segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O CAMPOS JÁ FOI DE BOLA

Jorge Muniz, fundador do Campos e morador do bairro da Lapa, na época em que foi ouvido de pouca coisa se recordava sobre a fundação do seu clube, com sede na Avenida Alberto Torres, Parque Leopoldina. Lembrava, saudoso, apenas que Wanderlei Barreto, "outro mulato muito entendido, que sempre se vestiu muito bem, quando se referia ao roxinho o chamava de Campos Athletic Association, em inglês mesmo", e dizia, com os olhos perdidos na imensidão dos tempos, que tudo começou numa festa social na casa de outro moço de cor, Ângelo de Carvalho. Para ele foi o Wanderlei Barreto o que mais fez pelo clube naquela época muito dura e difícil.
Segundo Jorge Muniz, o primeiro jogo do Campos foi no Queimado, não recordando qual o adversário nem o resultado, mas citando, entre o ar sério e um sorriso maroto, o seguinte:
- Antes, por conta do Wanderlei Barreto, isto tenho certeza, todo o mundo participou de uma farofada na Coroa. Depois, de barriga cheia, o pessoal se dirigiu para o Queimado, onde o Campos jogou, todo mundo de camisa, calção e chuteira, igualzinho aos outros clubes que já existiam por aqui.
O Campos foi fundado a 26 de outubro de 1912, mas de sua fundação os jornais da época não tomaram conhecimento, o que provocou em Jorge Muniz o desabafo de que "também, éramos clube de gente de cor". Foram seus fundadores, Ângelo de Carvalho, Wanderlei Barreto, Jorge Muniz, Laurentino Nunes, Jorge Muniz Filho, Fernando Alberto Muri, Francisco Augusto de Carvalho, Hernando Augusto de Carvalho, Vitor Arezo, Onísio Silva, Carivaldino Carvalho, Alvino Silva, Floriano Peixoto, Rotchild de Castro e Lincoln Silva. Tão logo surgiu a idéia da fundação do clube, Wanderlei Barreto viajou ao Rio, onde adquiriu material esportivo. Na volta ele mesmo foi eleito presidente e a ele foi entregue a responsabilidade de treinador. O primeiro time do Campos conto com Porfírio; Carivaldino e Niquinho; Fidélis, Salvador e Bangu; Goiaba, Papai, Amaro Rolinha, Gibi e Euclides.
Como todo o clube, o Campos tem sua história e dela faz parte, por exemplo, o aluguel de uma área atrás da caixa d'água, onde já existia o campo do Lacerda Sobrinho, para treinos e jogos. Em 1927, ao acompanhar o Americano que se retirou do campeonato por causa de Malvino, inscrito pelo Goytacaz, Edmundo Chagas, então dirigente roxinho, participou de um diálogo dos mais interessantes com Domingos Guimarães, do Goytacaz: "Então, moço, o Campos definiu-se?" - perguntou maliciosamente o representante alvi-anil, ao que Edmundo respondeu, inteligentemente, com um "é verdade. O clube dos pretos gosta das coisas claras".
Pelo Campos passaram alguns dos melhores jogadores daqui, entre os quais Rebolo, que chegou a jogar pelo América e Bonsucesso, Hélvio, que foi para o Fluminense e, a seguir, para o Santos, tendo jogado na Seleção Brasileira também. Ovilson, que jogou pelo Canto do Rio, mesmo clube que apanhou Ananias e Ipojucan. Ipojucan acabou defendendo a camisa do América, mais tarde.
Os mais antigos contam que o desenho do escudo e a cor roxa - o Campos é tricolor: roxo, preto e branco - foram obras de Wanderlei Barreto. Dizem também que a atual praça de esportes foi cedida pela Câmara Municipal, na qual a administração Alseu Teixeira introduziu alguns melhoramentos, dotando-a de melhores vestiários e um bar. O estádio, que tem o nome de Ângelo de Carvalho, ganhou iluminação quando Rockfeler de Lima se encontrava à frente da Prefeitura. Foi obra também do então deputado Altamir Bárbara e na noite em que o Campos inaugurou seus refletores muitos dirigentes e torcedores roxinhos, visivelmente emocionados, choraram diante da luz acesa com o movimento de uma chave acionada por Ivan Bezerra, do DARME, e Rockfeler de Lima.
Dirigiram o Campos, em tantos anos de vida, além de Wanderlei Barreto, que foi o primeiro presidente, Edmundo Chagas, Jorge Muniz, Luís Carlos de Oliveira, Jorge da Paz Almeida, Jovino Gomes Lima, Mílton Marques, Anísio Silva, Rodoval Bastos Tavares, Dario Canela, Antelviro Francisco de Oliveira, Francisco Leal Arêas, Petrônio Freitas Leite, presidente que, num ano, promoveu dois caríssimos amistosos, trazendo até aqui os times do Palmeiras e Vasco da Gama. No jogo contra o onze paulista o Campos contou com o zagueiro Brito e o meio-campista Afonsinho, conhecidos em todo o país. Alseu Teixeira de Oliveira foi o presidente campeão da cidade, em 1976, título que o Campos não conquistava desde 1956. Depois dele, a presidência foi ocupada por Marcos Antônio Freitas Leite, que deu uma quadra e uma piscina ao Estádio Ângelo de Carvalho. A partir da gestão de José Maria Alves Pereira, o Campos abandonou o futebol, deixando o campo para peladas de associados e passando a viver, esportivamente, da natação, modalidade que já lhe valeu muitos feitos. Para completar, o Campos, além dos títulos de 1956, e 1976, foi campeão da cidade nos anos de 1918, 1924 e 1932, junto com o Goytacaz.

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