hasteou a Bandeira Nacional e ao lado de Otávio Pinto Guimarães, Presidente da Federação Carioca de Futebol, assistiu ao Goytacaz perder de 1x0 para o Botafogo, gol de Nílson Dias, aos 5 minutos do segundo tempo. Giese do Couto foi o juiz e os dois times jogaram assim: Goytacaz - Acácio; Totonho, Paulo Marcos, Zé Rios e Tita; Wílson, Ricardo Batata e Jocimar; Vivinho (Santana), Albéris (Chico) e Piscina; Botafogo - Zé Carlos; China, Osmar, Renê e Jorge Luís; Ademir, Dé e Mário Sérgio; Gil, Nílson Dias e Tiquinho.
No início de setembro de 1977, Rafael Martins, então presidente do Goytacaz, combinou com Eduardo Augusto Viana da Silva, que se encontrava no exercício da presidência da FFD, uma estratégia para colocar o Goytacaz no Campeonato Nacional. O encontro dos dois ocorreu num barzinho da Praia de Grussaí, em meio a comes-e-bebes. Da tal estratégia fazia parte todo o tipo de pressão, inclusive emocional, sobre o Almirante Heleno Nunes que, aproximadamente num prazo de dez dias começou por promessa solene ao próprio Eduardo Viana, que se fazia acompanhar de Rafael Martins e José Carlos Maciel. Da mesma forma que o Olaria havia cedido lugar ao Americano, dessa vez coube ao Bangu, obviamente bastante contrariado, abrir mão da sua possível vaga em favor do Goytacaz que, a bem da verdade, só participou do Nacional de 1977 porque Eduardo Augusto Viana da Silva, mais uma vez, foi convincente na tese que defendeu junto ao então presidente da CBD.
No dia 27 de setembro de 1977 o Jornal dos Sports divulgava, em sua primeira página, a relação dos 62 participantes do Campeonato Brasileiro e o Goytacaz aparecia no Grupo D, juntamente com o Vasco da Gama, o Botafogo e mais Americano, Goiás, Vila Nova, Goiânia, Brasília, Atlético Paranaense e Londrina. Sua estréia nessa competição foi na noite de 20 de outubro, no Ari de Oliveira e Souza, quando empatou em 1x1 com o Goiás, gols de Coca, aos 18 minutos do primeiro tempo, e Pastoril, cobrando pênalti, aos 6 minutos do período final. O Goytacaz jogou com Augusto; Totonho, Folha (Serginho), Marcus Vinícius e Neneca; Ricardo Batata, Wílson e Coca (Jocimar); Joadir, Rogério Vescovis e Edu, e o Goiás com Marcos; Triel, Macalé, Alexandre e Donizetti; Alencar, Pastoril e Lucinho; Rubinho (Píter), Humberto (Maizena) e Reinaldo, e a renda foi de Cr$ 152.720,00 (5.301 pagantes).
Antes do jogo de estréia no Campeonato Brasileiro, o Conselho e a Diretoria do Goytacaz homenagearam o Presidente da FCF, Otávio Pinto Guimarães, com um banquete no Pálace Hotel. Dessa homenagem também participaram, entre outros, o Prefeito Raul Linhares, o ex-Prefeito Rockfeler de Lima e o Presidente da Liga Campista de Desportos, Danilo Knifis. Na ocasião, o dirigente carioca, de improviso, declarava:
- Reitero o meu agradecimento ao Goytacaz por essas gentilezas todas que seguidamente me cumula. De fato, o título de padrinho do Goytacaz é sumamente honroso para mim, embora o Goytacaz mereça muito mais do que aquilo que, dentro das minhas humildes forças eu possa realizar e fazer por ele. O Goytacaz tem méritos, porque um padrinho não pode ajudar um afilhado se esse afilhado não tiver méritos e as condições necessárias para que possa ser ajudado. Portanto, eu acho que devemos capitalizar todo esse êxito, todo esse sucesso e comemorar o ingresso do Goytacaz, nesta noite memorável de 20 de outubro de 1977, no Campeonato Nacional de Clubes. Devemos creditar tudo isso à força e à pujança do Goytacaz, ao idealismo e ao dinamismo de seus homens, seus dirigentes, aos quais homenageio simbolizando no nome da pessoa do ilustre Presidente Rafael Martins. E enfim, a essa maravilhosa torcida que faz do Goytacaz um clube extremamente querido não só em Campos mas também em todo o Rio de Janeiro e até em muitos rincões do Brasil. Portanto, é uma festa de todos nós. Eu me sinto honrado, me sinto realizado por estar aqui participando desta festa, da inauguração dos refletores do Estádio Ari de Oliveira e Souza, sobretudo do ingresso tão almejado e tão justo do Goytacaz no maior certame de futebol do mundo. Por tudo isso, muito agradecido ao Goytacaz e parabéns ao Goytacaz.
José Carlos Maciel, presidente do Conselho Deliberativo, dizia, em rápidas palavras, que "nesta data se guarda para sempre a lembrança de que se solidifica, neste momento, o esporte campista com a inclusão do Goytacaz no Campeonato Brasileiro. Destaque para uma cidade do interior, como poucas que até hoje têm mais de um clube participando deste certame de tanta envergadura. E que o nosso clube possa honrar a confiança que lhe foi depositada pelo Presidente da Confederação Brasileira de Desportos, Almirante Heleno Nunes; pelo nosso querido amigo Otávio Pinto Guimarães; pelo nosso amigo particular Eduardo Augusto Viana da Silva; pelo nosso irmão Danilo Assad Knifis; por todos aqueles que, enfim, notadamente a imprensa e o rádio campistas, muito batalharam para que o nosso clube também participasse desse campeonato. A todos aqueles que de qualquer forma colaboraram para que nós pudéssemos chegar a esta noite, os agradecimentos do Conselho e da Diretoria do Goytacaz".
Sob o título "Goytacaz, a vitória da teimosia", o jornal O Globo, edição de 27 de novembro de 1977, publicava matéria assinada por Celso Cordeiro Filho, na qual se lia: "Sem dinheiro, formado por ex-juvenis que ganham, em média, Cr$ 5 mil mensais, mas que acreditam no seu futuro, o Goytacaz foi a grande surpresa - com o Confiança - da primeira fase do Campeonato Brasileiro. Perdeu um jogo só, para o Brasília, no último minuto, e seus jogadores - cinco vieram do Atlético Mineiro e dois do futebol do Espírito Santo - são os heróis da cidade de Campos".

A BOLA ROLA EM CAMPOS

Campos, no Norte do Estado do Rio de Janeiro, tem o privilégio de se situar entre as poucas cidades que, mesmo enfrentando mil obstáculos, conseguiu arregimentar a força de vontade de sua gente, que lutou, apaixonou-se pela causa e acabou, pelos próprios méritos, se vendo projetada no cenário esportivo nacional, com a inclusão do Americano e do Goytacaz nos campeonatos promovidos pela Confederação Brasileira de Futebol e Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. Mas, de há muito, Campos já era conhecida esportivamente, por ser um dos maiores celeiros do futebol brasileiro, a ponto de gerar, entre uma penca espetacularmente grande de renomados craques, Didi e Amarildo, mais tarde campeões do mundo.
A história desse futebol vem de longe. Data da chegada da primeira bola, o que aconteceu no início do século, segundo depoimento de Renê, filho mais velho do teatrólogo, musicista, jornalista e desportista Múcio da Paixão, numa carta ao seu irmão Hugo, na qual citava que "todo aquele que se dedicar à história do futebol de Campos, deverá buscar suas origens num circo de cavalinhos que nos visitou, por volta de 1907, cujos artistas traziam uma bola de couro toda costurada, com a qual iam se divertir nos capinzais da Praça da República, sem chuteiras e sem uniformes. Dentre eles se destacava o palhaço-músico Alcebíades Pereira, cuja valsa Colúmbia tocava em surdina no picadeiro e deixava muitas vovós suspirando".
Vale a pena transcrever mais um trecho dessa carta que Hugo de Campos Soares, mano de Renê, ex-jogador, inclusive do Botafogo, mais tarde jornalista e advogado, guardava com muito carinho:
"Adolfo Ozon, cunhado de Alcebíades Pereira, de uma famosa dinastia de bairristas circenses, era outro moço de compleição atlética que fazia parte do grupo de artistas que provocava a curiosidade na sociedade de então, com os primeiros vagidos da arte da pelota. Piolim, o famoso clown que até alguns anos atrás residia em São Paulo, era um pequeno de apenas cinco anos de idade, e que tomava parte nas pantomimas, notadamente na guerra de Canudos, mas porque não dispunha de físico para participar das brincadeiras dos mais velhos, acabava sendo um assistente do jogo que se introduzia aqui. Também Mesquitinha, ator famoso, participava dessas peladas".
A falta de registro, por parte da imprensa, em relação à chegada da primeira bola em Campos, deve ser levada em conta por vários motivos, todos respeitabilíssimos, por sinal. Um deles, e muito importante, o de que a prática do jornalismo no início do século não era tão intensa quanto à dos dias atuais. Outro, o de que o município de Campos, para que os de fora façam uma idéia do seu tamanho, é quatro vezes maior do que a área ocupada pela cidade do Rio de Janeiro. Para completar, naquele tempo as distâncias se tornavam maiores pela falta de grandes estradas e até mesmo de meios de transportes. Por tudo isso se tornou polêmica a data da chegada da primeira bola, logo ela, responsável direta pela introdução do futebol na planície goitacá.
Sobre o assunto, o jornal A Cidade, alguns anos atrás, publicava:
"John John Duncan, engenheiro-mecânico da Leopoldina Railway, na década de 1900, foi quem trouxe para Campos a primeira bola, após uma das suas costumeiras viagens à Inglaterra, de onde era originário".
Muito antes, por ocasião do jubileu de ouro do futebol campista, o pesquisador Nilo Terra Arêas escrevia:
"Coube ao Dr. Leopoldo Ferreira, chefe dos telégrafos, a tarefa de trazer para Campos, a pedido do filho, Mário Ferreira, uma bola comprada em Santa Catarina, onde trabalhara".
No dia 4 de abril de 1952, Urbano Suppa, craque do passado, declarava ao jornal Folha do Povo:
"Quando vim para Campos, com 19 anos de idade, a fim de trabalhar como técnico em ourivesaria, trouxe de São Paulo a primeira bola que o campista viu".
Certo é, e isso ninguém discute, que a bola, um dia e já bem distante, chegou a Campos. Também não há dúvida: com a bola rolando na planície, não foi difícil aparecer o que seria o primeiro time, mais tarde clube, por fim outros, os jogos e os campeonatos, já aí organizados pela Liga local, que também acabou sendo criada em 1913.
Pena, no entanto, que o noticiário daquele tempo não tenha sido mais completo, para que se tornasse, de fato, no repositório fiel, sem contestações, da história esportiva do lugar. O emprego do inglês para determinar normas de jogo e posições dos jogadores, e a falta de maiores conhecimentos técnicos da parte daqueles jornalistas, devem ter dificultado um pouco os que, com pequenas notas, quase sempre nas primeiras páginas dos jornais, informavam sobre o movimento ao qual se entregavam heroicamente os rapazes da mais alta sociedade. Foi a falta de conhecimento, a surpresa diante do novo esporte que já mexia com a mocidade da época, que levou um jornalista a escrever estas linhas:
"Encerrado o match, os rapazes, muito alegres, invadiram o bonde no final da linha de tal maneira que o burro não teve forças para dar a partida. É preciso que o senhor delegado, em tais dias, coloque um policial nesse meio de transporte para que sejam evitadas cenas como as que nos foram dadas a presenciar".
O resultado do jogo não foi publicado.
Nilo Terra Arêas, certa manhã, na porta do Monte Líbano, contou que os primeiros grupos de jogadores que se formaram em Campos foram os constituídos de amigos de Mário Ferreira. E a bola, na época, rolava na área onde hoje está o Colégio Batista Fluminense. Disse também, com a certeza dos que pesquisaram e até viajaram por este Brasil enorme à cata de informações, que John John Duncan, um inglês que fez fortuna como fornecedor de dormentes para a estrada de ferro, reunia os rapazes em uma chácara que possuía na Rua Gil de Góis, entregava a bola para que os mesmos jogassem e, depois, dava comida e ainda cigarros para todos. John John Duncan colocou, em sua chácara, chuveiros - antigamente chamavam-se banhos de chuva - para que os praticantes do novo esporte tomassem banhos e, limpos, participassem das refeições que lhes eram servidas. Já Urbano Suppa, em 1952, contou que a primeira bola que trouxe para Campos foi logo presa pelo delegado, Tenente Osório, que mandou os rapazes se comporem, isto é, vestirem suas roupas, e depois tomarem o rumo de suas casas. Múcio da Paixão, intercedendo junto ao policial, conseguiu a bola de volta e ainda a permissão daquela autoridade para que os moços pudessem desenvolver a prática do novo esporte.
Os mais velhos nem sempre se recordam das datas, detalhes importantíssimos para que a história seja contada sem erros. Luiz Grain, nascido em 1896, falou de muita coisa bonita de uma época romântica do futebol campista, mas não citou nomes nem anos. Jorge Muniz, fundador do Campos, só sabia que o primeiro jogo do seu clube foi no Queimado, para onde os rapazes foram levados pelo Wanderley Barreto, "depois de uma farofada muito adiante da caixa-d'água". Urbano Suppa, na tal entrevista à Folha do Povo, garantiu que o Aliança foi o primeiro clube de Campos, enquanto Hugo de Campos Soares, em depoimento mais recente, disse que o primeiro foi o Internacional, fundado em agosto de 1912, mesmo mês e ano em que surgiu o Goytacaz. A 15 de junho de 1913, contrariando Suppa, a Folha do Comércio publicava:
"Mais um club de foot-ball acaba de ser organisado nesta cidade. É o Aliança Foot-Ball Club, cuja directoria ficou assim organisada: Presidente, Octavio Cezar de Mattos; vice, Nelson de Menezes Povoa; 1º secretario, Mucio da Paixão; 2º secretario, Teodulo Almirante Povoa; tesoureiro, João Seixas; captain, Urbano Suppa".
Aqui não é respeitado o rigor determinado pela ordem cronológica dos fatos. Eles são encaixados ao sabor das anotações extraídas de uma pesquisa que se prolongou por muitos anos, da conquista de tantos depoimentos que, reunidos, transformaram-se, como não poderia deixar de ser, em subsídios capazes de provar a existência incrivelmente longa do futebol campista, tão grande no seu passado como maravilhosamente importante nos dias atuais e cheios de esperança num futuro para o qual vem se preparando de há muito.
Relatar a vida dos clubes que deixaram de existir, e foram tantos, não é fácil. Agora, importante é lembrar que a 23 de abril de 1910, portanto dois anos antes do surgimento do Goytacaz, que é o mais velho dos que aí estão, a imprensa anunciou a existência do Athletic Campista Foot-Ball Club, deixando, com isso, a impressão, bastante favorável, de que esse teria sido o primeiro clube da cidade.
Esta panorâmica da história do futebol de Campos serve para que os mais novos, tão ligados apenas ao Goytacaz e Americano, apercebam-se de que estes dois grandes clubes, hoje destaques no cenário esportivo nacional, germinaram em solo fértil, do qual fazem parte Campos, Rio Branco, Paraíso, Cambaíba, Sapucaia e aqueles da fase embrionária que foram a base e até mesmo o alicerce desses dois clubes do interior do Estado do Rio de Janeiro.
Dessa história faz parte o Internacional, responsável até mesmo pela fundação da Liga local. Ele foi fundado alguns dias antes do Goytacaz (a Folha do Comércio de 20 de agosto de 1913, no entanto, anunciava que o seu primeiro aniversário seria comemorado dia 24) e se originou, segundo os mais velhos, de um grupo de caixeiros-viajantes que, ao chegar a Campos, hospedava-se no Hotel Internacional, na Rua Lacerda Sobrinho. Esse clube teve uma atividade intensa, como o Aliança, o da Fábrica de Tecidos, o Lacerda Sobrinho, o Quinze de Novembro, o Luso-Brasileiro, que não existem mais. Depois, com o correr dos anos, apareceram o Paladino, o Atlético, o América, o Itatiaia, o Fla-Flu, o Leopoldina, o Industrial, o Futurista, o São João, de Petrônio Freitas Leite e Altamir Bárbara, o São José, primeiro campeão da divisão profissional, o Aliança, este da Usina do Queimado, que chegou a ser tricampeão, pelo qual Lelé, o grande Lelé jogou, e o Municipal, do médico Édson Coelho dos Santos, que teve a audácia de promover, numa época difícil, alguns dos mais arrojados amistosos com clubes do Rio de Janeiro.
Em novembro de 1912, um sábado e dia de finados, a Folha do Comércio publicava a seguinte matéria, aqui transcrita inclusive com a grafia da época:
"Fundados ha bem pouco tempo em nossa cidade os clubs de foot-ball, graças á iniciativa de uma destemida rapaziada da nossa melhor sociedade, já no próximo domingo teremos o primeiro match entre o Internacional Foot-Ball Club e o Goytacaz Foot-Ball Club.
Ha para esse primeiro match o mais vivo enthusiasmo entre os associados dessas duas noveis associações sportivas.
O match terá início ás 8 horas da manhã de domingo na sede do Internacional Foot-Ball Club, á rua Formosa esquina de Riachuelo.
Esteve hontem em nossa redação uma comissão composta dos Srs. Edmundo Bastos, Guilherme Fritsch Duncan e Daniel Sanz, pertencente ao Internacional, para nos convidar para essa festa sportiva.
Em nosso paiz ha mesmo necessidade que se desenvolvam as associações desse genero para que se não repitam as vergonhosas derrotas que os foot-ballers argentinos tem infligido aos brasileiros".
No dia 6 de novembro de 1912, uma quarta-feira, o mesmo jornal, em sua primeira página, escrevia:
"Effectuou-se domingo ultimo o match entre o Internacional Foot-Ball Club e o Goytacaz Foot-Ball Club. Foi esse o primeiro encontro das sympathicas sociedades, tendo logar a partida no ground do Internacional, á rua Tenente-Coronel Cardoso canto da rua Riachuelo.
Os teams foram assim compostos:
Internacional - Goal-keeper, Edmundo; full-backs, Samuel e Henrique; half-backs, Geminio, Seixas e Aristides; forwards, Copland, Britto, Suppa, Duncan e Carlos.
Goytacaz - Goal-keeper, Caramuru; full-backs, Doge e Estevam; half-backs, Jorge, José e Alvaro; fowards, Heitor, João, Didu, Otto e Ruda.
O primeiro half-time esgotou-se sem que nenhuma das duas equipes marcasse um goal, e no segundo Britto fez a bola resvalar dentro do goal. Afinal, o bravo foot-baller Samuel Hockins conseguiu marcar para o seu partido o primeiro goal.
O jogo começou quase ás 9 horas da manhã, reinando grande animação entre os rapazes dos dois clubs.
O foot-ball está, pois, iniciado em nossa terra.
O Internacional e o Goytacaz apresentaram-se galhardamente, promettendo dentro em pouco offerecer aos campistas interessantes espectaculos, tão queridos do inglezes".
Do que poucos tomaram conhecimento foi que, em 1911, o Athletic Campista Foot-Ball Club comemorou, dia 23 de abril, seu primeiro aniversário, tendo sido fundado, portanto, em 1910. Dele nenhum jornal falou mais, pelo menos de 1912 para cá, mas a Folha do Comércio, em sua edição de 23 de abril de 1911, anunciava, com o título "Foot-Ball", o seguinte:
"Esse gênero de esporte, atualmente em voga em todos os centros civilizados, pela circunstância de reunir o útil ao agradável, está sendo muito cultivado em Campos, datando de muitos meses a sua instituição, que aliás tem passado algum tanto despercebida.
Vêm essas linhas a propósito de um encontro a realizar-se hoje, na Praça Azevedo Cruz, às 3 horas da tarde, entre o Athletic Campista Foot-Ball Club e o Brasil Foot-Ball Club. A festa, que será abrilhantada pela aplaudida Lira Guarani, é comemorativa do primeiro aniversário desse clube, cuja diretoria, por intermédio do seu 1º secretário, Plínio Aguiar, teve a gentileza, que agradecemos, de dirigir-nos um convite por meio de ofício, em que nos participa que a referida festa é dedicada à nossa imprensa e à Lira Guarani.
Os campeões das duas sociedades estão discriminados na seguinte ordem:
Athletic Campista Foot-Ball Club - Moncler de Almeida; Plínio Aguiar e Walfredo Freitas; Nicolau Velasco, Amadeu Braz e Atanagildo Freitas; Deodoro Camargo, Lauro Freitas, Jorge d'Oliveira, Alcides Grain e Adelino Laranjeiras.
Brazil Foot-Ball Club - Lazaro d'Oliveira; Deoclécio Ferreira e Vicente Queiroz; Augusto Antônio da Silva, Edemar Borges e Antenor Peixoto de Oliveira; Dionísio Terra, Manoel Mendes, Carlos da Silva, Reclino Gomes e Joaquim Lopes do Nascimento".
No mesmo ano de 1911 o jornal Folha do Comércio, dia 31 de janeiro, anunciava que, em assembléia realizada dois dias antes, os destinos do Rio Branco Futebol Clube, haviam sido entregues à seguinte diretoria: Presidente, Adail Cerqueira; vice, Renan Reis; secretário, Teódulo A. Porto; orador, Jayme Landin; tesoureiro, Cid Siqueira; fiscal, Mário Manhães.
A 27 de maio do mesmo ano esse jornal escrevia que os sócios do Rio Branco Futebol Clube fariam exercícios dia 28, domingo, às 8 horas da manhã, na chácara do Pensionato Silva Tavares, onde havia sido instalada a sede dessa agremiação.
Cabe aqui, ainda, alguns trechos das matérias publicadas no jornal Folha do Comércio, uma delas a 21 de janeiro de 1913 e que dizia o seguinte:
"Conforme noticiamos, o Internacional FC, após uma temporada de impertinentes chuvas que já há muito tempo emprazava a realização de sua festa inaugural, pôde enfim levá-la a efeito anteontem com o concurso dos clubes Goytacaz e Quinze de Novembro.
O programa era composto de dois matchs, sendo o primeiro disputado pelo 1º team do Quinze de Novembro e o 2º team do Internacional, e o segundo, pelo 1º team do Goytacaz e 1º team do Internacional.
Seria precisamente 3 horas da tarde quando, presentes muitas famílias, cavalheiros, a Sociedade Musical Operários Campistas e o representante da Folha, teve começo o 1º match, que era composto de pessoal ainda fraco e que não podia absolutamente mostrar a importância deste jogo pouco conhecido entre nós. Entretanto, houve shoots bastante interessantes, sendo que um deles, aplicado em um momento de felicidade pelo foward Torres, do Quinze de Novembro, valeu-lhe um goal contra o Internacional. Esse match teve dois tempos de 30 minutos e foi vencido por 1 contra 0 pelo Quinze de Novembro.
Às 3 e 15 teve começo o 2º match, havendo uma pequena modificação no team do Internacional, ficando o full-back Henrique, que adoecera, substituído por José; o half-back Seixas por Zeminis, e o goal-keeper Pollay por Seixas. Essa modificação não causou vantagem absolutamente alguma ao clube.
O team do Goytacaz obedeceu a escalagem do programa.
Esse match foi disputado com toda a pujança, pois nele tomou parte o melhor elemento de ambos os clubes, e no primeiro tempo do jogo, 45', pôde o Internacional, com insana dificuldade, marcar 2 goals contra o adversário. Esses goals foram devidos à agilidade do valente foward Suppa.
Após 10 minutos de descanso teve começo o 2º tempo do match que cada vez mais renhido se tornava, provocando assim os mais calorosos aplausos da assistência. Nesse segundo tempo, que teve a duração igual à do primeiro, o Internacional conseguiu fazer mais 4 goals contra o Goytacaz: 2 feitos com admirável perícia pelo foward Britto e 2 por Samuel que, como perfeito jogador que é, conseguiu dar dois shoots excelentes, sendo que um deles, feito de peito, valeu-lhe estrondosa salva de palmas.
Venceu, pois, o Internacional, fazendo 6 goals contra 0, mas, isso custou-lhe bastante, tal foi a resistência oferecida por Deodoro, Caramuru, Jorge e Estevam, fowards e full-back do Goytacaz.
A directoria, assim como muitos sócios do Internacional, foram muito felicitados pela vitória que acabou de alcançar em sua festa inaugural.
Lembramos ao Internacional a necessidade de, a moda das sociedades congêneres no Rio, ser feita além da linha de off-side na distância de 2 metros, uma cerca que evite o acúmulo de assistentes sobre a mesma linha, pois é isso um grande inconveniente visto que priva o livre curso da bola.
Também faz-se mister que os foot-ballers na ocasião de dar o shoot na bola, deem a change no adversário como manda a regra e não como fazem, isto é, metendo abrutalhadamente as mãos nos contrários, atirando-os ao solo, contundindo-os, muitas vezes.
É preciso que alguns foot-ballers, quando se acharem no campo, lembrem-se de que estão no meio de uma sociedade culta e que o seu mister é atender ao jogo e não travar-se de razões com os assistentes e descompô-los, como fez um dos half-backs do 1º team do Goytacaz".
Na tal matéria da Folha do Comércio, os horários para os primeiro e segundo jogos, não estão certos, pois se a preliminar foi iniciada "precisamente às 3 horas" e dela fizeram parte dois tempos de 30 minutos, o jogo de fundo não poderia começar às 3 e 15.
Na edição de 19 de janeiro de 1913, um domingo, o dia da tal festa inaugural do Internacional, o mesmo jornal divulgava as escalações dos quatro times para os dois jogos que acabaram sendo realizados. E a tal festa inaugural, pelo que se depreende, foi relativa ao campo de jogo, pois o Internacional fora fundado um ano antes. Quanto aos times anunciados, foram estes:
1º team do Quinze de Novembro - Goal-keeper, Peralva; full-backs, Reginaldo e Mário; half-backs, Renato, Armando e Durval; fowards, Heitor, Alfredo, Torres, Oliveira e Sanete.
2º team do Internacional - Goal-keeper, Zezé; full-backs, Flávio e Zimenio; half-backs, Franco, Duncan e Mauro; fowards, Alfredinho, Daniel, Burgon, Dirceu e Benjamim.
1º team do Goytacaz - Goal-keeper, Artur; full-backs, Estevam e Diogenes; half-backs, Polibio, Virgilio e Siqueira; fowards, Rudá, Otto, Caramuru, Deodoro e Jorge.
1º team do Internacional - Goal-keeper, Pollay; full-backs, Henrique e Aristides; half-backs, Cordeiro, Raul e Seixas; fowards, Copeland, Suppa, Samuel, Britto e Porto.
Ainda a Folha do Comércio de 29 de abril de 1913 publicava:
"Realizou-se anteontem, às 4 horas da tarde, no ground do Internacional FC, a rua 13 de Maio, no Beco, o encontro dos clubes de foot-ball Democrata e Rio Branco, os quais sob a aposta do desaparecimento da sociedade que fosse vencida e reversão dos bens sociais à subsistente, travaram-se em renhido match.
A luta foi incessante entre ambos os clubes, mas nessa half-time nenhum deles logrou fazer um único goal que fosse, o que, entretanto, não impediu que fizessem a nossa apreciação quanto à resistência do clube que seria o vencedor.
Esse, a nosso ver, seria o Rio Branco se tivesse havido mais um pouco de interesse no pessoal do team, pois os full-backs e half-backs, achavam-se apegados às suas colocações, não se incomodando a prestar o mínimo auxílio ao centro que, com toda a pujança, se batia contra o adversário.
Observando também a parcialidade do juiz desse match, que chegou a privar o Rio Branco de chutar um penalty que lhe cabia, como é de regra, por haver um dos full-backs do Democrata posto a mão na bola dentro da linha do penalty.
Mesmo assim os Democratas rasparam uma boa meia dúzia de sustos, aumentando muitas vezes pelo abandono em que se achavam as linhas de defesa, dos extremas.
Às 5 e meia da tarde, deu-se fim ao match, tendo havido, como já dissemos, empate entre ambos os teams".
Agora, duro de se entender, mesmo porque o Americano, oficialmente, é de junho de 1914, é a nota que se segue, publicada na quarta-feira 14 de maio de 1913, pela Folha do Comércio:
"Teve lugar no último domingo, às 9 horas da manhã, na Praça Azevedo Cruz, o match em que tomaram parte os 1º e 2º teams dos clubes Americano e Quinze de Novembro.
Como fosse a primeira vez que esses teams jogaram, o match não foi mais que um exercício. Entretanto, excluindo-se alguns enxertos que haviam no team do Quinze de Novembro, podemos notar que no restante dos grupos há rapazes bastante ágeis e que poderão ser para o futuro bons foot-ballers. É porém preciso que os captains de ambos os clubes não se descuidem nos treinamentos. O Quinze de Novembro conseguiu marcar 2 goals contra o Americano".
No mesmo domingo 11 de maio de 1913, no campo do Internacional, Democrata e Rio Branco jogaram outra vez e voltaram a empatar, desta feita de 2 a 2. Esses dois clubes se enfrentaram pela terceira vez no dia 18 de maio e o Rio Branco levou a melhor por 3 a 0.
"No ground do Internacional, verificou-se domingo, como noticiamos, o encontro dos primeiros teams dos dois clubes, Campos e Rio Branco, os quais ás 3 e 45 entraram no field acompanhados do referido referee, Lincoln. Após a sorte, que decidiu a colocação ao sul, ao Rio Branco, colocou-se toda a equipe.
Ás 3 e 50, deu-se sahida á bola, começando então o primeiro half-time. A luta começou renhida de parte a parte, demonstrando assim a excellente travagem dos dois teams.
Ás 4 e 5, Heitor que trocara a sua collocação com Edgardo, recebendo a bola por passe de Ernesto, poude com dificuldade insana varar o goal. Este feito do sympathico sportman valeu-lhe muitas palmas. Começava então o score do dia para o Rio Branco.
Dada a sahida, a bola collocou-se um pouco na extrema direita desse club, mas voltando rapidamente a esquerda Jorge passou-a a Carivaldino que, de um shoot, fel-a transpor o goal. Eram 4 e 10.
Feita nova sahida houve uma interessante serie de passes entre Euclides, Angelo e Heitor, localizando-se a bola um pouco nessa extrema. Vindo ao centro, Ernesto shootou-a em goal, mas Portillo poude recual-a em tempo.
Venceu-se o primeiro half-time, eram 4 e 35.
Ás 4 e 40 recomeçava o jogo no segundo half-time, que, como no primeiro, esteve sempre bom, sendo os foots-ballers alvos das mais significativas manifestações da assistência.
As extremas eram de uma resistencia muito aparelhada, notando-se nos teams boa ordem, mas reparamos que Portillo não conhece bem as responsabilidades do goal, assim como Carvalho desloca-se muito e... fala demais.
Não obstante isso, o jogo seguiu sem embaraços até que ás 5 e 8 Amaro varou o goal, marcando ao Campos o 2º ponto. Ás 5 e 25 findou-se o match, cujo resultado: Campos 2, Rio Branco 1".
O período amadorista do futebol campista, iniciado oficialmente em 1914 e encerrado em 1951, contou com a disputa de campeonatos em todos os anos menos em 16, por causa de uma epidemia, e 27, porque a Liga esteve acéfala. Esses campeonatos foram iniciados mas não terminaram, conforme informações obtidas junto aos jornais do lugar. Sobre o campeonato de 1914, o primeiro de tantos, a Folha do Comércio de 15 de maio daquele ano escrevia:
"Esteve ante-hontem reunido o Conselho Director da LCF, que ouviu a leitura e approvou a tabella official do Campeonato Campista de Foot-Ball a ser disputado no corrente anno, tabella essa organizada pela commissão nomeada na sessão anterior, e composta dos Srs. Múcio da Paixão, Sylvio Fontoura e Wanderley Barreto.
Foi relator dessa commissão o Sr. Múcio da Paixão, que adoptou o critério da sorte para os clubs que deviam de dar início ao Campeonato.
Por proposta do delegado do Aliança FC, resolveu o Conselho Director adoptar, até ser organizado o da Liga, o regulamento da LNSA, elaborado para reger o campeonato do Rio de Janeiro.
Eis a tabella official organizada para os matchs do Campeonato:
1º turno - Maio, 17, Campos versus Goytacaz; 24, Quinze de Novembro versus Internacional; 24, Lacerda Sobrinho versus Campos; 31, Goytacaz versus Quinze de Novembro; junho, 7, Internacional versus Aliança".
Desgraçadamente, a tal tabela programava, ainda para 7 de junho, os jogos do Lacerda Sobrinho x Internacional e Quinze de Novembro x Aliança, o que não deve ter acontecido, porque Aliança e Internacional seriam adversários no primeiro dos três jogos programados para o mesmo dia. Outro detalhe importante: a Folha do Comércio e o Monitor Campista não mencionaram nada sobre esses jogos, a não ser o do dia 17 de maio, data de abertura do Campeonato, e que foi vencido pelo Campos por 2 a 1, sobre o Goytacaz. Gibi e Goiaba fizeram os gols do Campos e Jorge o do Goytacaz, que fez 1 a 0 no primeiro tempo.
A tabela inicial do Campeonato, portanto, não foi cumprida. Dela faziam parte: Campos, Goytacaz, Quinze de Novembro, Internacional, Lacerda Sobrinho e Aliança, o da Fábrica de Tecidos e não aquele que, em 1936, 37 e 38, conquistou o tricampeonato. Já da segunda e, ao que parece, a que vingou, fizeram parte Aliança, Internacional, Americano, Rio Branco, Goytacaz, Quinze de Novembro, Lacerda Sobrinho e Campos.
A Folha do Comércio de 4 de setembro de 1914 anunciava que a dualidade de ligas acabara e que, por isso, voltaram à Liga Campista de Futebol, Internacional, Campos, Rio Branco e Aliança. O noticiário se conflita ao apresentar os resultados e na identificação (se oficiais ou amistosos) dos jogos, falhando, ainda, clamorosamente, no final de tudo, quando anunciou uma decisão extra entre Campos e Goytacaz, que chegaram empatados nos primeiros e segundo times. Só em janeiro de 1915 foi que o noticiário deu conta de alguma coisa, quando divulgou os resultados de dois amistosos entre o campeão, o Goytacaz e o Americano e um escrete da Liga, para os quais o clube da Rua do Gás perdeu, respectivamente, de 4 x 0 e 3 x 1.
Para o saudoso Augusto Machado Viana Faria, fundador do Luso-Brasileiro e, a seguir, um dos mais devotados dirigentes do Goytacaz, a tal decisão extra entre o seu novo clube e o Campos acabou se realizando. Durante o tempo normal de jogo se verificou o empate de 1 x 1 e, na segunda prorrogação, o Goytacaz venceu por 1 x 0.
O Monitor Campista do dia 29 de dezembro de 1914 publicava que "na vitrine da Casa Clark acha-se exposta a riquissima taça de prata que os agentes gerais da Cia. Cervejaria Antartica, Sra. Gonçalves, Zenha & Cia., oferecem ao campeão dos segundos times dos clubes filiados à Liga Campista de Futebol. No corrente ano, o detentor dessa taça é o segundo time do Goytacaz FC".
Esse primeiros meses, já aí oficiais, do futebol campista, foram bem difíceis, como provam outras informações colhidas nos jornais locais. Serviram, no entanto, para enraizar, como em outro centros, o novo esporte, a ponto de o Monitor Campista, em sua edição de 2 de maio de 1915, divulgar o início do novo campeonato, o que acabou acontecendo. Depois, vieram os demais.